“Pior negócio do mundo”, adverte o comandante da Marinha Robinson Farinazzo. “Vamos vender a espingarda que defende o galinheiro para o lobo”, afirmou
Reproduzimos abaixo a entrevista do oficial da reserva da Marinha do Brasil, comandante Robinson Farinazzo, ao site de notícias Sputnik Brasil e publicada nesta terça-feira (28). O oficial alerta, nessa importante reportagem, para o perigo que representa para a segurança do Brasil a venda da Avibrás, empresa estratégica do setor de defesa brasileiro, para grupos estrangeiros.
Para o comandante Robinson Farinazzo, a perda da Avibrás seria um tiro no pé e colocaria em risco a soberania brasileira. “O sistema Astros não deixa a desejar em relação a nenhum similar no planeta. É primeira linha em qualquer lugar do mundo, o que é reconhecido internacionalmente”, disse o militar. “É uma arma atualizada, que todo país […] precisa manter em seu portfólio.”
Confira a reportagem da Sputnik, de autoria de Ana Livia Esteves!
Empresa-chave do setor de defesa brasileiro pode ser vendida para Alemanha ou Emirados Árabes Unidos, após entrar em recuperação judicial questionada por sindicato. Para o comandante Robinson Farinazzo, perda da Avibrás seria tiro no pé e colocaria em risco a soberania brasileira.
Nesta semana, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região acendeu o alerta para a possível venda da empresa de produtos de defesa Avibrás para conglomerados estrangeiros.
Empresas como a alemã Rheinmetall e a emiradense Edge Group estão de olho na empresa brasileira, que fabrica sistemas de lançamento de foguetes Astros e o míssil tático de cruzeiro AV-TM 300.
O sistema de foguetes Astros passa por um bom momento em vendas internacionais e já foi testado e operado por cerca de nove países. A Avibrás obtém cerca de 80% de suas receitas através de exportações, cifra que estava em tendência de alta, informou a Hora do Povo.
De acordo com o especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, comandante Robinson Farinazzo, a venda de uma empresa estratégica para o setor de defesa a conglomerados internacionais não atende aos interesses do Brasil.
“Pior negócio do mundo. Principalmente se a venda for feita para a Europa, composta de países que reiteradamente questionam a nossa soberania sobre a Amazônia”, disse Farinazzo. “Vamos vender a espingarda que defende o galinheiro para o lobo.”
Conforme apurou o portal Relatório Reservado, a Avibrás confirmou que “o governo brasileiro acompanha de perto a evolução” das negociações de venda da empresa.
O conglomerado alemão Rheinmetall conta com fábricas em 33 países e lucra alto com o conflito ucraniano. O grupo produz tanques Leopard que serão enviados por Berlim a Kiev e planeja abrir fábrica na Ucrânia, cliente que lhe garantiu aumento de 150% no preço de suas ações desde fevereiro do ano passado.
Já a Edge Group, dos Emirados Árabes Unidos, conta com intermediários influentes no cenário político brasileiro, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Em maio de 2022, o filho 0.3 do ex-presidente Bolsonaro esteve reunido com o Edge Group, ao lado do então secretário de assuntos estratégicos da Presidência, Flávio Rocha, e do então secretário de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa, Marcos Degaut.
Para o comandante Farinazzo, a perda da Avibrás seria “um tiro no pé”, já que o Brasil perderia “capital humano com grande experiência, uma marca e a capacidade de fabricar produtos de defesa importantes”.
Além disso, a empresa desenvolve projetos cruciais para o setor de defesa brasileiro, como os mísseis antinavio de superfície Mansup. Segundo o jornal Estado de São Paulo, o Exército brasileiro já investiu mais de R$ 100 milhões no projeto que, caso concluído, será o primeiro deste tipo a contar com tecnologias e componentes 100% nacionais.
“O sistema Astros não deixa a desejar em relação a nenhum similar no planeta. É primeira linha em qualquer lugar do mundo, o que é reconhecido internacionalmente”, disse Farinazzo. “É uma arma atualizada, que todo país […] precisa manter em seu portfólio.”
Apesar da qualidade e importância dos produtos fabricados pela Avibrás, a empresa enfrenta dificuldades há bastante tempo. Em 2022, a companhia pediu recuperação judicial pela segunda vez, após acumular dívida de R$ 500 milhões e demitir 400 funcionários.
Em nota técnica, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região declarou que a recuperação judicial da empresa é injustificada e que seu valor de mercado só tende a crescer. Para manter os postos de trabalho e a tecnologia desenvolvida pela Avibrás no Brasil, o sindicato defende a estatização da empresa.
“Todo o investimento realizado desde 1940 pelo Estado brasileiro no complexo industrial militar corre o risco de ser adquirido por multinacionais […] levando à transformação de fábricas brasileiras em simples maquiladoras”, argumentou o sindicato em nota.
Farinazzo acredita que a estatização não deve ser “demonizada antes de ser estudada”, mas lembra que essa situação poderia ter sido evitada, caso o Brasil tivesse uma “política de investimento perene no setor de defesa”.
“A indústria de defesa precisa do investimento do Estado, isso é uma característica do setor”, apontou Farinazzo. “As pessoas precisam mudar a mentalidade do neoliberalismo de que a indústria de defesa precise dar lucro. Mesmo que opere no vermelho, o governo precisa garantir a manutenção dela.”
A Avibrás está entre os principais fornecedores de armamentos para as Forças Armadas brasileiras, em particular para os Fuzileiros Navais. No entanto, as compras são consideradas insuficientes, o que levou a empresa a investir nas exportações.
A falta de política de Estado para investimento em Defesa está associada à ideia ultrapassada de setores da sociedade brasileira, que consideram o país “alinhado aos EUA e parte do bloco ocidental”.
“Não é isso: o bloco ocidental é que faz ingerências no sentido de relativizar nossa soberania da Amazônia”, alertou Farinazzo. “Ou mudamos a nossa mentalidade, ou o preço a ser pago será altíssimo.”
No entanto, a mudança da mentalidade brasileira em relação ao setor de defesa e suas parcerias externas é “talvez o desafio mais difícil a ser superado”.
“O Brasil é um país cobiçado. Se não tivermos um arcabouço de defesa, não conseguiremos impor nossos objetivos de segurança nacional, e viveremos para sempre na pobreza, explorados e a reboque das grandes potências”, concluiu o comandante.
No dia 23 de março, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região emitiu nota técnica repudiando a possível venda da empresa de defesa Avibrás a conglomerados estrangeiros. O sindicato chamou atenção para salários atrasados de funcionários da companhia e defendeu sua estatização.
Reportagem publicada originalmente em Sputnik Brasil
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Prezado comandante,
Como membro do canal Arte da Guerra me sinto instado a me engajar nessa luta. Hoje, domingo pela manhã me encontrei com o deputado federal no qual votei e militamos no passado pelo sindicato que ele presidia e relatei a situação da AVIBRAS ao que ele me pediu que fizesse por escrito e assim será feito com cópia para o senhor.
Forte abraço
É um daqueles casos que entrarão para a História do país…. Nenhum país que se preze deixa uma empresa como a Avibrás, ser vendida e muito menos, a um grupo estrangeiro. Isso é uma verdadeira tragédia e o Brasil, que pagará muito caro por mais essa…………. ( Minhas palavras não seriam publicáveis para expressar exatamente o que eu penso).
Um dia negro para nossa nação, negro, incompreensível e vergonhoso. Não há no mundo, preço que pague por uma Avibrás. Por muito pouco, o Brasil não perdeu a EMBRAER, que está de pé e com um futuro brilhante, mesmo com tudo o que a sua ex compradora vêm fazendo para levar seus engenheiros. Agora a Avibrás….eu me pergunto…QUANDO É QUE O BRASIL SE TORNARÁ UM PAÍS SÉRIO?
Governo petista Pousa de pacifista perante o mundo. Da 1 bi pra cultura mas esconde a carteira pra investir na indústria. Submarino aparece mais que mísseis na mídia. País atrasado é assim: joga pra mídia que, subserviente, reproduz sem qiestonar.
Nesta batida vamos voltar a usar tacape arco e flechas não demora muito.
O Governo mais idiota que já vi na face da Terra. Onde se vende uma empresa de segurança e fica um País desarmado ? É muita burrice.
Já vendeu também a fabricante de mísseis para Os Emirados.
Ao contrário de vender teria que ejetar dinheiro e produzir os lançadores e exportar.
Sem Noção os adminitradores deste País.
Luciano Oliveira
Até é verdade o que você diz sobre o que o governo deveria ter feito. No entanto, o problema é ter permitido a venda. Ele mesmo não vendeu a empresa, que já era privada. Mas é verdade que empresas de defesa, em princípio, devem ser estatais por uma questão de segurança nacional.