“Instalou-se o caos como algo normal na sociedade. O establishment político, tanto o encastelado no governo, como o da oposição, é responsável por esta absurda situação, ao converter a política em um exercício de irracionalidade, onde predominam o medo, o ódio e o fanatismo”, afirmou Rafael Ramírez, que já exerceu as funções de presidente da estatal PDVSA, e foi ministro de Energia e Petróleo de Hugo Chávez, assinalando que “o maior peso dessa responsabilidade recai sobre o governo e as instituições do Estado, pois as mesmas têm o monopólio da violência, abundantes meios e recursos; e, claro, mais que qualquer um, têm a obrigação de atuar no marco da Constituição e das leis”.
“Ficou para trás o período do exercício da política com ‘P’ maiúsculo do presidente Chávez, da arte da política, o debate das idéias, o confronto de programas, modelos de país. Não foi fácil atingir esse nível, mas era um propósito deliberado do presidente Chávez: garantir o exercício pleno da democracia participativa; dar voz e direitos a todos os setores do povo, aos excluídos; dotá-los de razões sagradas para a luta”, esclareceu no artigo “Voltar à razão”, publicado no site aporrea.org.
“Alcançaram, utilizando dinheiro do Estado venezuelano, a hegemonia sobre os meios de comunicação; ou porque seus testas de ferro os compram; ou porque recorrem à ameaça, sanções ou ainda lhes tiram o acesso ao papel. Criaram-se dentro das instituições e empresas do Estado grupos protofascistas que perseguem, vigiam, apontam a quem discorde de Maduro, do governo ou simplesmente, se queixe de sua situação”, frisou.
Referindo-se à tentativa do atual presidente de colocar a culpa pelos problemas que o país sofre para fora de sua responsabilidade, o ex-ministro apontou que “governo não tem formas de explicar como é possível que se produza um suposto ‘ataque’ ao sistema elétrico e outro e depois outro. Não pode explicá-lo porque boa parte do território nacional, sobretudo no ocidente do país, tem sofrido permanentes apagões e racionamentos há pelo menos 5 anos”.
“Não pode explicar”, prossegue o ex-ministro, “porque não terminam de entrar em operação todas as centrais termelétricas que entregamos funcionando devidamente à Corporação Elétrica Nacional, Corpoelec, à Petróleos de Venezuela, PDVSA e às Empresas Básicas. Não podem explicar porque a Termelétrica Tacoa deixa Caracas às escuras. Não podem explicar porque sequer funcionam as usinas elétricas em hospitais, aeroportos, estações de bombeamento de água, telecomunicações. Não podem explicar porque o governo deixa o povo sozinho em sua tragédia; porque não há gasolina, nem água, nem comunicações; porque tanta incapacidade e indolência”.
“É o drama de uma ‘esquerda’ oportunista, acomodatícia, que faz anos que perdeu a garra, pessoas que sempre tiveram receio de Chávez, sempre foram hipercríticas ao Comandante Chávez, a seu suposto ‘messianismo’; e hoje são furibundos ‘maduristas’. É o drama de dirigentes e partidos que se proclamam revolucionários, porém terminaram na rabeira do pior governo de nossa história; o mais impopular e reacionário, o que entregou o petróleo, o ouro, a soberania da pátria”, denuncia Ramírez.
Aos trabalhadores da PDVSA, Corpoelec, empresas básicas, os têm golpeado com força, os reprimem, sequestram, se asseguram de que se calem, que guardem silêncio ante a paralisação, entrega ou quebra dos outrora pilares da economia, a tal ponto que optam por irem-se. Os camponeses têm que voltar a se ver com a violência dos latifundiários. Temos o campo destroçado, os camponeses reprimidos.
O ex-presidente da PDVSA, homem de confiança de Hugo Chávez, denuncia também a oposição reconhecida pela mídia, chefiada por Guaidó, sublinhando que “tem cedido seu exercício da política a ‘influencers’, como os chamam no mundo ‘tuíter’. Qualquer desequilibrado cheio de ódio, rancor ou com ânsias de revanche, chama à guerra, pede a invasão, a entrada de tropas estrangeiras, mas eles, com certeza, o assistirão desde Miami. Não mandarão seus filhos para morrer nessa invasão. São irresponsáveis”.
“Ou voltamos à razão ou nosso país será levado pelo demônio da violência. Torna-se incrível e ao mesmo tempo injusto com o nosso povo o fato de que setores políticos, patriotas, dirigentes de distintos setores do país, outrora vozes críticas, que devem funcionar como marcadores do pensamento político, guardem silêncio, estejam sepultados sob a chantagem do medo, o jogo do ódio ou tenham cedido seus espaços ao fanatismo e à manipulação. Ao contrário, agora é quando se impõe o valor do dirigente político, a voz que oriente em meio ao caos, ao tumulto, com valor, ideias, sem que na mais importe”, destaca.
Nós o temos apontado: aqui não se trata de tirar Maduro para por fulano ou beltrano. Não. Aqui se trata de que uma Junta Patriótica de Governo, cívico-militar, que represente todo o país – onde estejam os militares patriotas – que dê um passo à frente, tire Maduro do poder, acabe com este pesadelo destrutivo, restabeleça plenamente a vigência da Constituição Bolivariana, a soberania do povo venezuelano e comecemos, desde o abismo em que estamos, a reconstrução da Pátria, de suas instituições, de seu funcionamento para reconquistar o futuro que nos têm arrebatado e que, afinal, é a razão sagrada para seguir lutando”, concluiu Rafael Ramírez.