“E vocês voltarão a ter um ninho para cuidar da família”, completou o presidente em visita ao litoral norte de São Paulo, castigado pelas fortes chuvas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu nesta segunda-feira (20) a união e ação conjunta entre governos federal, estadual e municipal para o enfrentamento dos desastres provocados pelas fortes chuvas no Litoral Norte de São Paulo.
Ele deu entrevista ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB).
“Posso garantir que meus ministros, governador, estarão dispostos a conversar para que a gente compartilhe, para que a gente faça uma parceria para recuperar efetivamente, de verdade, o estrago que a chuva fez aqui em São Sebastião”, disse Lula.
Lula garantiu esforços para reconstruir casas para os desabrigados vítimas das fortes chuvas que castigam o litoral norte paulista e têm provocado mortes na região.
Pelo menos 36 pessoas morreram após temporais na região – 35 vítimas em São Sebastião e uma em Ubatuba. O governo de São Paulo informou que há mais de 970 desalojados e 747 desabrigados.
Lula falou em construir casas, em “terrenos seguros”, para as famílias desabrigadas.
Ele afirmou que será preciso preparar as despesas que serão necessárias para a reconstrução das áreas afetadas da cidade. “Essa conta tem que ser apresentada para o governo federal, para o governo estadual e para o próprio prefeito”, disse o presidente.
“Você, [prefeito Felipe Augusto], só tem que arrumar um terreno mais seguro para que a gente possa [dizer] pras pessoas: ‘Vocês vão voltar a ter o ninho de vocês para cuidar da família de vocês'”, declarou Lula.
Antes, o presidente sobrevoou áreas atingidas pelas tempestades deste fim de semana.
Equipes de resgate seguem as buscas por soterrados em São Sebastião. Ao menos, 40 pessoas estão desaparecidas. Lula pediu orações pelas vítimas e para que as chuvas diminuam na região. “Eu acho que uma boa reza com muita fé sempre ajuda a gente conquistar aquilo que a gente quer”, declarou.
Na entrevista, o presidente chamou a atenção para a reunião entre políticos de partidos diferentes sentarem-se à mesa para enfrentar a tragédia.
“Eu queria mostrar pra vocês uma cena que vocês não viam no Brasil: um governador, um presidente e um prefeito, sentados na mesa, em função de uma coisa comum que atinge a todos nós”, disse.
Lula criticou o governo anterior por deixar a Defesa Civil sem recursos para enfrentar os desastres. “Acho que aos poucos o Brasil vai se aprimorando e a Defesa Civil passa a ser uma coisa extremamente importante. E nós tivemos sorte porque a PEC que foi aprovada, nós colocamos dinheiro para a Defesa Civil, que não tinha. Então agora, o Waldez não pode dizer que não tinha dinheiro para ajudar São Sebastião e tentar com que a cidade, que nunca vai esquecer o que aconteceu, possa voltar a ser uma cidade bonita do nosso país”, disse.
Lula estava desde a última sexta-feira (17) no litoral da Bahia, onde passava o feriado de Carnaval.
Ele cancelou seu recesso para vir a São Paulo se solidarizar com as vítimas e tomar providências para ajudar a enfrentar a tragédia.
A comitiva de Lula é composta de 13 ministros, incluindo Waldez Góes (Integração e do Desenvolvimento Regional), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência da República), Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), Jader Filho (Cidades), Renan Filho (Transportes), Márcio França (Portos e Aeroportos) e Ana Moser (Esporte). A ministra do Planejamento, Simone Tebet, ficou ilhada em Guarujá por causa da interdição Rio-Santos e não conseguiu chegar em São Sebastião.
“O governo do estado decretou situação de calamidade pública para que pudesse fazer imediatamente a primeira liberação de recursos para fazer frente às primeiras despesas. Liberamos ontem 7 milhões de reais para os municípios, deslocamos para cá equipamentos e efetivo de maneira que a gente constituísse uma grande operação”, explicou o governador Tarcísio de Freitas à imprensa.
“Bairros ainda se encontram isolados e o foco neste momento sob o comando do presidente Lula e do governador Tarcísio é buscar ainda vidas. Ainda que seja um clichê, onde há esperança há vida. Todos os homens mobilizados neste momento para buscar vidas dentre os escombros”, afirmou o prefeito de São Sebastião.
O governo federal já anunciou o envio de agentes da Defesa Civil Nacional para ajudar na assistência das vítimas e no apoio às áreas afetadas.
Também foi decretada a situação de calamidade na cidade de São Sebastião, medida que facilita o envio de verbas e suporte federais para o local.
O ministros dos Portos e Aeroportos, Márcio França, informou no domingo (19) que vai liberar R$ 2 milhões para ações em cidade atingidas por temporais em São Paulo. Os recursos, segundo o ministro, sairão da Autoridade Portuária de Santos, a administradora do Porto de Santos, uma estatal federal.
Ele também disse que empresas do setor portuário doaram 30 toneladas de mantimentos, como água potável, alimentos e produtos de limpeza para as famílias que vivem nas regiões atingidas pelas tempestades.
Os itens serão transportados do Porto de Santos para São Sebastião em um navio da Marinha, informou o ministro.
O Ministério da Saúde informou nesta segunda-feira que serão enviados à região três kits de medicamentos, que podem atender cerca de 4,5 mil pessoas por um mês.
Cada kit, de acordo com a pasta, contém 25 tipos de medicamentos e 13 insumos, que podem ser utilizados em situações de emergência.
O Exército enviou aeronaves para ajudar nos trabalhos. A operação de buscas em São Sebastião e Ubatuba envolve mais de 100 bombeiros.
Em vários pontos do litoral paulista houve registros de falta de água, luz e sinal de celular.
CONTRASTE
A visita de Lula no litoral paulista contrasta fortemente com a atitude de descaso de Bolsonaro quando estava no governo.
Enquanto Lula interrompeu imediatamente sua folga de Carnaval na Bahia para visitar as áreas atingidas pelas chuvas no litoral norte de São Paulo e se reunir com autoridades, Bolsonaro não fez o mesmo e preferiu passear de jet ski em Santa Catarina a visitar a tragédia causada pelas chuvas na Bahia no final de 2021, como lembra o colunista do UOL, Leonardo Sakamoto.
Fortes chuvas atingiram o Sul da Bahia e o Norte de Minas Gerais no início de dezembro de 2021. Bolsonaro priorizou outras atividades e com a repercussão negativa sobrevoou a região depois a região. Usou a tragédia para atacar as medidas de quarentena contra a Covid.
Na sua visita, equipes de imprensa foram agredidas por seus seguranças diante de seus olhos em Itamaraju (BA) sem que ele fizesse nada para impedir. Uma repórter foi agredida por seguranças e apoiadores.
No dia 23 de dezembro, 25 pessoas foram mortas vítimas das chuvas naquela região. Ele despachou ministros que seriam candidatos nas eleições do ano seguinte e manteve suas férias. No dia 28, foi fotografado passeando de jet ski em São Francisco do Sul (SC). No dia 30, foi ao Beto Carrero World fazer drifting em carros de corrida.