Wall Street despenca em meio a pânico sobre recessão nos EUA

Semblantes tensos diante das telas de Wall Street (Reprodução)

Bolsa de Tóquio tem queda maior do que em 1987

Os principais índices de Wall Street despencaram nesta segunda-feira (5) devido a temores globais de que os EUA vão entrar em recessão, após os fracos dados econômicos da semana passada, registrou a CNN, que assinalou que as vendas de ações “eram brutais”, com o chamado grupo das “Sete Magníficas” — o motor da bolha da alta tecnologia – “no caminho para perder um valor de mercado combinado de US$ 1 trilhão”.

O pânico havia sido anunciado na sexta-feira, quando os números do emprego nos EUA de 114 mil postos de trabalho ficaram aquém da expectativa de 175 mil, enquanto a taxa de desemprego subia 0,2 pp para 4,3%, e os números do emprego de junho eram revisados para minguados 29 mil. Situação que levou o chefe do Fed, Jerome Powell, a colocar na mesa, para setembro, a perspectiva da primeira redução na taxa de juro básica – depois de meses no patamar de 5,25-5,5, a título de “combater a inflação”.

JAPÃO INDICA RETRAÇÃO

A Bolsa de Tóquio registrou a maior queda em pontos de sua história, refletindo a valorização do iene e os temores sobre a recessão nos EUA. O índice Nikkei 225 despencou 12,4%, o que representa uma perda de 4.451,28 pontos, fechando em 31.458,42 pontos. Queda que superou até mesmo o histórico ‘crash’ de 1987.

A derrocada se estendeu a outras bolsas asiáticas, com Taiwan e Seul caindo respectivamente 5,7% e 3,4%. Na China, as quedas foram mais moderadas: o índice de Xangai caiu 1,4% e o de Shenzhen, 1,8%; Hong Kong recuou 2,1%. Na Europa, as principais bolsas iniciaram a semana em queda, segundo a AFP. Pouco após a abertura, Frankfurt registrava uma queda de 3%, Paris caía 2,6% e Londres recuava 2,3%.

Em Nova Iorque, a Apple caiu 5,2% depois que a Berkshire Hathaway reduziu pela metade sua participação na fabricante do iPhone. A Nvidia recuou 7,6% após relatos de um atraso no lançamento de seus próximos chips de inteligência artificial devido a falhas de projeto. A Microsoft e a Alphabet caíam cerca de 3% cada.

O Dow Jones recuou 2,55%, para 38.723,26 pontos. O Nasdaq Composite recuou 3,59%, a 16.173,47 pontos. No S&P 500, queda de 3,07%, a 5.182,36 pontos, com todos os 11 principais setores do índice negociados em baixa, particularmente na tecnologia da informação e bens de consumo discricionário.

CHEIRO DE QUEIMADO

Na verdade, o cheiro de queimado já começara a exalar na sexta-feira, quando a fabricante de chips Intel viu suas ações despencarem 26% após anúncio de que planejava cortar 15 mil empregos, e com o índice Nasdaq entrando no chamado território de “correção”, que é quando há uma queda de 10% em relação à alta anterior.

Também o índice de volatilidade Vix, tido como o “medidor de medo” de Wall Street, subiu para 29 na sexta-feira, o nível mais alto desde a crise bancária de março de 2023, quando três bancos regionais significativos faliram.

Ainda, o rendimento do título do Tesouro de 10 anos caiu 0,38% em uma semana, atingindo 3,8%, à medida que os investidores buscavam a relativa segurança da dívida do governo e elevaram o preço dos títulos. [Os rendimentos e os preços dos títulos têm uma relação inversa.]

É A ECONOMIA, ESTÚPIDO

Mas não foram apenas os números do emprego que pesaram nessa segunda-feira negra. Na semana passada, o Instituto de Gestão de Suprimentos dos EUA informou: “A atividade econômica no setor manufatureiro contraiu em julho pelo quarto mês consecutivo e pela 20ª vez nos últimos 21 meses”.

Ainda segundo o Asia Times, “uma queda nas horas semanais para o nível mais baixo desde a pandemia de Covid-19 produziu um declínio nos ganhos semanais nominais dos trabalhadores dos EUA. Depois da inflação, isso significa um corte salarial em termos reais”.

Segundo o Zero Hedge, outra fonte de pânico foi a “transição narrativa de ‘pouso suave’ para ‘pouso forçado’ alimentou as chamas da liquidação e alguns apontaram para Kamala Harris ultrapassando Trump nos mercados de previsão como exacerbando a fraqueza das ações”.

Economistas do Goldman Sachs elevaram a possibilidade de que a economia dos EUA entre em recessão nos próximos 12 meses de 15% para 25%.

Por sua vez a Bloomberg observou que o risco elevado de uma desaceleração à medida que o Fed continua sua política monetária restritiva ocorre “no momento em que o grande boom da IA de 2024 estremece após decepções de ganhos de alto perfil e novos temores de que o alarde de investimento ainda não valeu a pena para grande parte da América corporativa”.

No Congresso, senadores democratas acusaram o presidente do Fed, com sua recusa em acelerar o corte de juros, de querer “eleger Trump”.

FIM DE FESTA NO CARRY TRADE?

A derrocada em Tóquio reflete que o esgotamento do maná de capital especulativo direcionado para a compra de ações e títulos norte-americanos, o chamado “carry trade”, com empréstimos obtidos em yens e trocados por dólares aplicados do outro lado do Pacífico, valendo-se do diferencial de juros, praticamente zero no Japão, para o patamar de 5% nos EUA, agora sob ameaça desde que Powell prometeu finalmente baixar os juros nos EUA, embora ele haja prometido que seria de apenas meio ponto percentual.

“Você não pode desfazer o maior carry trade que o mundo já viu sem quebrar algumas cabeças. Essa é a impressão que os mercados nos dão esta manhã”, disse Kit Juckes, estrategista-chefe de câmbio do Société Générale, em uma nota de pesquisa publicada na segunda-feira.

Adicionalmente, a Reuters lembrou que o Banco do Japão aumentou suas taxas de juros pela segunda vez em 17 anos na semana passada, o que leva a estreitar o diferencial de juros que move o chamado carry trade. Nesta segunda-feira, a cotação da moeda japonesa – no sentido contrário ao que acontece no Brasil – foi ao recorde de 141,73 para 1 dólar, quando era de 162 por dólar em julho.

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