“Acabou essa história de que o Estado tem que ser mínimo. O Estado tem que ser o necessário para garantir o desenvolvimento do país”, disse o presidente na reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI)
Em um vibrante discurso na 17ª reunião do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), nesta quinta-feira (6), o presidente Lula criticou a financeirização do país e garantiu que o governo vai garantir que o BNDES tenha os recursos necessários para garantir a reindustrialização do país.
“Acabou essa história de que o Estado tem que ser mínimo. O Estado tem que ser o necessário para garantir o desenvolvimento do país”, disse Lula. “O Brasil precisa dos dois, do Estado e da iniciativa privada, para se desenvolver”, acrescentou o presidente. “Quando tivemos a crise de 2008, foi o Estado que salvou, quando tivemos a pandemia , foi o Estado que garantiu que não fosse pior ainda do que já foi. De repente apareceram 5 trilhões de dólares nos Estados Unidos, a Europa, mais 700 bilhões de euros”, argumentou.
“Precisamos fazer uma nova revolução industrial e está em nossa mãos fazer isso”. destacou Lula. “Da parte do governo nós vamos criar as condições”, garantiu. O Mercadante vai parar de reclamar porque nós vamos ter que colocar dinheiro no BNDES. O ministro Haddad sabe que nós temos que aportar recursos para o BNDES funcionar. E esse dinheiro tem que circular.
Assista o discurso de Lula no CNDI
Presidente Lula na reunião de relançamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial https://t.co/zKRs3dCUxx
— Lula (@LulaOficial) July 6, 2023
“Muito dinheiro na mão de poucos, significa miséria, fome, prostituição, que é o que nós vemos nos países pobres. Agora pouco dinheiro na mão de muitos, significa menos pobreza, significa mais poder de consumo, significa melhorar a vida da sociedade, que é o que nós precisamos fazer”, disse Lula.
“Com essas medidas que nós já tomamos até agora, o dinheiro está circulando. Se o dinheiro chegar lá embaixo, ele não vai ser aplicado na bolsa, não vão comprar dólar. Não, ele vai voltar para o comércio, ganhando o comércio, a indústria, ganha o emprego, ganha todo mundo”, destacou o líder brasileiro.
“O Banco do Brasil tem que voltar a oferecer crédito barato para que as pessoas possam produzir, a Caixa Econômica a mesma coisa. O BNB não empresta dinheiro para prefeituras e estados porque alguém decidiu que não empresta”, denunciou o presidente.
“Se o estado tem capacidade de endividamento e as prefeituras também, por que não emprestar? Por que o Estado faz o papel de bandido?” “Por que se tomou quase R$ 600 bilhões de volta do BNDES que, ao invés de investir, devolveu para o Tesouro, para o Tesouro fazer o que?”, indagou Lula. O que foi feito com todo o dinheiro que deixou de ser investido nesse país? Nós temos três anos e meio. O Alckmin e eu não temos tempo a perder. Eu não voltei para fazer o mesmo que eu já fiz. Nós voltamos para fazer as coisas diferentes”, prosseguiu o presidente.
“Por que se tomou quase R$ 600 bilhões de volta do BNDES que, ao invés de investir, devolveu para o Tesouro, para o Tesouro fazer o que?”, indagou Lula. O que foi feito com todo o dinheiro que deixou de ser investido nesse país?
“E fazer a revolução industrial nesse país, para sermos competitivos de verdade, a hora é agora’, afirmou Lula. “Vamos ter que investir na indústria de gás. Precisa parar com essa discussão que o país não pode ter gás. Pode ter gás. O país pode ter o que ele quiser, é só ele querer. O Brasil pode voltar a ter a indústria que ele quiser. Basta que a gente tome a decisão. Qual é o tipo de indústria que nós queremos? Nós queremos uma indústria de papel de qualidade ou queremos só produzir papel e celulose para expotação?”, indagou.
“Da parte do governo, ninguém vai poder se queixar que o governo está atrapalhando. Se for votada a reforma tributária hoje, será a primeira vez que foi feita uma reforma tributária num governo democrático. Estamos negociando com todo mundo”, lembrou Lula, afirmando que as reformas tributárias só foram feitas em regimes autoritários.
“Vamos para de reclamar e começar a fazer as coisas”, apontou o presidente. “Eu digo todo dia, a única coisa impossível é Deus pecar. O resto a gente pode tudo”, prosseguiu. “E esse país pode muito”, destacou. “Dentro da transição energética, por exemplo, nenhum país do mundo tem sequer condições de falar grosso com a gente”, salientou Lula. “Não adianta vir Alemanha querer dar palpite na energia da energia limpa do Brasil, nem França, não. Eles não sabem. Nós temos mais o que eles naquilo que eles quiserem e temos muito mais oportunidade do que eles”, acrescentou o presidente.
“Nós temos que fazer as ferrovias que nós temos que fazer, as rodovias que nós temos que fazer, os navios que nós temos que fazer. Esse país tem que voltar a decidir ser grande. Temos que acabar com a bobagem da discussão se o Estado tem que ser grande ou pequeno. O Estado tem que ter capacidade de dirigir e induzir o crescimento econômico do país. E nós temos que formar profissionais mais qualificados se a gente quiser voltar a ser um país verdadeiramente industrializado”, apontou Lula.
“Nós temos que fazer as ferrovias que nós temos que fazer, as rodovias que nós temos que fazer, os navios que nós temos que fazer. Esse país tem que voltar a decidir ser grande”
“O Brasil não tem contencioso com ninguém e nós temos que tirar proveito disso. O Brasil gosta de todo mundo e todo mundo gosta do Brasil. É por isso que eu não quero me meter na guerra da Ucrânia e da Rússia. A minha guerra é aqui, é contra a fome, contra o desemprego é contra a desindustrialização. Por que eu vou me preocupar com a briga deles, eu vou me preocupar com a minha briga”, assinalou o presidente Lula.
Criado em 2004, o Conselho estava sem funcionar havia sete anos e volta com a missão de construir uma nova política industrial para o Brasil, de caráter inovador, sustentável e inclusivo socialmente.
O Brasil vem enfrentando um processo de desindustrialização precoce, onde a estrutura produtiva passou a ser cada vez mais voltada para setores primários, com encadeamentos menos robustos entre os elos das cadeias produtivas. Enquanto isso, as exportações passaram a ser concentrar em produtos de baixa complexidade tecnológica.
A retomada das políticas industriais, de inovação e de fomento de inserção internacional qualificada mais competitiva passa pela superação do atraso produtivo e tecnológico. Este é o desafio que o CNDI se propõe a resolver. Entre os princípios da nova política industrial estão ainda inclusão socioeconômica; capacitação profissional e melhoria da renda; redução das desigualdades regionais; e sustentabilidade.
Fazem parte do CNDI 20 ministros, além do presidente do BNDES e 21 conselheiros representantes da sociedade civil, entre entidades industriais e representantes de trabalhadores. O colegiado é vinculado à Presidência da República e presidido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Ao longo dos próximos meses, o CNDI se debruçará sobre as missões da política industrial, derivadas de grandes problemas sociais e de desenvolvimento do país — entre eles a segurança alimentar e nutricional; a prevenção e o tratamento de doenças; infraestrutura, moradia, saneamento e mobilidade sustentáveis; soberania e defesa nacionais; empresas competitivas em tecnologias digitais em segmentos estratégicos; e descarbonização da indústria e ampliação de cadeias associadas a transição energética e à bioeconomia.
Missões do CNDI — São seis as missões derivadas de grandes problemas sociais e de desenvolvimento do país, estabelecidos no programa de governo do presidente Lula, e que servirão como norte dos trabalhos do CNDI:
1) Promoção de cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais para a segurança alimentar e nutricional
2) Complexo econômico industrial da saúde resiliente para reduzir as vulnerabilidades do SUS e ampliar o acesso à saúde
3) Infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis para a integração produtiva e o bem-estar nas cidades
4) Transformação digital da indústria para ampliar a produtividade
5) Bioeconomia, descarbonização e transição e segurança energéticas para garantir os recursos para as futuras gerações
6) Tecnologias de interesse para a soberania e a defesa nacionais
O CNDI tem composição paritária de entes governamentais e de representantes da sociedade civil. São 20 ministros, além do presidente do BNDES, e 21 conselheiros representantes da sociedade civil.
Pelo governo, são os seguintes órgãos: MDIC, que o preside; Casa Civil, Secretaria Geral da Presidência, Ciência, Tecnologia e Inovação, Fazenda, Relações Exteriores, Planejamento e Orçamento, Integração e Desenvolvimento Regional, Meio Ambiente e Mudança do Clima, Minas e Energia, Agricultura e Pecuária, Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Trabalho e Emprego, Transportes, Saúde, MEC, Defesa, Portos e Aeroportos, Comunicações, Gestão e Inovação em Serviços Públicos além do BNDES.
Além disso, são 21 conselheiros representantes da sociedade civil, compostos por entidades industriais e representantes de trabalhadores.
São elas: Associação Brasileira da Indústria de Alimentos – Abia; Associação Brasileira da Indústria Química – Abiquim; Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – Anfavea; Grupo FarmaBrasil; Associação Brasileira da Indústria do Plástico – Abiplast; Câmara Brasileira da Indústria da Construção – CBIC; Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base – Abdib; Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica – Abinee; Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial – IEDI; Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores – Abisemi; Associação de Empresas de Desenvolvimento Tecnológico Nacional e Inovação – P&D Brasil; Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos – Abimaq; Embraer S.A.; Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais – Brasscom; União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia – Unica; Central Única dos Trabalhadores – CUT; Força Sindical; União Geral dos Trabalhadores – UGT; Confederação Nacional da Indústria – CNI; Instituto Brasileiro de Mineração – Ibram; e Instituto Aço Brasil.
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