
Conselheiro de Segurança Nacional Mike Waltz pego com a boca na botija. Mas a polêmica em Washington é outra: bombardear civis OK, ruim é vazar crime de guerra
Nos últimos dias, o vazamento da operação de bombardeio norte-americano ao Iêmen no dia 15 em que 31 pessoas foram mortas e inclusive um prédio residencial foi arrasado, gerou polêmica, não pelos crimes de guerra em si cometidos, mas pelo uso de um aplicativo de mensagens comercial, Signal, ao qual foi – inadvertidamente ou não – acrescido o editor da revista arquirreacionária The Atlantic, que acabou por divulgar os meandros da decisão da chacina, com os respectivos comentários online do conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, do chefe do Pentágono, Pete Hegseth, e até do vice-presidente, JD Vance.
De acordo com o que o editor-chefe da revista, Jeffrey Goldberg, reproduziu, como destacou o portal Common Dreams, o bate-papo online inclui uma “aparente ‘confissão’ de pelo menos um alegado crime de guerra”. Além de detalhar os planos para ataques a alvos Houthis no Iêmen usando F-18s e drones.
O conselheiro de Segurança Nacional Waltz “pareceu descrever casualmente um ataque a um alvo civil em Sanaa”, registrou o Common Dreams. Ele primeiro elogiou “o chefe do Pentágono Hegseth, o líder do Comando Central, General Michael Kurilla, e a comunidade de inteligência por um ‘trabalho incrível’, dizendo que um ‘prédio desabou’ depois que a inteligência dos EUA identificou um líder Houthi que era alvo de um ataque.”
“EXCELENTE”, DIZ VANCE
“Tivemos uma identificação positiva do primeiro alvo deles — o cara mais importante dos mísseis — entrando no prédio da namorada, que agora desabou”, escreveu Waltz, e o vice de Trump, Vance, comemorou: “Excelente”.
As mensagens que Goldberg divulgou ao público na segunda-feira foram enviadas em 14 e 15 de março, depois que ele recebeu uma solicitação de conexão de “Michael Waltz” por meio do aplicativo Signal em 11 de março.
A conversa foi sobre o ataque ordenado por Trump contra o Iêmen em 15 de março, após o Ansarullah voltar a bloquear os navios israelenses no Mar Vermelho para pressionar Netanyahu a voltar a respeitar o acordo de cessar-fogo em Gaza e parar de bloquear a entrada da ajuda humanitária. Durante todo o tempo em que Israel respeitou o cessar-fogo, assim também o fez o governo revolucionário iemenita.
Nesse bombardeio ao Iêmen, pelo menos 31 civis foram mortos e o gabinete de imprensa Houthi informou na época que os EUA haviam atacado um “bairro residencial” na capital, Sanaa.
Na quarta-feira, a jornalista e autora Kim Zetter disse que a mensagem de Waltz sugeria que altos funcionários do governo sabiam que as forças dos EUA tinham “atingido [um] prédio residencial”, apesar das alegações do presidente Donald Trump em contrário.
Dylan Williams, vice-presidente de assuntos governamentais do Centro de Política Internacional, afirmou que as mensagens contêm “evidências prima facie de pelo menos um crime de guerra aplaudido pelas pessoas que conspiraram para cometê-lo”.
Matt Duss, vice-presidente executivo da organização, lembrou do aviso da presidente da Fundação para a Paz no Oriente Médio, Lara Friedman, em setembro de 2024, sobre o apoio do governo Biden às “regras de guerra” de Israel em Gaza — onde “todo ser humano” foi definido “como um alvo militar legítimo — um terrorista, um apoiador ou simpatizante de terroristas”, ou um “’escudo humano’ … permitindo a aniquilação de um grande número de civis e a destruição de cidades inteiras”.
Duss disse na quarta-feira que “as regras de engajamento que permitem destruir um prédio civil inteiro para matar um suposto terrorista fazem parte do legado do [ex-presidente] Joe Biden”. “Mas ainda é um crime de guerra”, ele acrescentou, “e o texto de Waltz é uma confissão”.
Desde o dia 15, os bombardeiros norte-americanos já mataram 79 pessoas e feriram mais de 100. Segundo o entendimento do governo Trump, se opor ao genocídio perpetrado por Israel em Gaza usando as bombas fornecidas pelos EUA é “coisa de terrorista”. Gente horrorosa, que fica dificultando o empreendedorismo da Trump Gaza e sua “Riviera sobre Cadáveres” e atrasando o progresso que Trump, Musk e Netanyahu estão prontos a providenciar.
TRADIÇÃO BIPARTIDÁRIA
Como observou o colaborador da RT e historiador alemão, Tarik Cyril Amar, para a grande mídia e as mentes norte-americanas, não é o bombardeio em si que é escandaloso. Afinal, “bombardear um grande número de pessoas pardas essencialmente indefesas – homens, mulheres e crianças – em polpa sangrenta e empoeirada, tem sido uma tradição bipartidária da ‘Nação Indispensável’, especialmente se a maioria deles for muçulmana”.
O que é motivo de “debate” é que altos funcionários de Washington se fizeram de bobos por uma violação ridiculamente irresponsável das normas de segurança mais elementares. Ter essas reuniões no Signal, em vez de por meio de canais seguros bem estabelecidos e obrigatórios, é ridiculamente amador: o Signal pode ser criptografado, mas o spyware pode hackeá-lo, assinalou Amar.
Não se sabe exatamente como Goldberg acabou no chat do bombardeio ao Iêmen. Curiosamente, ninguém parece ter notado a presença claramente visível de um estranho óbvio, embora visivelmente silencioso, na sala virtual.
Goldberg é um sujeito asqueroso, russófobo, neocon e sionista de carteirinha. Quando jovem, ele se mudou dos EUA para Israel e serviu como guarda prisional em um grande campo para palestinos, sobre o qual escreveu um livro de memórias egocêntrico e, de fato, autoincriminatório, admitindo pelo menos encobrir a tortura brutal de um prisioneiro indefeso.
Assim que Goldberg tornou público ter sido incluído no chat do bombardeio ao Iêmen, ainda sem dar detalhes, a reação do governo Trump foi buscar desqualificá-lo e à Atlantic. Na tréplica, Goldberg reproduziu na íntegra o bate-papo que presenciou. O que acabou confirmado como autêntico até mesmo por um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional. Como um dano colateral, o vice Vance aparece desdenhando dos europeus e falando com muita franqueza sobre fazer os vassalos pagarem, de uma forma ou de outra.