O presidente chinês, que dirigiu a 14ª Cúpula dos BRICS, conclamou os demais integrantes do bloco a atuarem juntos por “ganhos compartilhados e prosperidade comum”
No Diálogo de Alto Nível sobre o Desenvolvimento Global, realizado como desdobramento da 14ª Cúpula dos BRICS em formato digital na sexta-feira (24), o presidente chinês e anfitrião Xi Jinping convocou a “juntos promover o desenvolvimento global com grande solidariedade e motivação”, que tenha como paradigma apresentar “benefício para todos, equilíbrio, coordenação, inclusividade, cooperação de ganhos compartilhados e prosperidade comum”.
O presidente Xi alertou ainda que “alguns países politizam e marginalizam o tema do desenvolvimento, constroem um ‘pequeno quintal com muros altos’, impõem sanções máximas e provocam deliberadamente divisões e confrontos”, ao mesmo tempo em que “a vontade pela paz, desenvolvimento e cooperação dos povos de todos os países está ainda mais forte, os mercados emergentes e países em desenvolvimento estão mais determinados em realizar o fortalecimento mediante união”.
Os BRICS – bloco integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, em sua cúpula realizada nos dias 23 e 24, se comprometeram, na Declaração de Pequim, com o multilateralismo; a governança global mais inclusiva e representativa e participativa; o direito internacional e o papel central das Nações Unidas no sistema internacional. Seus integrantes representam 40% da população mundial, respondem por 25% da economia global e 18% do comércio mundial e contribuem com 50% para o crescimento econômico mundial.
Nenhuma das nações do BRICS se juntou aos países ocidentais nas sanções econômicas contra a Rússia, deixando claro que a solução do conflito na Ucrânia deve passar por um processo negociado e não por sanções.
Por videoconferência, presidida este ano pela China, desde Pequim, manifestaram-se o presidente russo Vladimir Putin, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, o presidente brasileiro e o sul-africano Cyril Ramaphosa.
Na abertura da cúpula, Xi enfatizou que “nos últimos 16 anos, o grande navio do BRICS vem singrando as ondas com tenacidade, apesar das torrentes e tempestades, e tem embarcado em uma rota correta de apoio mútuo e cooperação de ganhos compartilhados” e conclamou a “enxergar um futuro compartilhado para a parceria de alta qualidade mais abrangente, estreita, prática e inclusiva e embarcar juntos em uma nova jornada da cooperação do BRICS”.
Após advertir que “estamos em uma encruzilhada histórica”, presidente chinês lembrou que o mundo “ainda está à sombra da mentalidade da Guerra Fria e política do poder”, com alguns países pretendendo buscar segurança absoluta “com a expansão de alianças militares”, provocando confronto em bloco “por forçar de maneira coerciva os outros a tomarem partido”, e procurando supremacia “à custa dos direitos e interesses dos outros”.
“É importante que os países do BRICS apoiem um ao outro nas questões relativas aos seus interesses fundamentais, pratiquem o verdadeiro multilateralismo, salvaguardem justiça, equidade e solidariedade, e rejeitem hegemonia, bullying e divisão”.
Como convidados – na perspectiva de ampliação do bloco, dentro da concepção ‘BRICS Plus’ -, também participaram Argélia, Argentina, Egito, Indonésia, Irã, Cazaquistão, Senegal e Uzbequistão. Alberto Fernández, presidente argentino, oficializou o pedido de ingresso de seu país nos BRICS.
Abaixo, na íntegra, o discurso de Xi Jinping
“O desenvolvimento é um tema intemporal para a humanidade. No final da década de 1960, eu trabalhava como camponês em uma pequena aldeia do Planalto de Loess. Experimentava pessoalmente a dificuldade dos trabalhos no campo, e vi o quão difícil as pessoas locais lutavam para sobreviver. O anseio delas por uma vida melhor fica sempre na minha mente. Visitei a aldeia de novo meio século depois, dessa vez reparei que as preocupações delas com alimentos e roupas já foram substituídas por sorrisos felizes.
Como diz um antigo ditado chinês, “Só quando têm celeiro cheio e são bem alimentadas e bem vestidas, as pessoas têm o luxo de pensar em cortesia, honra e vergonha”. Ao longo dos anos, fui a muitas cidades e aldeias da China e visitei vários países do mundo. Tenho uma profunda impressão de que só com o desenvolvimento contínuo é que se realiza o sonho dos povos por uma vida melhor e uma sociedade estável.
Ao longo do tempo, os países em desenvolvimento têm feito esforços incessantes para explorar caminhos de desenvolvimento correspondentes às realidades nacionais e para realizar o desenvolvimento sócio-econômico. Os esforços já produziram resultados significativos. Os mercados emergentes e países em desenvolvimento já representam metade da economia global e apresentam progressos notáveis em ciência e tecnologia, educação, desenvolvimento social, cultura, entre outras áreas.
No momento, a COVID-19 está erodindo os frutos do desenvolvimento acumulados durante décadas, a implementação da Agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável está enfrentando dificuldades, o fosso de desenvolvimento entre o Norte e o Sul continua alargando-se e as crises de segurança alimentar e energética estão surgindo. Alguns países politizam e marginalizam o tema do desenvolvimento, constroem um “pequeno quintal com muros altos”, impõem sanções máximas e provocam deliberadamente divisões e confrontos.
Ao mesmo tempo, a vontade pela paz, desenvolvimento e cooperação dos povos de todos os países está ainda mais forte, os mercados emergentes e países em desenvolvimento estão mais determinados em realizar o fortalecimento mediante união, e a nova rodada da revolução científica e tecnológica e da transformação industrial traz mais oportunidades para todos os países.
É uma era cheia de desafios, mas também uma era repleta de esperanças. Precisamos agarrar a grande tendência do desenvolvimento do mundo, consolidar a confiança, tomar as ações, e juntos promover o desenvolvimento global com grande solidariedade e motivação, para formar em conjunto um paradigma de desenvolvimento caraterizado por benefício para todos, equilíbrio, coordenação, inclusividade, cooperação de ganhos compartilhados e prosperidade comum.
Primeiro, precisamos construir juntos consensos internacionais para a promoção do desenvolvimento. Só quando todos os povos vivem uma vida melhor, é que a prosperidade pode ser sustentada, a segurança pode ser garantida e os direitos humanos podem ser solidamente fundados. É importante colocarmos o desenvolvimento em uma posição priorizada e central na agenda internacional, implementarmos a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, e formarmos consensos políticos de que todos valorizam o desenvolvimento e juntos buscam a cooperação.
Segundo, precisamos criar juntos um ambiente internacional favorável ao desenvolvimento. As ações protecionistas são como bumerangues que virarão contra quem as praticam, as tentativas de formar blocos exclusivos acabam por isolar o próprio autor, as sanções máximas não beneficiam ninguém, e o desacoplamento e a interrupção do fornecimento não são viáveis nem sustentáveis. É importante procurarmos o desenvolvimento com esforços, promovermos juntos o desenvolvimento, construirmos uma economia global aberta, e formarmos um sistema de governança global e um ambiente institucional mais justos e equitativos.
Terceiro, precisamos cultivar juntos novos motores para o desenvolvimento global. A inovação é a força motriz primária para o desenvolvimento. É importante promovermos inovação científica, tecnológica e institucional, acelerarmos a transferência tecnológica e o compartilhamento de conhecimentos, promovermos o desenvolvimento de indústrias modernas, superarmos a exclusão digital e acelerarmos a transição para o desenvolvimento de baixo carbono, com vistas a realizar o desenvolvimento global mais forte, verde e saudável.
Quarto, precisamos formar juntos uma parceria de desenvolvimento global. Só com cooperação é que podemos alcançar causas grandes e produzir bons efeitos de longa duração. Os países desenvolvidos precisam cumprir os seus deveres, enquanto os países em desenvolvimento precisam aprofundar a cooperação, de maneira que o Norte e o Sul avancem à mesma direção para formar juntos uma parceria de desenvolvimento global unida, equitativa, equilibrada e inclusiva. Nesse processo, nenhum país ou nenhum indivíduo pode ser deixado para trás. É importante apoiarmos ONU em conduzir e coordenar a cooperação de desenvolvimento global, e encorajarmos a comunidade empresarial, os grupos sociais, as mídias e think tanks a participar da cooperação.
Colegas,
A China sempre faz parte da grande família dos países em desenvolvimento. Na sessão da Assembleia Geral da ONU do ano passado, apresentei a Iniciativa para o Desenvolvimento Global (IDG), e a China tomará medidas práticas para dar apoios contínuos à Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
— A China alocará mais recursos para a cooperação de desenvolvimento global. Transformará o Fundo de Assistência à Cooperação Sul-Sul para o Fundo para o Desenvolvimento Global e Cooperação Sul-Sul, e adicionará US$ 1 bilhão aos US$ 3 bilhões já comprometidos. Aumentará o investimento ao Fundo para Paz e Desenvolvimento China-ONU. Tais contributos adicionais serão usados para apoiar a cooperação no âmbito da IDG.
— A China trabalhará com todas as partes para promover cooperação nas áreas prioritárias, mobilizará recursos de desenvolvimento para aprofundar cooperação global para a redução e erradicação da pobreza, aumentará a capacidade de produção e abastecimento alimentar e promoverá a parceria de energias limpas; reforçará inovação, pesquisa, desenvolvimento e produção conjunta das vacinas; promoverá conservação e uso sustentável das ecologias terrestre e marinha; melhorará literacia e habilidades digitais das pessoas, acelerará a transformação e modernização industrial, promoverá a interconectividade na era digital e injetará dinamismo no desenvolvimento dos países.
— A China estabelecerá uma plataforma para o compartilhamento de experiências e conhecimentos de desenvolvimento internacional, um centro de promoção para o desenvolvimento global e uma rede global de conhecimento para o desenvolvimento, com o objetivo de realizar intercâmbio de experiências de governança e promover a aprendizagem mútua. Sediará um fórum global da juventude para o desenvolvimento e participará do lançamento de um plano de ação global da juventude para o desenvolvimento, com o intuito de reunir a maior força possível para a implementação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Como se diz num antigo livro chinês, “Com mesmas vontades e aspirações, podemos realizar todos os objetivos”. Vamos consolidar a confiança e trabalhar juntos para formar a parceria de alta qualidade, e inaugurar juntos uma nova era de prosperidade e desenvolvimento.
Obrigado.”