Para o ator, bolsonaristas da milícia digital são “quadrúpedes fanatizados”
O ator Carlos Vereza, um dos mais fervorosos aliados de Bolsonaro durante os primeiros meses de governo, anunciou, por meio de um post em rede social, que rompeu com ele após o atual chefe do Executivo criticar e ameaçar o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, de demissão.
“Estava tentando defender Bolsonaro, não tanto por ele, mas pela normalidade das instituições. Mas ele desautorizar publicamente o ministro da saúde por ciúmes, não dá mais: tirei o time”, escreveu pelo Facebook.
Vereza já vinha fazendo críticas a Bolsonaro nos últimos dias por ser contra a quarentena diante da pandemia do coronavírus e incitar a população a sair para as ruas.
De acordo com Vereza, “o número de mortes no país não está maior porque as pessoas estão se preservando em casa”. “Obrigado Mandetta”.
“A mesma fritura de sempre: Bolsonaro agitando seus apoiadores radicais preparando para demitir Mandetta”, disse em uma postagem.
A partir daí, Vereza passou a ser alvo da milícia digital bolsonarista, que ele chama de “horda de bárbaros, quadrúpedes fanatizados”.
Em seguida, a ator anunciou o fechamento do seu perfil no Facebook.
“Não tomo essa decisão por cansaço. O que me motiva a escrever para poucas pessoas, é estar constatando a invasão de uma horda de bárbaros, quadrúpedes fanatizados, filhotes sectários formados pelo populismo do honesto mas egocêntrico Jair Messias Bolsonaro”, escreveu.
Vereza recebeu o apoio de seus seguidores no perfil.
Uma seguidora anotou que: “Já percebi isso na época que o filhinho queria a embaixada EUA, e pra mim, eles não prestam. Foi um terrível engano confiar neles. Decepção!”.
Outra seguidora apoiou. “Pois é. Às vezes fico pensando no Bebianno e em sua carta….”
“Perfeito”, sintetizou outra internauta.
Na sexta-feira (3), o ator escreveu dois textos para explicar sua atitude:
Leia:
Hoje encerro minhas postagens abertas ao público. Quando iniciei no Facebook, há tempos, procurei fazer o melhor, pesquisar sempre temas que pudessem acrescentar algum tipo de intercâmbio com amigos, que nunca considerei virtuais.
Percebi neste tão maltratado e revolucionário meio de comunicação, um instrumento de difusão de ideias, algo como um diário eletrônico, com a vantagem de não acariciar o ego nem a posteridade, pois mal o texto é rabiscado, despenca, silencioso, para algum limbo digital.
Não tomo essa decisão por cansaço. O que me motiva a escrever para poucas pessoas, é estar constatando a invasão de uma horda de bárbaros, quadrúpedes fanatizados, filhotes sectários formados pelo populismo do honesto mas egocêntrico Jair Messias Bolsonaro.
Nenhuma diferença dos quadrúpedes petistas fanatizados pelo gatuno Lula da Silva.
Espécimes previstos por Umberto Eco, que alertou para os imbecis que ocupariam as redes sociais.
Nublados pela obtusidade, caluniam por incapacidade de conviver com a complexidade.
Nada veem além da própria limitação para compreender, que a crítica bem intencionada, significa alguma esperança no político que apoiei publicamente, antes das eleições, e mesmo depois, e depois.
Mas os dedos acusadores erguem-se ao lado de clichês, de frases mal articuladas. E, os que tentam apontar os desvios de rumo do presidente, são alvo da ignorância, do linchamento de reputações.
Sim, fiz muitos e queridos amigos e amigas; tantos que me honraram com trocas intelectuais, amoráveis, e nunca virtuais.
Mas tentar a racionalidade neste momento, é tarefa semelhante ao mito de Sísifo [*] – no caso, em geral, dialogar com o próprio eco.
Abraços fraternos.
Carlos Vereza
[*] Na mitologia grega, Sísifo, considerado o mais esperto dos mortais, foi condenado a carregar pela eternidade um grande bloco de mármore até o pico de uma montanha.
Outro texto:
“Aprendi na vida a não tomar decisões precipitadas. Na vida e na política. Mas o limite se apresenta quando a realidade se impõe à força dos fatos.
Os fatos, esse personagem sempre desconsiderado pelos políticos populistas.
Essa estratégia de vitimização de Bolsonaro esgotou-se pela repetição, tornou-se previsível, e portanto cansativa.
Sempre elege um inimigo, seja real ou imaginário. Assim mantém seus radicais aficionados em constante tensão como se estivesse em clima de campanha permanente.
E, aí de quem, em sua equipe, comece a destacar-se pela competência: é fritado e expelido sem remissão; e ele sempre vitimizado, “ traído “ por aqueles em “ quem tanto confiou”.
Reparem em quantos companheiros de longa data foram descartados como se fossem simples peças de reposição.
Sim. Bolsonaro tem um projeto pessoal de poder. A questão é saber se o país faz parte de suas ambições”.