Realizado no último sábado, em Caracas, com a presença de renomadas personalidades e intelectuais, organizações partidárias e movimentos sociais venezuelanos, o “Seminário para uma nova alternativa política, um balanço crítico do processo bolivariano” apontou para a construção de uma frente de luta que resgate os valores revolucionários do chavismo. Conforme os organizadores, a rica herança anti-imperialista e desenvolvimentista deixada pelo presidente Hugo Chávez vêm sendo “manchada pelo governo de Nicolás Maduro”, “políticamente autoritário e economicamente reacionário”.
DESVIOS
Várias vezes ministro de Chávez, o engenheiro Héctor Navarro Díaz citou um importante alerta feito pelo comandante, nas Linhas Estratégicas de Ação Política, já em 2011, sobre a necessidade de enfrentamento da luta ideológica, em função de desvios no Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), a fim de que este servisse cada vez mais como referência para o conjunto da militância e da sociedade. “No entanto, devemos reconhecer que no PSUV tem se produzido uma imposição da lógica da máquina, onde se concebe a eleição como um fim em si mesmo e não como uma tarefa na luta para democratizar radicalmente a sociedade. A ampla base social da Revolução termina instrumentalizada como ‘massa de manobra’, e o que é pior, com formas organizativas que, a cada ano, se redefinem em função do processo eleitoral, perdendo finalmente sua condição de sujeito da Revolução”, ressaltou Chávez.
Conforme Héctor Navarro Díaz, com Maduro tal lógica acabou contaminando a ação governamental, dando as costas à população e vitaminando a conduta reacionária. “O governo de Maduro com seus novos aliados, e com o apoio de setores importantes do grande capital internacional e do FMI, garantiu uma vitória (não eleitoral, mas política) contra o povo e contra o futuro, capaz de garantir a necessária estabilidade política que necessitam para que seus negócios frutifiquem”. Com isso, na avaliação do ex-ministro, “se está fechando um importante ciclo para a direita, que seguramente contará com amplo apoio socialdemocrata externo, tanto financeiro, como político e midiático, reforçada pela entrega dos recursos petrolíferos e, especialmente, do Arco Mineiro do Orinoco”.
PRIVATIZAÇÃO
Tais medidas, sublinhou, significarão jogar o peso da grave crise pela qual o país atravessa “nas costas dos trabalhadores e não sobre os capitais”. Assim é que pretendem “entregar o patrimônio presente e futuro”, por meio da “privatização de empresas básicas, da PDVSA, concessões ou associações petroleiras e mineiras, se sacrificando ainda mais o investimento social e diminuindo o tamanho do Estado, o que aumentará o desemprego em função dos interesses do setor financeiro”. Daí, enfatizou, “a necessidade da construção de uma verdadeira referência revolucionária, cujo ponto de partida deve ser o legado verdadeiro e honesto de Chávez e do que ainda resta instalado na subjetividade popular que, além do mais, nos dá a chave para a correção dos erros”.
Para Gonzalo Gómez Freire, co-fundador do site Aporrea e membro da Maré Socialista, entre os principais desafios diante da situação atual e “em correspondência com uma verdadeira consciência política bolivariana, chavista, democrática e socialista são a recuperação das chaves de uma democracia participativa e protagônica real, o respeito e a aplicação consequente da Constitução da República Bolivariana da Venezuela e a revisão de toda a política econômica, para que não se jogue o peso da crise sobre o povo”. Um “pacote de ajuste econômico tão brutal”, assinalou, “que nem sequer é combatido pela direita, porque sabem quem é que vai pagar o custo político de terem feito para eles o trabalho sujo”. Entre as medidas inadiáveis, apontou Gonzalo, está a suspensão do pagamento da dívida externa, com uma auditoria cidadã, enquanto se realizam os investimentos nos setores estratégicos da economia e enfrentam os problemas emergenciais da população.