O ex-ministro Antonio Palocci, que ocupou as pastas da Fazenda e Casa Civil nos governos Lula e Dilma, afirmou em depoimento à Justiça Federal que presenciou, em várias oportunidades, o petista fazendo solicitações à sua sucessora para que beneficiasse empresas no governo federal.
“Acompanhei diversas vezes o presidente Lula fazendo inúmeros pedidos à presidente Dilma em relação a interesses de empresas, de parceiros dele. O presidente Lula várias vezes fez pedidos em relação a benefícios para a Odebrecht. A presidente Dilma realmente atendia”, declarou o ex-operador e ex-homem de confiança de Lula.
Palocci foi ouvido na segunda-feira (18) pelo juiz Vallisney de Souza, da 10ª Vara Federal de Brasília, no âmbito da ação penal da Operação Zelotes – que investiga irregularidades na compra de caças suecos pelo governo e na edição da Medida Provisória 627, que concedeu incentivos fiscais a montadoras de veículos.
O ex-ministro reiterou o que havia dito em outro depoimento, em dezembro, que o ex-presidente acertou com um lobista do setor automobilístico, Mauro Marcondes Machado, o pagamento de R$ 2,5 milhões ao seu filho caçula, Luís Cláudio Lula da Silva, em troca de viabilizar a prorrogação dos incentivos fiscais.
Segundo Palocci, Lula intercedeu junto a Dilma e o ex-ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) para que não vetassem a alteração feita pelo Congresso. Ele contou que o próprio Lula lhe informou que sua atuação resultaria no repasse de valores por parte de uma empresa de Mauro Marcondes – que representava a Caoa (Hyundai) e a MMC Automotores (Mitsubishi) – para seu filho.
“Que tenho mais referência foi uma reunião ocorrida em maio de 2014. Luís Cláudio me procurou na minha consultoria e disse que naquele ano de 2014 ele já estava com o projeto do futebol americano fechado e que faltava cerca de R$ 2,5 milhões. E me perguntou se eu poderia ajudar”, disse Palocci.
Após esse encontro, contou que se reuniu com Lula para perguntar se deveria atuar em favor do pedido. “[Lula] Me contou que não precisava mais, porque através da MP 627 ele havia negociado os recursos suficientes que o Luís Cláudio precisava”, afirmou.
Palocci acrescentou no depoimento à Justiça Federal que essa MP é um exemplo dos esquemas de corrupção no Brasil. Ele a classificou como uma “árvore de Natal de ilícitos” e disse que o texto “já é um inquérito em si, de tanta coisa que foi enxertada e de tanta propina que foi gerada”.
“Em vários depoimentos, foi tratado da metodologia para obtenção de propinas através de MPs. A MP 627 é conhecida no meio político, empresarial e no meio de investigação como a campeã das propinas, porque reuniu um número absolutamente desproporcional de contrabandos [emendas sem vínculo com o objeto central da matéria] no projeto original”, observou.
O ex-ministro reafirmou o que dissera em depoimento anterior sobre o acerto de propinas na compra de helicópteros e para a construção de submarinos nucleares numa reunião com o então presidente francês Nicolas Sarkozy, em 2009. Palocci revelou que o encontro se deu em 7 de setembro daquele ano, numa visita de Sarkozy ao Brasil, e varou a madrugada.
“Naquela oportunidade, quando foi feito um acordo do conjunto da compra, ali se tratou de ilícitos, sim, que se consubstanciaram em pagamento de propinas no projeto do submarino, no projeto dos helicópteros”, contou Palocci. O ex-ministro relatou que o dinheiro das propinas foi usado para financiar campanhas do PT.
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