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Durante o ano, o conjunto de setores desacelerando ou em estabilidade (em relação a sua média histórica) se mantém dominante na indústria de transformação, que encerrou o ano com queda de 1,0%, destaca a entidade. Produção de bens de capital recuou 11,1%
A produção da indústria brasileira encerrou 2023 variando 0,2% em relação a 2022, quando registrou queda de -0,7%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta sexta-feira (2).
De acordo com o instituto de pesquisa, com o resultado de 2023, o setor interrompe a sequência de resultados de variações nulas nos índices acumulados nos últimos 12 meses findos em novembro (0,0%), outubro (0,0%) e setembro (0,0%) de 2023. Mas, parada, “um cenário de fraqueza”, como destacou a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
O resultado de 2023 da indústria geral foi puxado pelo comportamento do setor extrativo, que registrou alta de 7,0% no ano passado. Já a indústria de transformação, que é responsável por cerca de 85% da indústria brasileira, caiu -1,0% frente a 2022, quando recuou -0,4%.
“A indústria extrativa e de transformação performaram em direções opostas, e a combinação dos resultados praticamente se anulou no acumulado do ano para a indústria geral. Por um lado, a indústria extrativa mineral apresentou um ritmo 3 de crescimento mais forte e fechou o ano com avanço de 7,0%. O setor foi puxado por um aumento na produção de petróleo de 12,6%. Também contribuiu para o resultado uma dinâmica mais favorável no setor de mineração. As exportações do setor, que absorvem a maior parte da produção nacional, aumentaram 13,7% [Quantum de exportação do setor de extração de minerais metálicos] no ano. Por outro lado, o fôlego da indústria de transformação tem sido curto. O setor encerrou 2023 com queda de 1,0%. Durante o ano, o conjunto de setores desacelerando ou em estabilidade (em relação a sua média histórica) se mantém dominante na indústria de transformação”, avaliou a Fiesp na nota intitulada “Com cenário de fraqueza antecipado pela Fiesp, produção industrial aumenta 0,2% em 2023”.
Por categoria, a produção de bens de capital, ou a produção de bens para produção de outros bens, desabou em 2023, ao recuar 11,1% em comparação com o ano de 2022. Com destaque para a indústria de máquinas e equipamentos – setor-chave para o processo de reindustrialização e desenvolvimento econômico do país -, que apresentou uma queda de -7,2% em relação ao ano anterior.
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A categoria de bens intermediários ficou estagnada, ao variar em alta de 0,4%, na base de comparação. Já a de Bens de Consumo, ficou em alta de 1,9% – com o crescimento de 1,2% na produção de bens duráveis e de 2,1% em bens semi e não duráveis.
No ano passado, 16 dos 25 ramos industriais e 50 dos 80 pesquisados apresentaram recuos em suas produções – na sua maioria, segmentos que são sensíveis ao custo do crédito, que seguiu alto em 2023, por conta da taxa de juros da economia (Selic) do BC acima dos dois dígitos.
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Como assinalou o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), “no centro do marasmo que marca 2023 estão as atividades mais negativamente impactadas pelo elevado nível de taxas de juros que ainda persiste no país. Por isso, a continuidade e talvez a mesmo a aceleração da fase atual de baixa da taxa Selic pelo Banco Central é tão importante”.
No ano passado, mesmo com os indicadores de inflação em queda, o Banco Central manteve a taxa de juros da economia (Selic) em 13,75% até agosto, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) sob pressão da sociedade, deu início à redução dos juros.
De agosto até dezembro, o Copom realizou quatro cortes de 0,50 ponto porcentual na Selic, que encerrou o ano de 2023, em 11,75%, mantendo os juros reais (descontada a inflação) os mais altos do mundo, arrochando a produção, os investimentos e o consumo das famílias.
Na quarta (31/1), o BC reduziu novamente a Selic em apenas meio ponto percentual, sinalizando que seguirá cortando a conta-gotas, mantendo o juro real nas alturas em 2024.
Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, a decisão do Copom é “injustificável” e cobrou “maior agressividade” na redução dos juros “para reduzir de forma significativa o custo financeiro suportado por empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e consumidores”. “O nível absurdo da taxa de juros real tem custado muito caro para a atividade econômica do país”, declarou.
Em dezembro do ano passado, a produção industrial nacional variou 1,1% frente a novembro e, em relação a dezembro de 2022, cresceu 1,0%, sendo um resultado que vem após quatro meses de crescimento próximo de zero nesta base de comparação: novembro (0,7%), outubro (0,2%), setembro (0,2%) e agosto (0,4%).