
A Walmart anunciou nos EUA que irá aumentar preços até o fim do mês, ou seja, irá repassar aos consumidores o tarifaço de Trump, mesmo em sua versão atenuada válida por 90 dias, recentemente negociada entre Washington e Pequim.
“Dada a magnitude das tarifas, mesmo nos níveis reduzidos anunciados esta semana, não somos capazes de absorver toda a pressão, dada a realidade das margens estreitas do varejo”, disse o CEO do Walmart, Doug McMillon, em uma teleconferência de resultados na quinta-feira, de acordo com a CNN.
O Walmart ficou aquém das estimativas de vendas trimestrais, já que nem mesmo o maior varejista do mundo escapou do efeito bumerangue do tarifaço de Trump.
Em entrevista à CNBC, o diretor financeiro John David Rainey disse que as tarifas “ainda são muito altas” – mesmo com o acordo recentemente anunciado para reduzir as tarifas sobre as importações da China para 30% por 90 dias. [Imagine-se quando estavam a 145%! Ou quando Trump escalou para “245!”]
“Estamos preparados para preços baixos todos os dias, mas a magnitude desses aumentos é maior do que qualquer varejista pode absorver”, disse ele. “É mais do que qualquer fornecedor pode absorver. E então estou preocupado que o consumidor comece a ver preços mais altos. Você começará a ver isso, provavelmente no final deste mês, e certamente muito mais em junho”.
Cerca de um terço do que o Walmart vende nos EUA vem de outras partes do mundo, com China, México, Canadá, Vietnã e Índia representando seus maiores mercados de importação, disse Rainey na videoconferência na quinta-feira.
McMillon reconheceu que as tarifas sobre a China, em particular, criam a maior pressão de custos sobre brinquedos e eletrônicos. Ele também admitiu que as tarifas sobre países como Costa Rica, Peru e Colômbia pressionaram os preços de bananas, abacates e café.
Em entrevista à CNBC na quinta-feira, Rainey disse que a empresa está trabalhando com fornecedores para tentar manter os preços baixos. Mas, ele acrescentou, “isso é um pouco sem precedentes em termos de velocidade e magnitude em que os aumentos de preços estão chegando”.
“Se um varejista tão grande quanto o Walmart não pode escapar da dor das tarifas, que chance uma pequena empresa tem?”, postou o líder da oposição no Senado, Chuck Schumer, um dos autores de um projeto de lei que exigiria que os grandes varejistas exibissem quanto do preço de um item decorre de tarifas. “As tarifas de Donald Trump nada mais são do que um aumento de impostos sobre os consumidore”, acrescentou o senador democrata.
Visto por outro ângulo, esse “imposto sobre os consumidores” de Trump recai especialmente sobre os trabalhadores e a classe média, que é que vão sentir o principal repuxo.
A Casa Branca ainda não se pronunciou sobre o anúncio da Walmart. No mês passado, relatos de que a Amazon passaria a exibir o aumento de preço decorrente das tarifas online foram classificados pela porta-voz Karoline Leavitt como um “ato hostil e político” e a gigante online recuou.
Esse anúncio da Walmart acaba contribuindo para a discussão sobre quem piscou primeiro no impasse EUA x China nas tarifas.
Para o Wall Street Journal, “raramente uma política econômica foi repudiada de forma tão sólida e rápida quanto as tarifas do Dia da Libertação do presidente Trump – e pelas próprias mãos de Trump. Testemunhe o acordo na manhã de segunda-feira para reduzir suas tarifas punitivas sobre a China – seu segundo grande recuo em menos de uma semana. Esta é uma vitória para a realidade econômica e para a prosperidade americana.”
Ainda segundo o WSJ, “a tarifa de 30% ainda é excepcionalmente alta para um grande parceiro comercial, mas a reversão de 90 dias poupa ambos os lados do que parecia ser uma crise econômica iminente. Os consumidores dos EUA enfrentavam escassez generalizada, enquanto a China temia o aumento do desemprego.”
O principal colunista de economia do The New York Times, o Nobel Paul Krugman, concordou, observando que “é uma boa notícia que Trump pisou no freio antes de cair completamente do penhasco. Mas se você acha que a racionalidade voltou ao processo político, que os dias de governo por capricho ignorante ficaram para trás, você ficará muito desapontado”.
“Esse recuo provavelmente não chegou cedo o suficiente para evitar preços altos e prateleiras vazias. Mesmo que os embarques de Xangai para Los Angeles – que praticamente pararam – fossem retomados amanhã, as coisas não chegariam a tempo de evitar o esgotamento dos estoques atuais.”