Parte de um viaduto localizado no Eixão Sul, uma das vias mais importantes de Brasília (DF), desabou no início da tarde desta terça-feira (6). A estrutura caiu sobre quatro carros que estavam estacionados em uma via que passa em baixo do viaduto. Parte do muro de um restaurante instalado na Galeria dos Estados, tradicional centro comercial que funciona embaixo do viaduto, também caiu. Felizmente, não houve feridos no desabamento.
O trecho do viaduto que desabou corresponde a duas, das três faixas do sentido sul da via, considerada a principal via expressa de Brasília, que liga a região norte e sul da cidade, passando pelo Eixo Monumental, onde fica a Esplanada dos Ministérios. O desabamento aconteceu a um quilômetro da rodoviária do Plano Piloto. A Defesa Civil afirma que ainda existe a possibilidade de ter novos desabamentos.
O governador distrital, Rodrigo Rollemberg (PSB), apareceu ao local e admitiu durante uma rápida entrevista coletiva que o viaduto não havia passado por reparos ou manutenção. “Brasília é uma cidade que está envelhecendo, é uma cidade de concreto. Infelizmente este viaduto ainda não tinha passado por manutenção”, declarou.
Nos últimos anos, professores da Universidade de Brasília, o Sindicato de Arquitetura e Engenharia e o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura realizaram diversos alertas sobre os problemas no viaduto.
Em 2009, um relatório do (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Federal), em parceria com diversas entidades, entregou ao Governo do Distrito Federal (GDF), na época do governo José Roberto Arruda (PR), um relatório tecia sérias considerações sobre a falta de reparos em viadutos da capital do país e criticava a passividade dos gestores.
Um ano depois, chegou às mãos do governador-tampão Rogério Rosso (PSD) a Cartilha de Prevenção Contra Catástrofes, elaborada pelo Crea-DF e pelo Sindicato dos Engenheiros do Distrito Federal. Um dos pedidos era para que o GDF contratasse mão de obra qualificada para fazer “prevenção contra tragédias” em viadutos situados na região central.
Devido ao anúncio de que Brasília seria uma das sedes da Copa do Mundo 2014, o mesmo relatório – feito dois anos antes – foi encaminhado ao GDF, desta vez na gestão Agnelo Queiroz (PT), com foco nas estruturas situadas no Plano Piloto.
“Naquela época [2009], já havíamos identificado diversos problemas estruturais, pois queríamos que as manchetes dos jornais fossem sobre vitórias do Brasil e não de tragédias. Felizmente, nada ocorreu. Mas, devido à falta de cuidado durante tantos anos, a estrutura não suportou agora”, disse o professor João Bosco, engenheiro à frente do trabalho do CREA-DF.
Em 2012, o alerta veio do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF), o qual realizou auditoria operacional sobre conservação e manutenção de bens públicos. O relatório avaliou a destinação de recursos para obras e reparos, e constatou prédios e construções públicas que não apresentavam bom estado de conservação, ameaçando a segurança dos usuários. A Corte cobrou providências, mas o GDF ignorou as recomendações.
Além destes, outros alertas foram ignorados pelo governo da capital do país durantes os anos, o que colaborou de fato, para o acidente desta semana.
Na terça-feira (7), um dia após o desabamento, o diretor do Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal, Henrique Luduvice, foi exonerado do cargo. O cargo será assumido pelo atual diretor de edificações da Novacap, Márcio Augusto Buzar.
ERNESTO ANDRADE