
O colunista de assuntos internacionais do jornal norte-americano The Washington Post, Ishaan Tharoor, avalia que o “o bullying de Trump contra Brasil está saindo pela culatra” e tem favorecido a formação de uma frente contra a ingerência estrangeira.
“As ameaças tarifárias de Trump levaram outros países da região a se curvarem em direção a Washington. Mas a economia brasileira é maior e mais diversificada do que a de seus vizinhos, e seu líder percebeu uma oportunidade na crise”, avalia o colunista.
Um experiente diplomata brasileiro falou ao Washington Post, na condição de anonimato, que as taxas anunciadas por Trump e apoiadas por Bolsonaro foram um presente antecipado do Papai Noel.
“O Papai Noel chegou cedo para o presidente Lula, e o presente foi enviado por Trump por meio desse ataque desajeitado à soberania do Brasil, a fim de proteger um aspirante a ditador e um claro perdedor”, disse o diplomata.
Ao mesmo tempo, Jair Bolsonaro e seus aliados têm recebido a rejeição de grupos em que era forte: as “comunidades financeira e empresarial estão se virando contra eles”.
Nesse cenário, as pesquisas mostram que Lula tem ganhado apoio frente ao ataque dos EUA “provocado por Bolsonaro”.
Ishaan Tharoor comentou que o presidente Lula tem enfrentado a tentativa de Donald Trump de interferir no julgamento de Jair Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Lula tem feito discursos e dado entrevistas enfrentando Donald Trump. O colunista mencionou a fala de Lula dizendo que Trump “foi eleito para governar os EUA, não para ser o imperador do mundo”. O presidente do Brasil também falou, em pronunciamento, que os EUA têm feito uma “chantagem inaceitável em forma de ameaças às instituições brasileiras”.
Tharoor continua: “Ele [Lula] apareceu em comícios ostentando um boné azul característico, com fonte semelhante aos itens da campanha MAGA [Make America Great Again] de Trump, estampado com o slogan ‘O Brasil pertence aos brasileiros’”.
O ministro do STF e relator do processo em que Bolsonaro é réu, Alexandre de Moraes, “também parece inabalável”. “Na sexta-feira, ele assinou uma ordem punitiva contra Bolsonaro, acusando-o de conspirar com seu filho para incitar hostilidades contra o Brasil e desestabilizar o país. Bolsonaro está impedido de entrar em contato com governos estrangeiros e é obrigado a usar tornozeleira eletrônica”.
Um membro do Departamento de Estado falou à coluna que “é difícil imaginar um ato da administração Trump na relação EUA-Brasil que fosse mais prejudicial à credibilidade dos EUA na promoção da democracia do que sancionar um juiz da Suprema Corte de um país estrangeiro porque não gostamos de suas opiniões judiciais”.
O artigo no jornal dos EUA ainda cita a fala do professor de história da Universidade de Louisiana, Andre Pagliarini, de que “o que era para ser uma demonstração do MAGA e de sua franquia brasileira se transformou em um presente político para Lula, que agora pode se apresentar de forma credível como um símbolo da resistência nacional, enquanto deixa seus oponentes lutando para escolher entre a lealdade a Bolsonaro e os interesses econômicos de sua própria base”.