“Austeridade falhou em todos os lugares como instrumento para equilíbrio orçamentário”, destacou Stiglitz, em entrevista à Folha de S. Paulo
O vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz, que está em visita ao Brasil, afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em sua edição deste domingo (17), que a obsessão pelo equilíbrio fiscal e juros altos é errada. “Austeridade falhou em todos os lugares como instrumento para equilíbrio orçamentário”, destacou Stiglitz.
“Dada a fraca conjuntura global, é ainda mais importante o Banco Central reduzir os juros. E é importante que a política fiscal do presidente Lula, o que falamos antes sobre impostos e despesas, a agenda de crescimento, seja adotada”, defendeu.
“Não está claro para onde a economia global está indo. Os resultados do neoliberalismo foram tão ruins que houve um aumento da desigualdade, as pessoas na base não se saíram bem, não houve um efeito cascata. Há uma resposta antidemocrática, uma resposta fascista em algumas partes do mundo”, apontou o Nobel de Economia.
“Não está claro para onde a economia global está indo. Os resultados do neoliberalismo foram tão ruins que houve um aumento da desigualdade, as pessoas na base não se saíram bem, não houve um efeito cascata. Há uma resposta antidemocrática, uma resposta fascista em algumas partes do mundo”
“Austeridade geralmente leva a um menor crescimento. Menor crescimento leva a uma menor arrecadação de impostos e a mais gastos com seguro-desemprego e rede de segurança básica. Então piora o déficit. Até o FMI reconhece que foi uma política errada. Se você coloca o crescimento no topo da agenda, a economia cresce, as receitas aumentam e o déficit diminui”, argumentou o economista norte-americano.
“Austeridade geralmente leva a um menor crescimento. Menor crescimento leva a uma menor arrecadação de impostos e a mais gastos com seguro-desemprego e rede de segurança básica. Então piora o déficit. Até o FMI reconhece que foi uma política errada. Se você coloca o crescimento no topo da agenda, a economia cresce, as receitas aumentam e o déficit diminui”
Ele apoiou as propostas do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de acabar com vantagens tributárias que permitem às pessoas mais ricas pagar menos impostos. “É muito bom para a economia [tributar os ricos]. Por muitas razões. O governo precisa da receita, e esse é o melhor lugar para obtê-la’, argumentou.
Segundo o economista essas medidas terão efeito positivo na economia brasileira. “Não é surpresa que os ricos digam: não nos tributem porque será ruim para a economia. Eu ficaria surpreso se eles não dissessem isso. É um argumento egoísta. Mas não tem base econômica”, afirmou o Nobel de Economia.
“Alguns grupos da sociedade civil gostariam que ele fizesse mais. Algumas pessoas ricas gostariam que fizesse menos. Considerando as dificuldades, ele [Lula] está fazendo um trabalho muito impressionante”, disse Stiglitz. “Seria bom para a economia brasileira e para todo o Brasil se o Congresso aprovasse os impostos mais progressivos que ele propôs. Eu iria ainda mais longe, mas o que ele propôs é importante”, acrescentou.
“Seria bom para a economia brasileira e para todo o Brasil se o Congresso aprovasse os impostos mais progressivos que ele propôs. Eu iria ainda mais longe, mas o que ele propôs é importante”
Segundo Stiglitz, “o Brasil é um dos países em que os ricos pagam menos impostos em relação à sua renda do que os pobres. Eles têm maneiras legais de evitar impostos. A maioria das pessoas é honesta, pagará sua parcela justa se for chamada a fazer isso. Se não for, não pagará”. Justiça tributária, segundo o economista, “leva a uma sociedade mais igualitária”. “Não é uma visão de esquerda. O FMI, a OCDE, todos chegam à visão de que sociedades com menos desigualdade têm desempenho econômico melhor, do qual todos se beneficiarão”, prosseguiu.
Na opinião do economista, o que o presidente Lula está fazendo é a estratégia correta. “De duas maneiras. Ele diz: olha, vou tentar arrecadar mais, uma quantia moderada, das pessoas ricas que não estão pagando uma parcela justa. Ao mesmo tempo, vou usar parte desse dinheiro para promover o crescimento econômico, para a transição ecológica”, diz o economista.
Sobre a queda da inflação no EUA, Stiglitz disse que não teve nada a ver com alta dos juros. “Não tem nada a ver com o Federal Reserve. Eu dizia que isso é em grande parte uma interrupção do lado da oferta e uma mudança na demanda”, argumentou. “Os preços das moradias, em média, subiram 40%. Qual a solução para a escassez de moradias? Aumentar as taxas de juros e reduzir a oferta, ou reduzir as taxas de juros e aumentar a oferta? É muito claro. Não precisa ser um gênio para descobrir. O Fed piorou o problema, não ajudou a resolver”, afirmou.
“Cerca de um terço da inflação no início da pandemia veio dos preços dos carros. Por quê? Escassez de chips. Aumentar as taxas de juros resolve o problema? Não. Os preços dos carros baixaram. Foi por causa do Fed? Não. Conversei com executivos de montadoras. Eles descobriram como obter os chips. Os estoques aumentaram e os preços dos carros baixaram.
Para ele, algo semelhante ocorreu no Brasil. “É por isso que sua inflação diminuiu. Não é a taxa de juros. Foi a resolução dos problemas do lado da oferta, não a política monetária, que reduziu a inflação”, disse Stiglitz sobre a queda de inflação no Brasil. “Do ponto de vista da teoria econômica, pandemias, assim como as mudanças climáticas, são externalidades. Os mercados não conseguem lidar com externalidades. O governo nos salvou”, disse ele.
“Os países onde havia mais confiança no governo se saíram melhor. EUA e Brasil, onde havia um governo que era terrível, não se saíram tão bem”, prosseguiu. “A outra coisa que aprendemos”, disse Stiglitz, “é que os mercados não funcionaram muito bem na recuperação pós-pandemia. Tivemos todos os tipos de escassez de suprimentos. O mercado não foi resiliente”.
Joseph Stiglitz é PhD em Economia pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). É professor da Universidade Columbia, em Nova York. Foi economista-chefe do Banco Mundial e presidente do Conselho de Assessores Econômicos no governo do presidente Bill Clinton. Recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2001.