O ministro Abraham Weintraub (Educação) não respondeu as perguntas e entregou por escrito seu depoimento à Polícia Federal na quinta-feira (4).
Ele insistiu na provocação de que o governo chinês teria criado o coronavírus em laboratório.
Na saída, na porta da PF, apoiadores bolsonaristas levantaram Weintraub sobre os ombros. Entre os apoiadores estavam terraplanistas, monarquistas e fundamentalistas de toda a espécie.
O depoimento de Weintraub faz parte do inquérito que investiga a publicação racista feita pelo ministro de Jair Bolsonaro contra os chineses.
Em um megafone, disse: “liberdade é a coisa mais importante numa democracia e a primeira coisa que vão tentar calar é a liberdade de expressão”.
Weintraub é o ministro que na reunião ministerial de 22 de abril, divulgada através de vídeo autorizado por determinação do STF, disse que, por ele, “botava todos esses vagabundos na cadeia, começando no STF”. É isso o que ele entende por democracia.
Pela lei e por todos os que têm juízo, liberdade de expressão tem limites. Não é liberdade de expressão caluniar, difamar e discriminar racialmente. Racismo é crime inafiançável, não é “liberdade de expressão”.
Na estapafúrdia teoria do ministro, a China criou o vírus em laboratório para vender equipamentos de tratamento para todos os países do mundo. Para ele, a participação do governo chinês “na pandemia não é mera ilação”. “Hoje há fortíssimas evidências que o vírus foi criado em laboratório”, disse.
O ministro não apresentou nenhuma evidência, muito menos provas do que disse. Tal sandice não é sustentada por nenhuma autoridade de saúde do mundo e até os norte-americanos a desmentem.
Weintraub publicou no seu Twitter uma imagem da “Turma da Mônica” e colocou uma legenda trocando os “L” por “R” e insinuando que a China se beneficia com a crise.
A embaixada da China no Brasil respondeu na época que “deliberadamente elaboradas, tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil”.
A Maurício de Sousa Produções emitiu uma nota dizendo que não autorizou ao uso de seus personagens nas postagens de Weintraub e fez questão de destacar que tem uma relação de muitos anos de amizade e admiração ao povo da China.
“A nossa primeira publicação naquele país foi justamente sobre o descobrimento do Brasil. E, por aqui, fizemos um Saiba Mais! (nossa publicação que aborda diversos assuntos educativos) para mostrar um pouco da rica História da China para os leitores brasileiros. Porque há 60 anos, a Turma da Mônica preza pela amizade entre todos os povos. E continuará sendo assim”, completou a empresa, em nota divulgada no dia 6 de abril.
Em seu texto entregue à PF, Weintraub também alegou que não acha “coerente com os princípios da boa-fé que possam imputar a mim crime de racismo”.
O “imprecionante” (como ele escreveu no Twitter certa vez) ministro da Educação falou ainda que “o conteúdo da postagem foi pensado para que eu pudesse abordar um tema da maior seriedade, sem ser enfadonho, na dinâmica própria das redes sociais”.