
Em meio à crise de inflação, carestia e desemprego, multinacional submete metalúrgicos ao arrocho para ampliar seus lucros
Mesmo com alta na demanda, os trabalhadores da Volks de São Bernardo terão os salários reduzidos em 12%. O achatamento se soma aos 12% de redução provocada pela inflação. Alegando falta de autopeças e componentes eletrônicos, a montadora multinacional alemã vai reduzir em 24% a jornada de trabalho. Como funciona em regime de cartel, dessa forma multiplica seus lucros nas costas dos seus funcionários e dos consumidores.
A multinacional emprega hoje 8,2 mil trabalhadores e monta 888,5 mil carros por ano. Em 1980, empregava 43 mil trabalhadores e produzia 780 mil veículos por ano. Aumento estúpido da produtividade extraída dos operários
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, o corte nos salários será aplicado no retorno das férias coletivas de 10 dias dos trabalhadores da produção, entre 27 de junho e 7 de julho. A decisão será válida por 5 anos e foi comunicada aos trabalhadores na 4ª feira, dia 22 de junho.
A empresa vai completar 60 anos que se instalou no país. Emprega hoje 8,2 mil trabalhadores em São Bernardo, sendo 4,5 mil na produção. Monta 888,5 mil carros, por ano. Em 1980, empregava 43 mil trabalhadores e produzia, aproximadamente, o mesmo: 780 mil veículos por ano, conforme informou João Batista, que na época trabalhava na produção da empresa e foi um dos principais líderes da greve de 1980.
Para Batista, além do aumento estúpido da produtividade extraída dos operários, “a Volks aprecia a reforma trabalhista, que revogou mais de 100 direitos da CLT e bloqueou o acesso à Justiça Trabalhista” (afora tornar as entidades sindicais reféns dos patrões). Batista afirmou que “a preferência da fábrica é ainda maior pela terceirização ou pelo trabalhador ‘PJ’, Pessoa Jurídica, esse sem direitos, sem negociação coletiva, sem sindicato”, isto é, trabalho análogo ao trabalho escravo.
As multinacionais importam em média 3 vezes mais equipamentos que as nacionais. Apreciam muito adquirir plantas já instaladas e, muitas vezes, simplesmente fechar as portas pouco tempo depois, extinguindo a concorrência. De 1930 a 1980, o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo, em média, 7% ao ano do PIB (Produto Interno Bruto, soma de tudo que o país produz no ano), com base no investimento público e no mercado interno. De 80 para cá, quando se confiava que o capital estrangeiro era a solução para todos os males, a média de crescimento do PIB foi de magrelos 2%, e a participação da indústria no PIB caiu de 30%, em 1980, para menos de 10%, atualmente. Ou seja, o esforço para atrair o dinheiro de fora desindustrializou o país.
O monopólio não tem apego a nada, a não ser ao lucro. É da sua natureza. A Volks não é diferente.
CARLOS PEREIRA