Julia Emilia Mello Lotufo prosseguiu com os negócios criminosos do marido. A mãe e a ex-mulher de Adriano eram funcionárias no gabinete de Flávio Bolsonaro, de quem o miliciano recebeu a Medalha Tiradentes
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) deflagrou, nesta segunda-feira (22), a operação Gárgula para prender acusados de lavar dinheiro e movimentar recursos ilícitos do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, que era chefe da milícia de Rio das Pedras, na zona oeste do Rio de Janeiro.
O assassino profissional era íntimo da família Bolsonaro, tendo sido homenageado por Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio e ardorosamente defendido por Jair Bolsonaro em discurso feito da tribuna da Câmara Federal. Ele comandava também o Escritório do Crime, uma espécie de central de assassinatos por encomenda, usada também por outras milícias do Rio.
A ofensiva desta segunda-feira cumpriu mandados de prisão preventiva contra a viúva de Adriano, Julia Emilia Mello Lotufo, o soldado da PM Rodrigo Bitencourt Fernandes Pereira do Rego, que foi preso, e Daniel Haddad Bittencourt Fernandes Leal. A operação cumpriu, ainda, 27 mandados de busca e apreensão em diversos endereços do Rio, Niterói e Guapimirim. A viúva do miliciano foi alvo de um dos três mandados de prisão expedidos pela 1ª Vara Criminal Especializada da Capital mas encontra-se foragida.
O MP-RJ afirma que Júlia Lotufo era a responsável pela contabilidade e pela gestão financeira dos lucros das atividades criminosas — como a liderança da milícia de Rio das Pedras. Júlia também controlava, segundo a denúncia, os valores destinados para uma rede de agiotagem. Os promotores afirmam que, entre 2017 e o início de 2020, os nove denunciados, sob as ordens de Adriano, concediam empréstimos a juros de até 22%, utilizando-se de empresas de fachada.
Uma dessas firmas era a Cred Tech Negócios Financeiros LTDA, da qual o PM Rodrigo Bittencourt — preso nesta segunda-feira — era sócio. A companhia de fachada movimentou, entre 1º de agosto de 2019 a 28 de abril de 2020, R$ 3,6 milhões.
Outro alvo da operação seria o sargento Luiz Carlos Felipe Martins, o Orelha. Mas ele foi morto a tiros por um desconhecido no último sábado (19). O MP-RJ trabalha com a hipótese de queima de arquivo. Ele era homem de confiança de Adriano. Segundo o MP, Martins também era responsável pelo pagamento das despesas pessoais do patrão com aluguel, carros e cartões de crédito.
A mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães e a sua ex-mulher, Danielle Mendonça da Nóbrega, eram funcionárias fantasmas no gabinete de Flávio Bolsonaro. As duas devolviam parte do salário para o deputado e parte ia para Adriano. O miliciano foi homenageado por Flávio Bolsonaro com a Medalha Tiradentes, maior honraria da Assembleia Legislativa do Rio. Martins e o próprio Queiroz também receberam homenagens de Flávio Bolsonaro.
A ex-mulher de Adriano, Danielle Mendonça, foi afastada do cargo de confiança que exercia no gabinete de Flávio por Fabrício Queiroz, logo que estourou o escândalo das rachadinhas. Queiroz passou a tentar destruir provas dos crimes da quadrilha. A mãe do miliciano foi orientada por Queiroz a fugir e se esconder no interior de Minas Gerais para não ser ouvida pelo MP-RJ. Adriano morreu em fevereiro de 2020, numa operação de captura no interior da Bahia.
NEGÓCIOS COMANDADOS PELA MILÍCIA DE RIO DAS PEDRAS
- restaurantes;
- postos de gasolina;
- gado;
- cavalos de raça;
- áreas rurais;
- imóveis;
- carros.
SERVIÇOS PRESTADOS
- mortes por encomenda;
- grilagem de terras;
- construção ilegal de imóveis;
- agiotagem;
- exploração de caça-níqueis;
- cobrança de ágio na água e no gás, vendidos sob monopólio.