Xi e Trump firmam acordo: EUA recua de sanções e tarifaço e China suspende contramedidas

Xi Jinping e Trump: aperto de mão em Seul (Vídeo da AFP)

Os presidentes Xi Jinping e Donald Trump se reuniram em Busan, Coreia do Sul, durante a cúpula da Associação de Cooperação Ásia-Pacífico (Apec), e consagraram os acordos negociados por China e EUA para estabilizar as relações econômicas entre os dois países, que passam por enorme estresse sob a guerra tarifária e tecnológica desencadeada por Washington e conseqüentes contramedidas chinesas.

Os dois presidentes saudaram o encontro como um passo à frente, com o presidente Xi destacando sua disposição de “construir uma base sólida para os laços bilaterais e criar uma atmosfera sólida para o desenvolvimento de ambos os países” e enfatizando o “importante consenso” alcançado.

“Acredito que foi uma reunião incrível”, disse Trump após o encontro com Xi, a quem elogiou como “um tremendo líder de um país muito poderoso” e de quem é “um bom amigo há muitos anos”. Ele anunciou ainda que visitará a China em abril.

Os Estados Unidos e a China sempre tiveram “um relacionamento fantástico, e será ainda melhor”, acrescentou Trump, expressando sua esperança de um futuro ainda melhor para a China e os Estados Unidos, segundo a AFP.

Dirigindo-se ao seu eleitorado, Trump asseverou que Pequim “vai comprar grandes quantidades, enormes quantidades de soja e outros produtos agrícolas de forma imediata”. Ele também destacou o acordo de suspensão por um ano dos controles chineses sobre as terras raras, essenciais para defesa e alta tecnologia, em troca de recuo análogo dos norte-americanos.

Esses acordos, dada a agressividade da política norte-americana em tempos de Make America Great Again, só se tornaram possíveis dada a recusa da China de se sujeitar a condições desiguais, embate cujo ponto crítico foi quando Trump chegou a elevar as tarifas para 145%, com Pequim retrucando com 125%, até que as negociações fossem retomadas.

Observe-se que, com honrosas exceções, aos demais países Trump simples e arbitrariamente instituiu uma “tarifa recíproca”, sob um conceito inexistente do ponto de vista da lógica econômica e diplomática, e ainda exigiu dos “parceiros” um “investimento” forçado dentro dos próprios EUA para redução da extorsão a um patamar um pouco menos irrazoável.

O ACORDO

Assim, de acordo com um porta-voz do Ministério do Comércio Exterior da China (MOFCOM), o lado dos EUA removerá as chamadas “tarifas de fentanil” de 10% e suspenderá, por mais um ano, as tarifas recíprocas de 24% cobradas sobre produtos chineses, incluindo produtos da Região Administrativa Especial de Hong Kong e da Região Administrativa Especial de Macau.

A China fará ajustes correspondentes em suas contramedidas contra as tarifas dos EUA, disse o porta-voz, observando que ambos os lados concordaram em continuar estendendo certas exclusões tarifárias.

Os EUA suspenderão por um ano a implementação de uma nova regra anunciada em 29 de setembro que expande suas restrições de exportação de “lista de entidades” para qualquer entidade que seja pelo menos 50% de propriedade de uma ou mais entidades na lista (referente a chips e software). A China suspenderá a implementação de medidas relevantes de controle de exportação (de terras raras) anunciadas em 9 de outubro por um ano e estudará e refinará planos específicos, disse o porta-voz.

Os EUA suspenderão a implementação de medidas sob sua investigação da Seção 301 visando as indústrias marítima, logística e de construção naval da China por um ano. Em resposta, a China suspenderá correspondentemente a implementação de suas contramedidas contra os EUA por um ano assim que a suspensão dos EUA entrar em vigor, de acordo com o porta-voz.

Além disso, os dois lados também chegaram a um consenso sobre questões como cooperação antidrogas em fentanil, expansão do comércio de produtos agrícolas e tratamento de casos individuais envolvendo empresas relevantes, de acordo com o porta-voz.

Ambos os lados reafirmaram ainda os resultados das negociações de Madri. O lado dos EUA assumiu compromissos positivos em áreas como investimento, e a China resolverá adequadamente as questões relacionadas ao TikTok com o lado dos EUA, disse o porta-voz.

As negociações econômicas e comerciais China-EUA em Kuala Lumpur produziram resultados positivos, demonstrando que, ao manter o espírito de igualdade, respeito e benefício mútuo, e por meio do diálogo e da cooperação, os dois lados podem encontrar soluções para os problemas, disse o porta-voz.

Observando que os resultados são duramente conquistados, o porta-voz disse que a China espera trabalhar com os EUA para garantir conjuntamente a implementação dos resultados e injetar mais certeza e estabilidade na cooperação econômica e comercial bilateral, bem como na economia mundial.

Antes desse novo acordo, a China pensava que, depois do impasse de abril-julho, havia sido alcançado certo consenso entre as partes em Madri, mas em setembro Trump apertou ainda mais o torniquete no caso dos chips de Inteligência Artificial, levando Pequim a retaliar com medida no essencial simétrica em relação às terras raras, cuja refinação é a China que domina, além de também dominar a própria mineração, e sem as quais nem a indústria de defesa, automóveis, aviação e alta tecnologia funcionam.

A extrema belicosidade de Trump nessas questões, e recuos quando a realidade se impõe sobre seus desejos é que levou seus adversários políticos nos EUA a lhe pespegarem o apelido de “TACO” – Trump Always Chicken Out (Trump sempre amarela).

“O DIÁLOGO É MELHOR QUE O CONFRONTO”, EXPLICA XI

Na reunião com Trump, segundo o Global Times, o presidente Xi destacou que  a China e os Estados Unidos “devem ser parceiros e amigos. Isso é o que a história nos ensinou e o que a realidade precisa”.

Dadas as diferentes condições nacionais, os dois lados nem sempre concordam um com o outro, e é normal que as duas principais economias do mundo tenham atritos de vez em quando, acrescentou Xi.

“Você e eu estamos no comando da China-EUA.”, disse Xi. “Diante de ventos, ondas e desafios, devemos manter o curso certo, navegar pela paisagem complexa e garantir a navegação constante do navio gigante das relações China-EUA”.

Muito ao estilo chinês, Xi observou que “o diálogo é melhor do que o confronto”, acrescentando que a China e os Estados Unidos devem manter a comunicação por meio de vários canais e em vários níveis para melhorar o entendimento mútuo.

A relação comercial, disse Xi, deve continuar a servir como âncora e força motriz para as relações de cooperação China-EUA, não uma pedra a tropeçar ou um ponto de atrito.

“Os dois lados devem pensar grande e reconhecer o benefício de longo prazo da cooperação, e não devem cair em um ciclo vicioso de retaliação mútua, acrescentou, pedindo às duas equipes que continuem suas negociações no espírito de igualdade, respeito mútuo e benefício mútuo, e encurtem continuamente a lista de problemas e aumentem a lista de cooperação.”

“Os dois lados devem pensar grande e reconhecer o benefício de longo prazo da cooperação, e não devem cair em um ciclo vicioso de retaliação mútua, acrescentou, pedindo às duas equipes que continuem suas negociações no espírito de igualdade, respeito mútuo e benefício mútuo, e encurtem continuamente a lista de problemas e aumentem a lista de cooperação.”

“O mundo hoje é confrontado com muitos problemas difíceis. A China e os Estados Unidos podem assumir conjuntamente nossa responsabilidade como grandes países e trabalhar juntos para realizar coisas mais grandiosas e concretas para o bem de nossos dois países e do mundo inteiro”.

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