
No último dia 29 de outubro, Mestre Môa do Katendê, um dos maiores mestres de capoeira angola, educador, compositor, militante do movimento negro e criador do Afoxé Badauê na Bahia, completaria 67 anos.
Em homenagem ao aniversário, a vida e a obra do Mestre, blocos de carnaval de rua de São Paulo lançaram a canção e o videoclipe “Viva Môa”, uma composição coletiva do Unidos Venceremos, Kaya na Gandaia e Afoxé Amigos de Katendê, este último fundado pelo próprio Môa em parceria com Mestre Plínio, do Centro de Capoeira Angola Angoleiro Sim Sinhô, de São Paulo.
Com uma vida dedicada à cultura popular, Romualdo Rosário da Costa, o Mestre Môa, foi covardemente assassinado durante a última eleição presidencial, vítima da intolerância fascista que o atingiu com 12 facadas nas costas, após uma discussão com um eleitor bolsonarista em um bar em Salvador. A morte de mestre Môa mobilizou milhares de pessoas em homenagens por todo o país, marcadas por salvas de palmas e os grito de “nós não vamos parar”.
A bela homenagem dos blocos paulistas – que pode ser conferida no link abaixo – traz “imagens e falas íntimas de Môa ao mesmo tempo que intercala a percussão potente do ijexá e o vocal confidente do Mestre Gafanhoto, que carrega versos líricos repletos de sentimento. Inspirada nos feitos do homenageado, a letra traça o percurso de Mestre Môa em sua proposta de manifestação e valorização da cultura afro-brasileira. O candomblé, o ijexá, a capoeira, o afoxé, todos os elementos se harmonizam e se somam ao coro vocal e ao arranjo que remetem à tradição e aos ensinamentos do Mestre: Elevação da alma por meio da música e da dança”, afirmam os organizadores do projeto.
A composição está no recém-lançado álbum “Abrindo os Caminhos pro meu Carnaval”, do Kaya na Gandaia e o clipe foi dirigido por Bruno Ferrari.
“A importância de Môa é impossível de se mensurar. “O ritmo dele, a maneira como ele se comportava, como ele se conduzia e interagia com as pessoas era de uma harmonia, de uma paz, de uma tranquilidade, de uma liberdade. Que no jeito de ser dele, ele já nos ensinava”, disse Luis Antonio da Silva, o Mestre Gafanhoto.
O bloco Afoxé Badauê foi fundado por Mestre Môa na década de 1970, em plena ditadura, e se tornou um movimento que, nas palavras de Gilberto Gil, ajudou a ressignificar e popularizar esse universo, adicionando a uma cultura tradicional e popular elementos de transgressão, como a participação de mulheres e brancos, cores às roupas e eletrificação da música. O próprio Môa escreveu: “Misteriosamente, o Badauê surgiu. Sua expressão cultural o povo aplaudiu.”