Vale diz que não é responsável pela tragédia e que foi só “um caso fortuito”

Bombeiros se esforçam no trabalho de resgate das vítimas. Foto: Antônio Lacerda - EFE

A Vale do Rio Doce afirmou que “não vê responsabilidade” sua na tragédia de Brumadinho (MG) e atribuiu a catástrofe a um “caso fortuito”. A mineradora, através dos seus advogados, diz que sua diretoria não vai pedir afastamento.

“A Vale não vê responsabilidade. Nem por dolo, que é infração intencional da lei, nem por culpa, que é a infração da lei por imperícia, imprudência ou negligência. Ela atribui o acontecido a um caso fortuito que ela está apurando ainda”, disse Sérgio Bermudes, defensor da empresa.

“A renúncia [da diretoria] não ajudaria a companhia, perturbaria a continuidade das medidas que ela, do modo mais louvável, está tomando”, declarou o advogado, acrescentando que “não houve negligência, imprudência, imperícia”.

Se não é ela a responsável pela tragédia, a Vale deve considerar que os culpados são os 279 desaparecidos e 65 mortos, até agora, entre funcionários e pessoas da comunidade.

Essa linha debochada da empresa tem tudo a ver com as declarações do diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, dadas no fim de semana. Pelo que ele declarou, a tragédia aconteceu por culpa dos especialistas. “Existia uma série de ações em andamento, que não foram invenção da Vale, foram feitas por especialistas internacionais de renome, e nós seguimos à risca tudo. E eu não sou técnico. Segui toda a orientação dos técnicos, e esse negócio deu no que deu. Quer dizer, não funcionou”, disse Schvartsman.

Como se a mineradora tivesse muita preocupação com a segurança, afirmou que agora é necessário “criar um colchão de segurança bastante superior” ao que a Vale supostamente tem hoje “para garantir que nunca mais aconteça um negócio desse”. Disse ainda que é preciso ir “ir além e acima” do que ela diz que já faz, como se a Vale não fosse reincidente.

Esse mesmo Schvartsman, ao tomar posse como presidente da Vale, em 22 de maio de 2017, disse o seguinte: “Mariana nunca mais”. E depois garantiu que “se houvesse outro acidente como o de Mariana, minha gestão seria curta”.

Brumadinho não é como Mariana, já é pior.

Em 2015 aconteceu o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, de responsabilidade da Samarco, empresa da Vale e da BHP Billiton, matando 19 pessoas e inundando de lama o Rio Doce.

A repercussão das declarações de Bermudes foi muito negativa, forçando a diretoria da Vale a emitir nota desautorizando-as em seguida. Porém, é claro que o advogado não falaria essas coisas se não fossem a posição da mineradora.

Na nota, a Vale apenas desautoriza o advogado e simplesmente diz que está contribuindo com as investigações. Mas em nenhum momento assume suas responsabilidades ou desmente o que Bermudes falou.

As declarações da mineradora vieram logo após a procuradora-geral da República Raquel Dodge pedir punição “severa” para a Vale.

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