Em reunião por vídeo conferência os presidentes Xi Jinping, da China, e Vladimir Putin, da Rússia, reafirmaram seus laços diplomáticos e estratégicos, seu compromisso com a instauração de um mundo multipolar mais justo e trocaram convites para as cerimônias de celebração dos 80 anos da vitória na II Guerra Mundial, que transcorrerrão este ano.
A reunião ocorreu na terça-feira (21), um dia depois da posse do presidente norte-americano, Donald Trump, seguida por uma enxurrada de decretos, que incluiu a retirada dos EUA da OMS e do Pacto do Clima de Paris, e precedida por ameaças de guerra tarifária contra a desdolarização e de anexação do canal do Panamá, Groenlândia e até Canadá, além da mudança do nome do Golfo do México para ‘Golfo da América’.
Putin felicitou Xi pela passagem do ano e desejou paz e prosperidade ao povo da China e ao presidente Xi, saudando, como se costuma dizer na República Popular da Coeria, “boa sorte em dez mil ações”.
“Este ano, estou pronto, junto com vocês, para elevar as relações sino-russas a novos patamares, para combater as incertezas externas, preservando a estabilidade e a resiliência das relações sino-russas”, disse Xi.
“As relações sino-russas, cujo núcleo é a eterna boa vizinhança e amizade, a interação estratégica abrangente, a cooperação mutuamente benéfica e o ganha-ganha, estão adquirindo uma nova vitalidade”, enfatizou Xi.
As relações Rússia-China tem base “na amizade, confiança e apoio mútuos, igualdade e benefício mútuo”, são “autossuficientes” e não dependem “de fatores políticos internos e da atual situação global”, afirmou o presidente Putin. “O seu fortalecimento abrangente cumpre plenamente a tarefa de desenvolvimento integrado da Rússia e da China, melhorando o bem-estar dos povos de ambos os países”.
“Defendemos conjuntamente a construção de uma ordem mundial multipolar mais justa e estamos trabalhando no interesse de garantir a segurança indivisível no espaço eurasiano e no mundo como um todo,” acrescentou Putin.
Nos 11 primeiros meses de 2024, o intercâmbio comercial China-Rússia cresceu mais de 7%, superando US$ 220 bilhões de dólares. Mais de 95% dos pagamentos entre os dois países são realizados em moedas nacionais, yuans e rublos. A cooperação se dá nas áreas tradicionais, bem como nas áreas de ponta, IA, física quântica e materiais inovadores.
A reunião Xi-Putin se estendeu por mais de uma hora e meia, com a parte que foi divulgada durando dez minutos, buscando dar continuidade, resiliência e estabilidade à cooperação entre os dois países e guiar as duas nações em meio a um ambiente externo cada vez mais incerto.
Ambos também se comprometeram a apoiar o sistema internacional e a ordem mundial pós 2ª Guerra Mundial. Assim como a aderência aos princípios da Carta da ONU. O dois países se apoiam na ONU, na Organização de Cooperação de Shangai (OCS) e no BRICS.
O presidente russo afirmou que defende fortemente o princípio de que Taiwan é parte do território chinês e se opôs ao separatismo que ali vem sendo engendrado mediante intervenção norte-americana.
Putin também tem se manifestado grato aos esforços sinceros da China por uma solução para o conflito na Ucrânia e se disse disposto a discutir com Trump a questão, desde que com respeito mútuo e reconhecimento dos interesses do povo russo.
Na segunda-feira, ao falar com jornalistas o presidente americano prometeu um “fim rápido” da guerra na Ucrânia, e ainda acusou Putin de “destruir a Rússia ao não fazer um acordo”. Trump, em sua campanha presidencial, prometeu ressuscitar a guerra comercial contra a China ao anunciar o aumento de tarifas contra produtos importados chineses. Ele também ameaçou impor aos países do BRICS tarifas de 100% se não se submeterem à chantagem do dólar e continuarem usando suas próprias moedas em seus acordos comerciais.
O presidente Xi sublinhou que Pequim e Moscou “defenderão o sistema internacional de relações, no qual a ONU desempenha um papel fundamental. A cooperação entre Estados em formatos multilaterais contribui para reformar e melhorar o sistema de governação global”.
“Juntamente com os nossos colegas russos, neste contexto, apoiaremos o sistema internacional centrado na ONU, defenderemos a vitória na Segunda Guerra Mundial, conquistada com o sangue e a vida de milhões de pessoas, e defenderemos os direitos da China e da Rússia como países fundadores da ONU e membros permanentes do Conselho de Segurança”, acrescentou o presidente chinês.
A memória da vitória na Segunda Guerra Mundial é sagrada para os povos da Rússia e da China, que travaram uma luta sangrenta contra os agressores e derrotaram o inimigo à custa de inúmeros sacrifícios, disse Putin. Em Moscou, no ano do aniversário da Grande Vitória, serão realizados diversos eventos cerimoniais, sendo o principal deles o desfile na Praça Vermelha no dia 9 de maio, onde Xi Jinping também é convidado.
“Não podemos permitir que a ideologia do fascismo, do nazismo e do militarismo levante a cabeça novamente. É importante, juntamente com outras pessoas que pensam da mesma forma, preservar e defender cuidadosamente a verdade histórica”, afirmou o Presidente russo.
Vladimir Putin, por sua vez, foi convidado pelo líder chinês a Pequim, onde será comemorado o fim da Segunda Guerra Mundial no dia 3 de setembro.