A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI do Golpe do dia 8 de janeiro, afirmou que a investigação e os depoimentos vão começar focando na formação e financiamento do movimento golpista. Depois, pode convocar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, contou que vai começar pegando “o recorte do dia 31 [de outubro] ao dia 8 [de janeiro] para fazer uma investigação em torno disso”.
“O dia 8, para ocorrer, você teve dias anteriores. Qual era o ponto principal que estava sendo debatido? Era a questão da não aceitação do resultado eleitoral”, apontou.
Jair Bolsonaro e seus aliados falavam, sem conseguir apresentar nenhuma prova, que as eleições presidenciais foram fraudadas em favor de Lula. Nos bloqueios nas estradas e nos acampamentos em frente aos quartéis do Exército, os bolsonaristas pediam um golpe de Estado por conta da suposta fraude.
A senadora Eliziane citou a depredação da sede da Polícia Federal, no dia 12 de dezembro, quando houve a diplomação de Lula e Alckmin, e a tentativa de explosão de um caminhão-tanque, no dia 24 de dezembro, no aeroporto de Brasília.
Os ataques do dia 12 de dezembro “foram atos terríveis. Queima de ônibus e coisa parecida. E o dia 24, que foi uma tentativa de explosão. Em torno disso você tem uma série de situações”.
Além da organização e execução desses atos, “a gente vai focar no financiamento, que é um ponto muito importante”, disse.
A relatora falou que vai pedir o compartilhamento de informações com a CPI que corre na Câmara Legislativa do Distrito Federal e com os inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF).
JAIR BOLSONARO E ALIADOS
Segundo Eliziane Gama, “é absolutamente possível” que o ex-presidente Jair Bolsonaro seja convocado para prestar depoimento, mas isso depende de como vai correr a investigação. Já foi apresentado um requerimento para que ele seja convidado.
“Há possibilidade de ele vir. Isso é um fato. De novo, pode ser também que não venha. Nós temos 180 dias. Então eu acho que, nesses dois primeiros meses, é importante tomar pé da situação. Se tiver que fazer uma ação mais ostensiva, sim. Se tiver que chamá-lo, nós vamos chamar. Até porque é absolutamente possível disso acontecer, né?”, falou a senadora.
Ela já confirmou que o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, “será ouvido”.
No dia da tentativa de golpe, Anderson Torres era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, mas tinha abandonado o cargo viajando para os Estados Unidos.
“É um nome que também será ouvido. Até pela função dele. Naturalmente será ouvido. Até acredito que será logo. É um nome que será ouvido com toda certeza”.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, que foi afastado do cargo no dia 8 de janeiro pela falta de resposta da Segurança do DF para o atentado terrorista, também poderá ser ouvido.
No caso dos militares, Eliziane Gama fez questão de enfatizar que os possíveis investigados e depoentes não responderão pelas Forças Armadas, mas por suas condutas individuais.
“Quando fala de militar, você tem que ter um certo entendimento de que, até pela harmonia geral, você tem que ter muito equilíbrio nessas questões. Mas isso não inviabiliza, por exemplo, se alguém cometeu algum tipo de erro ou de ilegalidade, você chamar. De jeito nenhum. Até porque, se eu chamo um militar, não estou querendo dizer que o Exército todo é corrupto, que o Exército todo planejou”, afirmou a relatora da CPMI do Golpe.
“Esse militar que planejou eventualmente ou financiou ou pensou intelectualmente pode ser retirado para ser ouvido. Pode ter certeza disso. Não significa que sejam as Forças Armadas brasileiras”, completou.
Eliziane falou que se algum militar fez “um complô” ou “um conluio” para ajudar os golpistas, “alguém tem que ser responsabilizado”.
GOVERNO LULA
A oposição ao governo está tentando usar a CPMI para tirar o foco dos invasores e dos incitadores, querendo que membros do governo Lula sejam investigados por omissão. Para isso, criam narrativas contra, por exemplo, o ministro da Justiça, Flávio Dino.
Eliziane Gama reforçou que o governo Lula estava apenas em seu oitavo dia.
Mas caso haja “alguém que deveria ter agido dentro da estrutura do governo atual e não agiu, ele tem que ser responsabilizado. Agora, dizer hoje que isso é real, eu não posso dizer. Até porque eu não tenho elementos que me subsidiem [nesse sentido]”.