“Impedir os pesquisadores de viajarem a esses congressos é ridículo”, declarou Aldo Malavasi
O vice-presidente da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), Aldo Malavasi, classificou como “um absurdo” e “extremamente contraproducente” a portaria de Abraham Weintraub, ministro da Educação (MEC), que proíbe a participação de mais de dois pesquisadores por unidade em congressos científicos.
“Não é possível fazer ciência de forma isolada, você só consegue fazer ciência se interagir com seus pares. E essas interações acontecem nas reuniões científicas”, disse.
“A universidade brasileira é motivo de orgulho em qualquer evento internacional. Por isso, impedir os pesquisadores de viajarem a esses congressos é ridículo. Porque são grupos que se reúnem para avançar na pesquisa”, afirmou o cientista em entrevista na TV Gazeta.
“Isso que está acontecendo é uma miopia e nós esperamos que o Ministério reconsidere essa portaria”, declarou o vice-presidente da SBPC.
Segundo Malavasi, em congressos “você aprende novos raciocínios, desenvolve novos tipos de pesquisa. A questão que me parecem muito grave é para as novas gerações, alunos de mestrado, doutorado e até de iniciação científica. Limitar a participação deles em congressos é uma medida extremamente contraproducente”.
“O que é estranho nessa portaria é que diz, inclusive, que com recursos externos o cientista também não poderia” participar do congresso.
“Se você for convidado [pela organização do evento], seu bilhete aéreo, seu hotel, suas diárias, serão pagas pela organização do congresso. Não faz nenhum sentido impedir [com que o cientista participe]”.
“Ser convidado é um prêmio para o pesquisador brasileiro, porque a pesquisa foi desenvolvida no Brasil, com recursos públicos”, continuou.
CAPES
Aldo Malavasi, cientista renomado internacionalmente, aposentado na Universidade de São Paulo (USP), também criticou a redução de recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O fato foi admitido pelo novo presidente do órgão, Benedito Guimarães Aguiar Neto, reconhecendo que “tem que brigar para conseguir repor o orçamento”.
O vice-presidente da SBPC comentou que a “Capes estava com recursos na ordem de R$ 4 bilhões em 2019 e esse ano caiu [cerca de] 30%. Com muito esforço da comunidade [científica], se conseguiu chegar a R$ 3,2 bilhões”.
A Capes cumpre um papel fundamental na distribuição de bolsas de pesquisa para mestrandos e doutorandos em todo o país. Os cientistas esperam que Benedito Guimarães Aguiar Neto lute para restituir os R$ 800 milhões tirados por Bolsonaro da Capes.
O corte de recursos para a ciência acaba por causar uma grande evasão dos pesquisadores. “Chega-se a tal ponto de desilusão, se não se tem as condições mínimas para conseguir tocar a pesquisa, você fala ‘deixa eu ir para outro lugar’”.
“O Brasil tem uma massa de cientistas que é altamente respeitada lá fora, em todos os campos de pesquisa. Muitos não vão [para o exterior] porque pensam ‘eu tenho que ajudar o Brasil’”.
Segundo ele, “é totalmente falso” que nas Universidades públicas haja uma doutrinação de esquerda que não permite com que a ciência avance. “Não é a realidade. Olhe a quantidade de pesquisadores dedicados em todas as áreas. Existe uma massa que trabalha muito duro e que tem que ser recompensada, dando-se recursos para eles poderem trabalhar e mostrar lá fora o que está sendo feito aqui”.
Aldo Malavasi também comentou sobre o Benedito Aguiar Neto ser abertamente criacionista. “Essa é uma discussão absolutamente superada no mundo inteiro. Se você acredita que a Terra é plana, é seu o problema. Religião é uma coisa, ciência é outra”.
“Fé não se mistura com ciência. Na Universidade, nós temos que ensinar ciência. Não se ensina criacionismo na escola porque não é ciência. Dentro de ciências você não pode considerar criacionismo ou design inteligente. É absolutamente inaceitável”, completou.
Com informações do Jornal da Ciência