As vendas do comércio despencaram -16,8% em abril sobre março, sem que a ajuda do governo tenha chegado aos varejistas afetados pelas medidas restritivas impostas pela pandemia.
Os dados da pesquisa mensal do varejo foram divulgados nesta terça-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tratando-se do pior resultado da série histórica da pesquisa. A queda também foi pior do que o esperado por economistas, que previam resultado em torno de -12%.
Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a queda foi de -16,8%, assinala o IBGE, que ressaltou que essa foi a primeira vez que a pesquisa refletiu um mês inteiro sob situação de quarentena e fechamento dos serviços não essenciais – iniciada a partir da segunda quinzena de março.
Nesta publicação, o IBGE reviu para baixo a queda de março, antes de -2,1% e agora de -2,5%. Assim, no acumulado do ano de 2020, o varejo, que já vinha mal desde o ano passado, passou a acumular perdas de -3%. Com o tombo de abril, o patamar de vendas do comércio encolhei para mínima recorde, 22,7% abaixo do registrado em 2014.
Segundo a pesquisa mensal, houve queda em todas as oito atividades pesquisadas pelo IBGE, repetindo os meses de 2016 e 2015.
QUEDA NA RENDA DAS FAMÍLIAS
Até mesmo os ramos de supermercados e farmácia, atividades consideradas essenciais, não se salvaram em abril – com quedas de -11,8% e -17%, respectivamente, sobre março. A avaliação do IBGE é que esse impacto veio da queda da renda das famílias – com o adicional dos atrasos no pagamentos do auxílio emergencial a trabalhadores informais e desempregados.
“Tivemos também uma redução da massa salarial que, entre o trimestre encerrado em março para o encerrado em abril, caiu 3,3%, algo em torno de R$ 7 bilhões. Isso também refletiu nessas atividades consideradas essenciais”, explicou o gerente da pesquisa Cristiano Santos.
Os maiores tombos foram no ramo de Tecidos, vestuário e calçados (-60,6%), seguido de Livros, jornais, revistas e papelaria (-43,4%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-29,5%), que inclui lojas de departamentos, óticas e artigos esportivos. Destaque também para a queda nas vendas de Móveis e eletrodomésticos (-20,3%).
Analisando o varejo ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, o volume de vendas desabou -17,8% após recuo de -13,7% em março. O recorde em abril foi pressionado pelo setor de veículos, motos, partes e peças (-36,2%), enquanto material de construção teve recuo de -1,8%.
SOCORRO NÃO CHEGOU
Diante da emergência e do exemplo de outros países, o esforço do governo para socorrer empresas, especialmente as de pequeno e médio porte, é considerado ínfimo.
Além do impacto que os atrasos no pagamento do auxílio emergencial tiveram sobre o consumo das famílias, a falta de crédito para que as empresas se mantenham de pé e a insistência do ministro Paulo Guedes em um “plano de saída” que mantenha o ajuste fiscal são fatores que contribuem com a ruína da economia.
De acordo com dados do Sebrae, 86% das empresas que buscaram crédito no último período (até maio) não o conseguiram. Enquanto isso, os pedidos de recuperação judicial aumentaram 68,6% e, os de falência, 30% em maio.
“Provavelmente milhares de pequenos comerciantes irão perder seus negócios após a pandemia uma vez que não conseguirão manter os fluxos de obrigações em dia por tanto tempo”, avalia o economista André Perfeito.