Recuo “foi liderado por ramos que tendem a sentir mais a piora das condições de crédito, devido à alta de juros e da inadimplência”, destacou o Iedi
Embora tenha registrado resultado positivo em setembro, após uma sequência de cinco meses de desempenhos negativos, o volume de vendas do comércio varejista brasileiro teve um trimestre de queda, na comparação com o mesmo período do ano passado e permaneceu no vermelho nos últimos 12 meses (-0,7%). Segundo divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira (09), houve aumento no volume de vendas na passagem de agosto para setembro de 1,1% no varejo restrito e de 1,5% no ampliado (que inclui veículos, autopeças e material de construção).
No comércio varejista ampliado, o acumulado no ano ficou em -0,6% e, nos últimos 12 meses, em -1,6%.
Sem crescimento desde maio, o varejo sofre as consequências de uma população com as rendas achatadas, carestia, inadimplência recorde e juros altos.
Em análise, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) argumenta que o crescimento de setembro, além de não ter sido suficiente para recuperar o terceiro trimestre do ano reflete não mais do que o impacto provisório da redução dos preços dos combustíveis (que já voltaram a subir) e o pagamento do Auxílio Brasil, que resultou no aumento das vendas nos supermercados.
“Muito disso veio dos segmentos de combustíveis (+1,3%) e de supermercados, alimentos, bebidas e fumo (+1,2%), mais diretamente favorecidos pelas medidas adotadas recentemente pelo governo, como a mudança da cobrança de impostos sobre combustíveis, favorecendo a redução de preços, e o conjunto de transferências às famílias, com destaque para o aumento do Auxílio Brasil”, diz o Iedi.
“Em contrapartida, o encarecimento do crédito, o alto endividamento de uma parcela das famílias e a possibilidade de adiamento da compra de bens duráveis tendem a restringir o desempenho de ramos como móveis e eletrodomésticos (-0,1% em set/22 com ajuste), veículos e autopeças (-0,1%), material de construção (0%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,0%), cujas vendas em alguma medida demandam crédito”.
De julho a setembro, o comércio varejista restrito recuou -0,3% na comparação com o mesmo período do ano passado. No varejo ampliado, no mesmo período, a queda foi de -2,3%, “quase quatro vezes mais intensamente do que no trimestre anterior. Entre seus 10 ramos, metade ficou no vermelho e entre os 5 que cresceram, 2 registraram desaceleração”, assinalou o Instituto.
“O varejo apresentou deterioração em jul-set/22 quando comparado ao mesmo período do ano passado, movimento que foi liderado por ramos que tendem a sentir mais a piora das condições de crédito, devido à alta de juros e da inadimplência”, destacou o Iedi.
No acumulado de 12 meses, os destaques de queda ficaram com móveis e eletrodomésticos (-13%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-7,2%)
O resultado de setembro está 3,6% abaixo dos níveis de outubro de 2020 e 2,8% acima do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020). Já o varejo ampliado se encontra 1,5% abaixo de fevereiro de 2020.