
Com a evidente intenção de intimidar a oposição e a opinião pública que exigem que explique porque acobertou por dois meses um espancador de manifestantes que contratou como seu vice-chefe de gabinete, o presidente Emmanuel Macron apelou para a bravata: “venham me pegar”, em discurso em círculo íntimo, que logo vazou, e que foi prontamente repudiado no país inteiro.
O espancamento de um manifestante caído e o ataque a uma mulher no 1º de Maio, pelo seu guarda-costas Alexandre Benalla, indevidamente usando capacete, braçadeira e rádio da tropa de choque, mostrados em vídeo pelo jornal Le Monde, desencadeou uma tempestade política que põe em risco o assalto de Macron aos direitos sociais, às aposentadorias, à educação e às estatais, num momento em que o ‘presidente dos ricos’ achava que a resistência popular poderia perder fôlego.
No parlamento, seu ministro do Interior e principais assessores estão sob fogo cerrado, e mentindo de todo jeito que podem, para ocultarem como Macron soube do espancamento no dia seguinte e deixou Benalla livre, leve e solto até o escândalo estourar. Entre outras regalias, Benalla tinha um apartamento gratuito em área nobre e carro com motorista. O guarda-costas caiu nas graças de Macron por sua atuação na campanha presidencial, em que cuidou de sua segurança.
No fala que eu te escuto com os correligionários, Macron começou esclarecendo, não se sabe muito bem porque: “Alexandre Benalla nunca teve os códigos nucleares. Alexandre Benalla nunca viveu em um apartamento de 300 metros quadrados… Alexandre Benalla nunca ganhou € 10.000”. E concluiu sob aplausos do cordão de puxa-sacos, “Alexandre Benalla nunca foi meu amante ”, tendo acrescentado depois que “se sentiu traído” pelo desastrado e violento ex-segurança.