
Advogado da família Bolsonaro recebeu polpudas quantias da empresa para obter benefícios milionários do governo Federal. Wassef também recebeu R$ 9,8 milhões da JBS para que Aras a mantenha acordo que seria desfeito
Se alguém pensava que Frederick Wassef escondeu Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro em sua casa de Atibaia, no interior de São Paulo sem receber nada por isso, se enganou redondamente. O Coaf (Conselho do Controle de Atividades Financeiras), órgão que Bolsonaro fez de tudo para extinguir, detectou movimentações milionárias em sua conta, depositadas por uma empresa que tem polpudos contratos com o governo federal.
A empresa é a Globalweb Outsourcing, que pertence de fato à ex-mulher de Wassef, Maria Cristina Boner Leo Silva, apesar de estar em nome da filha, Bruna Boner Leo Silva. Ela tem contratos com a Dataprev, a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência, vinculada ao Ministério da Economia e com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), vinculada ao Ministério da Educação.
Entre dezembro de 2018 e maio de 2020, Frederick Wassef recebeu repasses da empresa de R$ 2,3 milhões. Além disso, as contas correntes do escritório de advocacia de Wassef também foram abastecidas com R$ 1,04 milhão pela empresa Globalweb. A mesma empresa que, durante o governo de Jair Bolsonaro, obteve novos contratos num valor total de R$ 53 milhões.
Também na gestão de Bolsonaro, a empresa obteve dois aditivos em outro consórcio junto à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), vinculada ao Ministério da Educação, em um contrato questionado pela Controladoria-Geral da União (CGU) – uma auditoria do órgão apontou prejuízo na ata de preços em que ele estava baseado. Após os aditivos, o valor final do negócio chegou a R$ 37,4 milhões, segundo o Portal da Transparência.
Em mais uma coincidência, o governo Bolsonaro suspendeu em março do ano passado, segundo reportagem de junho de O Globo, uma multa de R$ 27 milhões aplicada a um consórcio de empresas contratado em 2014, mas que não entregou os serviços previstos pela Dataprev. Entre os membros do consórcio multado está a Globalweb Outsourcing.
O relatório do Coaf afirma que Wassef foi “objeto de comunicações de operações suspeitas” e depois descreve que, entre julho de 2015 e junho de 2020, “os créditos no período totalizaram R$ 14 milhões” em duas contas correntes das quais ele é titular.
“Os créditos no período totalizaram R$ 14 milhões” em duas contas correntes das quais Wassef é titular”
No documento, foi apontado que, ao todo, desde agosto de 2018, Bruna Boner Leo Silva, ex-enteada de Wassef, enviou valores para a conta dele que “totalizaram R$ 3.259.822,47 realizados por meio de 19 transações” até 2020. No período em que já atuava nos bastidores como advogado do senador Flávio Bolsonaro, de 5 de dezembro de 2018 até 11 de fevereiro de 2020, Fred recebeu de Bruna um total de R$ 2.374.688,88. Foram 8 transferências, quase sempre no início do mês, de R$ 109,3 mil e, duas maiores em fevereiro deste ano, de mais R$ 1,5 milhão.
No relatório, o Coaf registra ainda que “os dois créditos com total de R$ 1,5 milhão, realizados nos dias 10 e 11 de fevereiro de 2020, informados acima foram amparados após o recebimento de recursos da Globalweb Outsourcing do Brasil Ltda. Além disso, as contas de Wassef também receberam R$ 360 mil de Maria Cristina Boner. A empresa Maisdois x Tecnologia em Dobro, que pertence à holding da Globalweb, também fez um pagamento de R$ 1,070 milhão no período que o relatório do Coaf abrange, de 2015 a 2018.
Mensagens encontradas nos celulares apreendidos da família de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro revelam que ele e seu filho também usaram um apartamento em São Paulo da empresária Maria Cristina Boner Leo para se esconder , em novembro de 2019. Até então, os investigadores só haviam descoberto dois endereços de Wassef utilizados como refúgio do ex-assessor de Flávio durante o ano passado: o sítio, em Atibaia, onde Queiroz foi preso, e apartamentos no Guarujá.
Ao apresentar o relatório, o Coaf descreve que “apesar de não haver participação formal de Frederick Wassef no grupo econômico ocorre intenso relacionamento financeiro deste com pessoas e empresas ligadas ao grupo TBA, ao longo dos últimos anos”. TBA era o nome do grupo criado por Maria Cristina Boner, depois transformado na holding GlobalWeb Sourcing.
No caso do escritório Wassef & Sonnenburg Sociedade de Advogados, as contas foram objeto de “comunicações de operações suspeitas motivadas principalmente por resistência ao fornecimento de informações acerca das movimentações havidas na conta da empresa consideradas incompatíveis com a atividade”.
JBS PAGOU R$ 9,8 MILHÕES A WASSEF
Outras movimentações suspeitas de Wassef foram feitas junto à JBS. O procurador-geral da República, Augusto Aras, foi instado a dar um prazo de dez dias para que os delatores da JBS esclareçam pagamentos feitos pela empresa ao advogado Frederick Wassef. O escritório de advocacia Wassef & Sonnenburg recebeu, segundo a TV Globo apurou, R$ 9,8 milhões entre os anos de 2015 e 2020. As movimentações financeiras também foram identificadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Segundo a revista Crusoé, o presidente Jair Bolsonaro teria pedido a Aras que conversasse com Wassef sobre o acordo de colaboração da JBS. A PGR negou que Aras tenha recebido qualquer solicitação de Bolsonaro e “não participou de nenhum dos contatos que trataram de eventual proposta de repactuação do acordo de colaboração premiada da JBS com envolvimento do advogado Frederick Wassef”.
Em nota, o advogado Frederick Wasseff negou ter tratado qualquer tema relacionado à JBS com o procurador Augusto Aras e disse que não atuou junto à PGR em nome da JBS no fim de 2019. A JBS diz que os serviços prestados por Wassef foram em inquéritos na esfera policial – apesar de Wassef não ser da área – e que esses serviços foram pagos com a emissão de notas fiscais. A empresa não quis dar detalhes dos pagamentos e disse que os valores e explicações do contrato são protegidos por sigilo legal.