Em dezembro do ano passado, as vendas do comércio varejista caíram 2,6% e encerraram o ano em 1,0%, o menor resultado desde 2016. Maior taxa de juro em cinco anos e comprometimento da renda inviabilizam o consumo, aponta CNC
As vendas do comércio varejista encerraram 2022 no vermelho com queda de 2,6% na passagem de novembro para dezembro. Foi a segunda queda consecutiva do setor, que em novembro havia recuado 0,9%. No ano, o comércio varejista restrito fechou em 1,0% na comparação com 2021, o menor resultado desde 2016 (-6,2%), ficando inclusive abaixo do desempenho de 2020 (+1,2%), ano do auge da pandemia.
O comércio varejista ampliado, que inclui os ramos de veículos, autopeças e material de construção, no mesmo período, encolheu -0,6% em 2022.
Os dados são da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada hoje (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Um dos fatores para esse resultado “frustrante”, segundo o economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), “foi a deterioração das condições de crédito”.
De acordo com o economista, a desaceleração do nível geral de preços (o IPCA acumulado em 12 meses recuou de 10,1% para 5,8%, entre dezembro de 2021 e dezembro do ano passado) e o recuo no desemprego (a taxa de desocupação média cedeu de 13,5% para 9,5%, no mesmo período) foram neutralizados pelo avanço dos juros e pelo elevado grau de comprometimento da renda.
MAIOR TAXA DE JURO EM QUASE CINCO ANOS
“Segundo o Banco Central, a taxa média de juros avançou de 45% para 55,8% ao ano – a maior taxa em quase cinco anos. Esse movimento, associado ao comprometimento médio da renda com dívidas em nível recorde (28,21% em novembro de 2022, conforme a Peic, também apurada pela CNC), inviabilizou a aceleração do consumo a prazo, como tipicamente ocorre com os bens de consumo duráveis”, diz a nota da CNC sobre o resultado da pesquisa do IBGE.
O grupamento de Móveis e eletrodomésticos em dezembro do ano passado, de acordo com o IBGE, variou apenas 0,3% nas vendas frente a dezembro de 2021, segundo mês no campo positivo após sete meses de quedas. Em 2022, acumulou queda de -6,7% ante 2021, depois de recuar -7,0% frente a 2020.
“Em jan-dez/22, quem puxou o setor para baixo foram os ramos de bens de consumo duráveis, justamente aqueles cujas vendas exigem algum tipo de financiamento e cuja demanda pode ser adiada em períodos de encolhimento do poder de compra”, assinala o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial.
Além do resultados negativos no segmento de móveis e eletrodomésticos, outros artigos de uso pessoal e doméstico, que incluem as lojas de departamento, recuaram -8,4%. As vendas de material de construção desabaram -8,7%, veículos e autopeças caíram -1,7% e tecidos, vestuário e calçados recuaram -0,5%.
SETE DE OITO ATIVIDADES FICARAM NO VERMELHO EM DEZEMBRO
A queda no volume de vendas do comércio varejista, de novembro para dezembro de 2022, teve taxas negativas em sete das oito atividades pesquisadas pelo IBGE: Tecidos, vestuário e calçados (-6,1%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,9%), Combustíveis e lubrificantes (-1,6%), Móveis e eletrodomésticos (-1,6%), Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,8%), Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-0,6%) e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-0,4%).
O segmento de Livros, jornais, revistas e papelaria ficou praticamente estagnado (0,1%).