O ministro da Educação, Abraham Weintraub, confirmou o corte de 30% da verba de custeio de três universidades federais – a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Segundo Weintraub, toda universidade federal onde houver o que chamou de “balbúrdia”, terá sua verba cortada, pois “a universidade deve estar com sobra de dinheiro para fazer bagunça e evento ridículo” .
Perguntado sobre o que queria dizer com “balbúrdia”, “bagunça” e “evento ridículo”, Weintraub respondeu: “Sem-terra dentro do campus, gente pelada dentro do campus”.
Em entrevista ao “Estado de S. Paulo”, Weintraub afirmou que vai cortar recursos de universidades que não apresentarem “desempenho acadêmico”.
Tanto a UnB, quanto a UFBA, quanto a UFF estão entre as universidades de melhor desempenho do país. No caso da UnB e da UFBA, elas estão no ranking das melhores universidades do mundo. Todas as três estão entre as 20 universidades com maior produção científica do país.
Portanto, Weintraub está apenas reeditando a retórica da “baderna”, da época da ditadura.
Com uma diferença: em 21 anos de ditadura, jamais uma universidade federal teve suas verbas cortadas por motivos políticos. Isso, a ditadura, faça-se justiça, jamais fez, embora tenha invadido algumas universidades para reprimir manifestações ou prender opositores do regime, além de estabelecer um estado de sítio em torno delas.
“Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas”, repetiu o ministro. Segundo ele, a próxima será a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais, que “está sob avaliação”.
Weintraub não detalhou quais manifestações políticas ocorreram nas universidades citadas, mas disse que esse não foi o único ponto observado: “A lição de casa precisa estar feita: publicação científica, avaliações em dia, estar bem no ranking”.
Em tudo isso, a UnB, UFBA e UFF são das melhores universidades do país.
Questionado se essa forma de escolha caracteriza, na prática, uma “lei da mordaça” nas universidades, ferindo a liberdade de expressão de alunos e professores, ele afirmou que “só tomaremos medidas dentro da lei. Posso cortar e, infelizmente, preciso cortar de algum lugar”.
As verbas cortadas por ele já estavam previstas no Orçamento. Portanto, não havia qualquer necessidade de cortar nada.
“Razão para corte é injustificável, diz reitor da UFBA
O reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), professor João Carlos Salles, disse receber com surpresa o anúncio do corte de 30% na sua dotação orçamentária. O valor representa uma perda de R$ 230 milhões para a UFBA.
“Recebemos com surpresa a notícia. Sabíamos do registro do corte, mas queríamos a razão. Se são essas, são injustificáveis”, afirmou o reitor ao portal Metro1.
“A universidade é um lugar de liberdade de expressão, apresentação pública de pesquisas, relação com a sociedade, com os setores mais diversos, como é próprio da universidade”, apontou o reitor da UFBA, universidade mais antiga do país.
Segundo o reitor, o valor abatido irá atingir áreas de custeio, como despesas com fornecedores, manutenção, segurança e luz elétrica. Ele disse que ainda não crê em perseguição política: “Nenhuma pessoa que compreende que faz o seu papel pode imaginar perseguição política”.
UnB é lugar para o “debate livre, crítico, com tolerância e respeito”
Em nota, a UnB diz que não foi oficialmente comunicada de corte em seu orçamento. “A instituição está, neste momento, avaliando a situação e tem a expectativa de que o bloqueio possa ser revertido”.
A UnB ressalta também que é uma das universidades reconhecidas pela excelência acadêmica no país, atestada em rankings nacionais e internacionais. “Temos nota 5, a máxima, no Índice Geral de Cursos (IGC) do MEC, a avaliação oficial da pasta para os cursos de graduação. Também somos a 8ª melhor universidade brasileira, segundo avaliação do Times Higher Education (THE), uma organização britânica que acompanha o desempenho de instituições de ensino superior em todo o mundo. Há dois anos, ocupávamos a 11ª posição”.
Por último, afirmou que a Administração Superior da UnB não promove eventos de cunho político-partidário em seus espaços. “Como toda universidade, a UnB é palco para o debate livre, crítico, organizado por sua comunidade, com tolerância e respeito à diversidade e à pluralidade”.