LÉO DA SILVA ALVES (*)
O presidente da República Federativa do Brasil explicitou a sua posição: “que morram quantos tiverem que morrer”. O plano macabro anunciado publicamente é no sentido de que o isolamento social acabe, as atividades plenas sejam retomadas e morram os que tiverem que ficar pelo caminho para que hipoteticamente se salve a economia (leia-se a possibilidade de reeleição). O que será que pensam aqueles que apoiam essa pregação genocida? O que têm na cabeça pessoas supostamente informadas para se deixarem levar pelo canto fúnebre de uma tragédia humanitária?
Se você não teve – e espero que não tenha –, eu tive gente que amo, em plena capital da República, em isolamento social e, ainda assim, infectada por uma superfície qualquer. Sem atendimento médico, mesmo que houvesse disponibilidade de planos de saúde e de recursos para assistência particular. Dez dias sem teste; dez dias que se prolongam sem receber o olhar de um médico, que fosse pela telemedicina; dez dias a receber alimentos deixados na porta para serem recolhidos à distância, como animais em zoológico. A resposta recebida em todas as buscas é a mesma: o sistema entrou em colapso.
Uma desgraça é a pandemia em si; outra tragédia é ter no comando do Brasil esse vômito das profundezas do inferno; esse subproduto da escória da humanidade; esse verme que sobressaiu dos esgotos mais fétidos e, como manipulador escroto, reúne em torno de si indivíduos igualmente infames, abjetos, travestidos de autoridades. E a eles se acrescentam três filhos de índole perversa, que não parece serem frutos do sagrado ventre da maternidade, mas larvas expelidas por fossas sépticas em transbordamento. E não faltam os ignorantes funcionais, cientistas da Internet, que ajudam a colocar o sagrado país de Vera Cruz no palco da vergonha internacional; e que, usando indevidamente os sagrados símbolos da pátria, insanos e impiedosos, saem às ruas para apoiar a peste do Palácio da Alvorada no propósito de amontoar cadáveres de irmãos de cidadania.
Enfim, a lembrar dos milhares que morreram e que perecerão nesse projeto consciente de um exterminador oficial, afasto-me por instantes do elevado exemplo do Cristo e enveredo, sob a forte emoção, para o justificável ambiente do embrutecimento. O próprio caráter humanista de advogado nesta hora se debate entre a ponderação e as mesuras do ofício, de um lado, e a indignação, por outro turno, contra o atentado coletivo ao mais sagrado valor do direito: a vida.
E assim, àquele que expele morticínio pelo cuspe, desejo que tenha vida longa – longa o suficiente para receber a condenação pelos seus crimes, por meio de tribunais justos, diferentemente do assassinato em série que admite contra pessoas sem defesa; e que quando a morte se aproximar, quando o destino o quiser, que seja lenta e agonizante – lenta para lhe dar o tempo necessário a compungir os seus atos; e agonizante, para que, pela dor lacerante, sirva de funesto modelo a quantos queiram se aventurar no patrocínio à desgraça dos seus povos.
O direito não é o altar da piedade, é o método de distribuir a cada um aquilo que lhe pertence (segundo axioma clássico de Ulpiano); é uma ciência humana e, como tal, em harmonia com o seu núcleo científico, não compactua com qualquer raciocínio à margem da insensatez, assim como, por ser humana, é seu dever o emprego das armas que dispõe para o resguardo dos bens jurídicos comuns e necessários à preservação da humanidade. A voz, o escrito e a contundência sob o lastro da indignação são recursos associados à dignidade da advocacia.
O advogado é um inconformado com a injustiça, com o descaso à ordem legal e tem na causa da pátria a maior das suas causas. É legítimo, ainda, que do seu julgamento íntimo, emanem sentenças gravosas, proporcionais à percepção das ameaças à sociedade da qual faz parte. Os advogados brasileiros enfrentaram cães da polícia e as patas do cavalo branco do general Newton Cruz no auge da ditadura. Não receberam procuração para tanto; agiram investidos pela consciência cívica.
Por isso, exerço o furor em oposição à apatia das instituições. Grito à beira do abismo, como advogado e como alguém que se imagina inserido na civilização. Quem sabe a lucidez faça eco. É certo que, com milícias a serviço do poder, sempre há risco no enfrentamento do arroubo autoritário. Mas que, pelo menos neste espaço, brasileiros saibam que é preciso dizer ao mundo que há um genocídio em curso e uma nação enxovalhada pelos excrementos fétidos que o Chefe de Estado, em atípico processo fisiológico, dejeta pela boca todos os dias.
(*) Léo da Silva Alves é jurista, autor, dentre outros livros, de “A psicopatia na Política e no poder”, lançado em português e italiano.
Descreveu muito bem o “verme que sobressaiu dos esgotos”, o “manipulador, escroto”, etc.. Eu não diria menos.
Mas o senhor deve saber que o sistema só entrou em “colapso” porque Guedes sentou-se sobre todo NOSSO dinheiro e disse que nem um centavo sairia dali para a saúde pública e não saiu.
Eles querem acabar com a saúde pública e só psicopatas não se deteriam diante do que vem acontecendo.
CASSAÇÃO DE CHAPA, antes que Mourão entre e dê continuidade a toda essa destruição.