
O governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel (PSC) afirmou que o delegado Giniton Lages, responsável pelas investigações dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, vai deixar a função para fazer um intercâmbio com a polícia italiana para estudar máfia e movimentos criminosos.
De acordo com Witzel, Lages estava “esgotado” após conduzir as investigações da primeira etapa do caso e, com a chance de “troca de experiência” entre o estado do Rio de Janeiro e outras instituições estrangeiras, como a polícia da Itália e o FBI, o delegado vai ter quatro meses para participar de iniciativas nesse sentido, sem ser exonerado do seu cargo.
“Fiz o convite porque ele estava cansado, esgotado. O conhecimento da investigação foi compartilhado com outros delegados. Não foi o Giniton (Lages) que colheu as provas, mas quem direcionou. Neste momento, você colocar outra pessoa que esteja até mais tranquilo para continuar é natural. É uma questão até de melhoria da capacidade investigativa. Neste momento ele tem outra missão: colaborar para disseminar o que foi adquirido”, justificou o governador do Rio.
A certeza dada pelo governador, não é confirmada pelo delegado. Giniton disse em entrevista ao portal “G1” que a decisão sobre o convite para o intercâmbio com a polícia italiana “está sendo tratada”. “Houve uma sondagem, não foi nada decidido ainda. Estamos conversando”, frisou.
O afastamento de Lages, que é titular da DH (Delegacia de Homicídios) do Rio, chega num momento importante do desvendamento do caso: a prisão de dois suspeitos de atirar e dirigir o carro usado na emboscada, respectivamente o sargento reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Queiroz.
A investigação comandada por Lages descobriu que o assassino de Marielle vive no mesmo condomínio, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, que o presidente Jair Bolsonaro (PSL), descobriu ainda que a filha do policial aposentado é ex-namorada do filho homem caçula do presidente, Jair Renan Bolsonaro.
Lages também é responsável por, dentro da investigação do caso Marielle, organizar a maior apreensão de fuzis contrabandeados da história do Rio de Janeiro. Ao todo foram 117 fuzis M16 encontrados na casa de um amigo de Ronnie Lessa, lá guardados a mando do assassino da vereadora.
Ronnie, quando policial da ativa, fazia parte do 9ºBPM (Rocha Miranda), chefiado, em muitos momentos, pelo tenente-coronel Cláudio Luiz Silva de Oliveira, condenado a 36 anos de prisão, por ter mandado matar a juíza Patrícia Acioli, que foi responsável pela prisão de cerca de 60 policiais ligados a milícias e grupos de extermínio.
Sobre acusações que classificou como “o maior absurdo”, Witzel também afirmou que nunca “vilipendiou” a memória de Marielle Franco, e que ainda não tinha recebido a família da vereadora no Palácio Guanabara, foi por “uma questão de agenda”. Na campanha eleitoral, ele apareceu sorrindo em carro de som ao lado de candidatos a deputados que quebraram a placa em homenagem a Marielle. Logo após a repercussão negativa dessa afirmação, o Witzel arrumou um espaço em sua agenda e recebeu os familiares da vereadora assassinada, na tarde de quarta-feira, 13.