A visita da algoz da Grécia, a primeira-ministra alemã Angela Merkel, a Atenas foi repudiada na quinta-feira (10) pelo ex-ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, que afirmou que “a senhora Merkel está na Grécia para inspecionar o deserto que ela fez e chama de … recuperação”. Apesar da proibição de protestos, centenas de pessoas marcharam no centro da capital, com faixas e cartazes repelindo a indesejável Merkel, como registraram o Sputnik e o Press-Tv.
Antes de chegar, Merkel teve a desfaçatez de dizer que a Grécia pode “continuar contando com a parceria e a amizade da Alemanha”. Também anunciou que irá estimular os governantes gregos a “continuarem com reformas econômicas duras e disciplina fiscal rígida”, como registrou o portal Keep Greece Talking.
Enquanto a visita de dois dias soa para a maior parte dos gregos como um achincalhe e uma provocação, caberá ao estelionatário eleitoral Alexis Tsipras encabeçar as genuflexões diante de Merkel, que salvou os bancos alemães e franceses à custa do sofrimento inaudito da população grega. Varoufakis rompeu com Tsipras quando este traiu o povo grego e o referendo do ‘não’ ao arrocho, e virou um triste boneco dos bancos. Em franca decadência, Merkel já anunciou data para aposentadoria da função de primeira-ministra e até arrumou uma insossa clone para presidir seu partido, o CDU.
No ano passado, o “programa de resgate” foi oficialmente considerado encerrado pela Troika (Comissão Europeia, BC Europeu e FMI), mas a Grécia vai ter de continuar sob o garrote vil até 2060!.
O achaque imposto à Grécia desde Berlim fez o PIB do país encolher em um terço, provocou o mais elevado desemprego da zona do euro e levou um em cada três gregos à beira da miséria. Salários e aposentadorias foram dizimados, as estatais, privatizadas na bacia das almas, e os direitos sociais cortados no osso.
“Merkel não é bem-vinda porque é responsável pelo desastre monumental em nosso país, que, infelizmente, continua”, denunciou o líder da Unidade Popular, Panaviotis Lafazanis”. “O povo grego não tolera Merkel, só os capachos recebem seus tiranos com honrarias”.
Porta-voz dos comunistas gregos disse ao Sputnik que a manifestação era “contra a vinda da representante do imperialismo alemão à Grécia”. “Rechaçamos esta visita”, declarou, responsabilizando o imperialismo alemão, junto com os outros imperialistas europeus e os imperialistas dos EUA, pela devastação imposta aos gregos.
Em agosto do ano passado, quando a farsa da ‘recuperação grega’ foi alardeada, o ex-ministro Varoufakis advertiu que a “Grécia nunca foi resgatada – continua sendo a prisão de devedores e a UE não vai largar as chaves”. Ele denunciou que a Troika colocou a Grécia “em coma permanente”, o que passou a chamar de “estabilidade”.
“Na mesma semana em que uma Grécia devastada entrou em mais 42 anos de dura austeridade e maior servidão por dívidas (2018-2060), como o fim da austeridade e a recuperação da independência financeira da Grécia podem ser apresentados como fatos?”, questionou o economista.
Ele lembrou como em 2009 Merkel entrou em pânico quando soube que seu governo “tinha de injetar, durante a noite, € 406 bilhões em dinheiro dos contribuintes nos bancos alemães”. Para manter a mentira, à insolvente Atenas “foi dada, sob a cortina de fumaça de “solidariedade com os gregos”, o maior empréstimo na história da humanidade, para ser imediatamente transferido aos bancos alemães e franceses”. Assim – resumiu Varoufakis – depois de ter resgatado bancos franceses e alemães às custas dos cidadãos mais pobres da Europa e transfor mado a Grécia em uma prisão de endividados, os credores da Grécia proclamaram “a vitória”.
A vinda de Merkel também tem o objetivo de pressionar deputados gregos que resistem a votar a favor do acordo que permitirá a anexação, pela aliança agressiva Otan, de mais um caco da ex-Iugoslávia, e a Berlim sacramentar mais um puxadinho no seu quintal.