Witzel censura exposição que tinha instalação sobre ditadura

Obra com baratas de mentira, um bueiro e um sistema de som de onde saía uma gravação com declarações públicas de Bolsonaro que foram substituídas por receita de bolo

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, ordenou que a exposição ‘Literatura Exposta’ fosse encerrada neste domingo (13), antes da data prevista, pois a performance que marcaria o fim da mostra fazia referência à tortura durante a ditadura militar no Brasil.

A mostra estava em cartaz na Casa França-Brasil, que pertence à Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, desde 4 de dezembro. A performance do coletivo de artistas “És Uma Maluca” continha também nudez feminina.

Álvaro Figueiredo, curador da exposição, publicou nas redes sociais. “Informamos que amanhã, domingo, dia 13 do corrente mês, a Casa França-Brasil estará fechada para o público, por ordem do excelentíssimo senhor Governador Wilson Witzel, considerando que a programação para o dia referido, conforme informada a direção do equipamento público, não se encontra presente no contrato previamente assinado”.

Figueiredo, ainda denunciou o ato de censura do governo Witzel. “Fecharam nossa exposição um dia antes da data oficial como forma de impedir que as performances […] acontecessem”.

Mesmo antes de ser aberta, a exposição “Literatura Exposta” já havia sofrido censura. Também do coletivo És Uma Maluca, a obra “A Voz do Ralo É a Voz de Deus”, foi vetada pelo diretor da Casa França-Brasil, Jesus Chediak.

A proposta original do grupo era que milhares de baratas de plástico se espalhassem por cima e ao redor de um bueiro instalado sobre azulejos, no piso da instituição e de lá, além das baratas, também sairia a voz do agora presidente Jair Bolsonaro (PSL). Chediak proibiu o uso dos discursos então uma receita de bolo entrou em seu lugar.

Um conto do escritor Rodrigo Santos foi a inspiração para “A Voz do Ralo É a Voz de Deus”. O texto fala sobre uma mulher torturada com baratas introduzidas em sua vagina, durante a ditadura militar.

De acordo com o curador, há uma semana, o coletivo pediu para realizar a performance. “Nós combinamos tudo direitinho, explicando o conteúdo da performance e enviamos para a direção da Casa França-Brasil para não ter nenhum tipo de problema”, relata Alvaro. A resposta, segundo ele, veio na sexta-feira (12), por e-mail, em que, a Casa França-Brasil afirma que o espaço deve ter um controle de acesso, permitindo somente a entrada de maiores de 18 anos e que o local “não se responsabiliza por qualquer incidente que possa ocorrer durante e após a performance”.

No entanto, na manhã de domingo, quando aconteceria a apresentação, Alvaro foi surpreendido com o comunicado que aponta que a programação para o dia “não encontra-se presente no objeto de contrato previamente assinado”, o que culminou no cancelamento da exposição.

Em entrevista na tarde deste domingo (13), o governador Wilson Witzel disse que o cancelamento aconteceu devido a “descumprimento de contrato” porque supostamente os organizadores não avisaram o governo que haveria uma performance envolvendo nudez no espaço.

“A Casa França-Brasil é administrada pelo estado e havia sim uma exposição autorizada pelo secretário de Cultura e nessa exposição não havia nenhuma performance humana, muito menos com nudismo. Então a questão não é a performance, não é o coletivo e não se trata de censura. Se trata do descumprimento do contrato. O contrato foi descumprido e uma vez descumprido ele não pode ser executado no espaço público”, disse Witzel.

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