Vitamedic pagou anúncios mesmo sem estudos sobre eficácia da ivermectina para Covid, admite diretor

Jailton Batista durante depoimento na CPI. Foto: Jefferson Rudy - Agência Senado
O diretor da farmacêutica Vitamedic disse isso sem constrangimentos. Milhares morreram porque acreditaram na eficácia do fármaco, que é ineficaz para combater a Covid-19

Em depoimento à CPI da Covid-19 no Senado, nesta quarta-feira (11), o empresário Jailton Batista, diretor da farmacêutica Vitamedic, afirmou que a empresa nunca conduziu estudos científicos para avaliar a eficácia da ivermectina para o combate à pandemia do novo coronavírus.

Mesmo assim, a farmacêutica custeou a publicação de anúncio veiculado nacionalmente chamado “Manifesto pela Vida”, que defendia tratamentos sem eficácia para a Covid-19 — entre esses, citava a adoção da própria ivermectina, produzida pela farmacêutica.

De acordo com documentos obtidos pela CPI, a Vitamedic pagou pela veiculação de anúncios nos principais jornais do País.

As peças publicitárias eram atribuídas ao grupo Associação de Médicos pela Vida – que apoia Bolsonaro – e defendiam o uso de cloroquina, ivermectina, zinco e vitamina D substâncias científica e comprovadamente ineficazes contra a Covid-19.

PUBLICIDADE PATROCINADA A PEDIDO DO MÉDICOS PELA VIDA

De acordo com Batista, foram pagos R$ 717 mil para a divulgação do manifesto. Segundo ele, o material foi patrocinado a pedido do Médicos pela Vida, grupo que propagou remédios ineficazes para o coronavírus. Representantes da associação já se reuniram no Palácio do Planalto com o presidente Jair Bolsonaro.

“Foi solicitado o apoio à associação Médicos pela Vida no patrocínio de um documento técnico, e ela o fez. Foi apenas a publicação nos jornais de um manifesto da associação em que a empresa assumiu o custo da veiculação”, afirmou Jailton Batista aos senadores. Ele ressaltou que o pedido de apoio financeiro partiu da própria associação.

“VISAVA [APENAS] LUCROS”

O senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão, afirmou que o laboratório “visava lucros” e estava “mancomunado” com médicos ao defender e patrocinar o manifesto.

“A responsabilidade é mútua”, disse Omar. Renan também interpelou o depoente após as revelações: “E o custo foi pago em vidas, e a Vitamedic colaborou com isso porque continuou fabricando remédios sem eficácia comprovada.”

CRESCIMENTO EXPONENCIAL DA VENDA DO REMÉDIO INEFICAZ

A Vitamedic foi alvo de requerimento de informações aprovado em junho pela comissão.

De acordo com relatórios enviados à CPI, as vendas da ivermectina saltaram de 24,6 milhões de comprimidos em 2019 para 297,5 milhões em 2020 — crescimento superior a 1.105%. O preço médio da caixa com 500 comprimidos subiu de R$ 73,87 para R$ 240,90, o que representa incremento de 226% no preço do fármaco.

Com a oitiva de Batista, os senadores pausam momentaneamente a temática das denúncias sobre suspeitas de propinas envolvendo vacinas contra a Covid-19 para ouvirem mais uma testemunha sobre o chamado “tratamento precoce”, que promovia o uso de medicamentos sem eficácia contra a doença.

Na quinta-feira (12), a CPI vai ouvir o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). O nome dele foi mencionado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro nas irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin.

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