Vassalos europeus da Otan atiçam histeria dos drones para açular guerra à Rússia

Nebenzia, representante da Rússia na ONU, denuncia operações de bandeira trocada com drones para acusar Mocou (Suzana Weiss/AFP)

“Um ataque de ansiedade coletiva: a psicologia dos avistamentos inexplicáveis de drones em toda a Europa” relatou The Guardian, enquanto vassalos da Otan e mídia promovem pânico sobre “aparições nos céus”

Em meio às escalofobéticas declarações de líderes europeus sobre uma guerra “iminente” com a Rússia – ou em até “cinco anos”-, aparições de drones nos céus do velho continente e o maior rearmamento em quatro décadas, o jornal britânico The Guardian abordou no domingo (5) o palpitante tema de “um ataque de ansiedade coletiva: a psicologia dos avistamentos inexplicáveis de drones em toda a Europa”.

Até entrevistou um cidadão norueguês que avistou um drone piscando na semana passada, entre sua garagem e a casa, que fica perto de uma base militar.

“Ficamos parados por dois minutos e olhamos e vimos as luzes vermelhas. Eu podia ver que era um drone muito grande”, disse Vegard Rabban, que no dia seguinte leu sobre as incursões de drones nos aeroportos noruegueses.

“Alguém está nos observando e tentando ver como reagimos aos drones”, ele opinou, apesar de dizer acreditar que “estamos longe da guerra que está acontecendo”.

Os avistamentos já tiveram “algum efeito psicológico nos noruegueses”, ele acrescentou, mas dizendo temer que possa “piorar rapidamente”. “À medida que mais pessoas veem os drones, mais pessoas perguntam o que está acontecendo.”

Com os governos, a mídia e os blogueiros só falando nos drones, está todo mundo de olho no alto e as aparições, sem surpresa, se multiplicam.

A coisa escalou com o “ataque com 19 drones russos” badalado pelo governo polonês há um mês, que disse ter abatido três, e culpou os russos, naturalmente. Moscou rechaçou e, na ONU, seu embaixador Vassily Nebenzia contestou, apontando que, tendo um alcance máximo de 700 Km, drones russos não poderiam ter ido parar na Polônia desde a linha de contato no Donbass. E, portanto, ou eram drones ucranianos desgarrados ou uma provocação tentando causar um choque direto entre a Otan e a Rússia.

Segundo o serviço secreto russo, tratou-se de uma operação de bandeira trocada perpetrada pelo regime de Kiev, usando drones recondicionados.

Mais tarde, o governo polonês teve de admitir que um local, supostamente atingido, não o fora por um drone, mas por um míssil polonês. Aliás, a Polônia chegou a clamar pelo artigo 4 da Otan – o da consulta aos demais países por motivo de segurança.

Atiçadas as chamas, os drones não saem do noticiário nem das declarações oficiais e entre as proposições da assim chamada “liderança europeia” sobre a espinhosa questão está a criação de um “muro de drones”, para não deixar drone nenhum entrar na Europa. Antes da febre de drones, a mídia e certos governos já haviam chegado ao ponto de aconselhar kits de sobrevivência aos cidadãos, entre outras manipulações.

DECLARAÇÕES DELIRANTES

Em paralelo, surgiram outras declarações europeias delirantes, como a de que os russos teriam sabotado o avião que transportava a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que se dirigia à Romênia, bloqueando o GPS da aeronave. A própria Romênia desmentiu tudo. A Letonia disse que seu espaço aéreo teria sido violado por um caça russo, o que Moscou repeliu.

A propósito, a revoada de drones precedeu uma reunião de chefes de Estado da União Europeia, a Cúpula de Copenhagen, na qual, não escondiam, a Rússia estaria no cardápio – desde o envio de uma “coalizão dos dispostos” à Ucrânia em caso de um “cessar-fogo”, até à consumação final do roubo das reservas russas depositadas na Euroclear.

Então, na véspera, outra overdose de aparições de drones, com a premiê dinamarquesa, Mette Frederiksen, dirigindo-se à nação após o fechamento do aeroporto de Copenhague, encenando: “estamos no início de uma guerra híbrida contra a Europa”. (Trump que abocanhar a Groenlândia, mas a ameaça são “os russos”….).

As aparições cobrem uma área extensa: França, Bélgica, Alemanha, Noruega, Dinamarca, Romênia e os três estados bálticos. Passaram a ser pretexto para fechar aeroportos, como o de Munique, em que 17 voos foram cancelados e outros 15 foram desviados para outros aeroportos, afetando mais de três mil passageiros.

COMO A PAÚRA VICEJA

O próprio Guardian viu semelhança com episódios antigos da Guerra Fria, nos quais, no lugar dos drones, que não existiam, o que se avistava – ou imaginava avistar – eram óvnis e supostos submarinos russos, como ficou famosa no Báltico nos anos 1980 a caça aos russos desencadeada pelos suecos.

Era o efeito colateral da paúra desencadeada pelos maníacos de guerra ocidentais que, sob Reagan, quase causaram uma guerra nuclear no teatro europeu, situação só superada pelo assinatura do Tratado INF.

Ou, como disse ao Guardian o Dr. Robert Bartholomew, professor sênior do departamento de medicina psicológica da Universidade de Auckland, é preciso levar em consideração o contexto.

“Há nesta região uma longa história de sustos de OVNIs, onde se acreditava que o culpado era a Rússia ou a antiga União Soviética. Então você chega às décadas de 1970 e 80 e havia os relatórios da USO – objetos submersos não identificados que se pensava serem submarinos soviéticos.”

“No entanto, eles eram onipresentes e a grande maioria não poderia ter sido submarinos soviéticos – havia muitos relatórios; as pessoas os viam em todos os lugares.”

Os avistamentos de drones de 2025 não podem ser considerados uma invenção da imaginação de ninguém, mas Bartholomew assinalou que estavam sendo experimentados em meio a uma “tempestade perfeita de tensões geopolíticas alimentadas pela agressão russa e ansiedades sobre a imprevisibilidade do aliado de longa data da Otan, os Estados Unidos sob Donald Trump”.

“De repente, muitos países europeus como a Dinamarca estão se sentindo mais vulneráveis do que na memória recente”, disse ele.

“Dentro dessa atmosfera, o que estamos vendo é um ataque de ansiedade coletiva onde o céu se tornou um barômetro social dos tempos, impulsionado pela falibilidade da percepção humana e do medo. É quase outono e os dias estão ficando mais curtos, o que significa mais horas de escuridão que não devem ser subestimadas, pois contribuem para a ambiguidade … não pode ser bom para ninguém com transtorno de ansiedade.”

CRIANDO PÂNICO PARA JUSTIFICAR ASSALTO AO BEM ESTAR SOCIAL

Embora não se deva descartar esse aspecto analisado pelo Dr. Bartholomew, também é verdade que o seguido fechamento de aeroportos e o alarido sobre os drones serve, magnificamente, ao propósito de criar pânico entre a população e justificar que, em nome da “ameaça russa”, se subtraia recursos da saúde, educação e aposentadoria, dos salários e do investimento, para encher as burras dos fabricantes de armas, como estão propondo os estados vassalos europeus integrantes da Otan.

Friedrich Merz, ex-banqueiro da BlackRock, e atual premiê alemão, anunciou que irá fazer a Alemanha grande de novo [militarmente], com o maior exército europeu, acrescentando cinicamente que o país “não tem mais” como bancar o Estado de Bem Estar Social.

E, claro, vai pagar religiosamente o tributo de guerra exigido por Trump, nada menos de 5% PIB (mais do que o dobro do achaque anterior).

Assim, criar um clima de pânico faz sentido como um meio para justificar o injustificável: arrochar e empobrecer a população para rearmar a Alemanha, para enveredar pelo caminho da guerra novamente.

Concomitantemente, não é segredo para ninguém a oposição de Berlim, Paris e Londres a qualquer acordo que restaure a neutralidade da Ucrânia e, contra todas as evidências das linhas de frente, seguem exigindo a “vitória” de Kiev, a manutenção do regime neonazista no poder, ao qual foi levado pelo golpe da CIA em 2014, e uma “derrota estratégica da Rússia”.

A RÚSSIA NÃO MANDOU DRONES, AFIRMA PUTIN

À margem do Fórum Valdai, em Sochi, na semana passada, o presidente russo Vladimir Putin fez um comentário mordaz sobre a revoada de drones por meio da qual os vassalos da Otan buscam açular a guerra contra a Rússia.

“[A Rússia não mandou drones] Nem para França, Dinamarca, Copenhague… Para onde mais eles teriam voado? Para todo o lado… Para Lisboa… Mas agora falando sério, nem sequer temos drones que consigam chegar a Lisboa… Há até alguns de longo alcance, mas nós nem temos alvos por lá”, disse o presidente russo, que no Fórum entrou, em profundidade, sobre a fraude da “ameaça russa”.

Antes, ele enfatizara que já existe o mundo multilateral e policêntrico, no lugar do mundo unipolar sob os EUA, e que a era em que um pequeno grupo de nações decidia pelo mundo inteiro acabou.

Putin advertiu que, diante das rachaduras que surgiram no edifício europeu, ao invés de abordar eficazmente os problemas internos “os nossos vizinhos estão recriando um inimigo familiar, inventado há séculos: a Rússia.”

“A maioria das pessoas na Europa não consegue compreender por que há tanto medo da Rússia que, para enfrentá-la, é preciso apertar cada vez mais o cinto e esquecer seus próprios interesses, simplesmente entregá-los e adotar políticas que são claramente prejudiciais a si mesmas.”

ELITES FOMENTAM HISTERIA ANTIRRUSSA

“As elites governantes de uma Europa unida continuam a fomentar a histeria: a guerra com os russos está praticamente à porta. Elas repetem esse absurdo, esse mantra, repetidamente”, ressaltou Putin.

“Sinceramente, às vezes observo o que eles dizem e penso: bem, eles não podem acreditar no que estão dizendo — que a Rússia está planejando atacar a OTAN. É impossível de acreditar. E, no entanto, eles convencem seu próprio povo.”

“Então, que tipo de pessoas são essas? Ou são incrivelmente incompetentes se realmente acreditam nisso, porque é impossível acreditar em tal absurdo, ou são simplesmente desonestos, porque eles próprios não acreditam, mas estão tentando convencer seus cidadãos disso. Que outras opções existem?”

“Francamente, sinto-me tentado a dizer: acalme-se, durma em paz e, finalmente, resolva os seus próprios problemas. Veja o que está acontecendo com a economia, a indústria, a cultura e a identidade europeias, com as enormes dívidas e a crescente crise dos sistemas de segurança social, a migração descontrolada, o aumento da violência. Observe como a Europa está deslizando para a periferia da competição global.”

MONITORANDO A CRESCENTE MILITARIZAÇÃO DA EUROPA

“Estamos monitorando de perto a crescente militarização da Europa. Isso é só conversa fiada ou está na hora de tomarmos medidas de contenção? Ouvimos, e você sabe disso, a Alemanha, por exemplo, falando sobre como o exército alemão deveria voltar a ser o mais poderoso da Europa. Bem, estamos ouvindo com atenção, entendendo o que eles querem dizer”, sublinhou Putin.

“Nós mesmos nunca iniciamos um confronto militar. É insensato, desnecessário e simplesmente absurdo; desvia a atenção dos problemas e desafios reais. E, mais cedo ou mais tarde, as sociedades responsabilizarão seus líderes pelo fato de suas esperanças, aspirações e necessidades estarem sendo ignoradas por essas elites em seus países”, observou Putin.

“Mas se alguém tiver o desejo de competir conosco na esfera militar — como dizem, o livre-arbítrio — que tente. A Rússia já provou inúmeras vezes: quando há uma ameaça à nossa segurança, à paz e à tranquilidade dos nossos cidadãos, à nossa soberania e à nossa própria condição de Estado, respondemos rapidamente. Não há necessidade de provocar. Nunca houve um caso em que não terminasse mal para o provocador. Não há necessidade de esperar exceções aqui: não haverá nenhuma.”

“Que aqueles a quem atrapalhamos com nossa própria existência se lembrem disso. Aqueles que acalentam sonhos de nos infligir essa derrota estratégica. Aliás, aqueles que falaram ativamente sobre isso, como se diz, não estão mais entre nós, e estão bem longe. Onde estão essas figuras?”

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