Com Pyongyang engalanada com bandeiras chinesas e coreanas, uma multidão saudou nas ruas da capital da Coreia Popular (RPDC, Norte) o presidente chinês Xi Jinping, que está em visita oficial de dois dias. Xi desfilou em carro aberto ao lado do líder norte-coreano Kim Jong Un. “250 mil pessoas estão aqui recebendo calorosamente o camarada secretário-geral e presidente”, destacou Kim.
Ao longo do caminho desde o aeroporto, a população agitava bandeiras e flores e dava vivas à “Amizade China-Coreia”. Os dois povos, de laços milenares, completam 70 anos de estabelecimento das relações diplomáticas e lutaram juntos contra a invasão japonesa e contra agressão norte-americana de 1950-1953. É a primeira visita do presidente Xi à Coreia Popular.
No ano passado, Kim se reuniu com Xi em Pequim quatro vezes. A visita de Xi mereceu grande destaque na mídia chinesa, com a tevê estatal dedicando 13 minutos à cobertura no principal noticiário diário, como observou o jornal sul-coreano Hankyoreh. A última visita de um presidente chinês à RPDC havia sido em 2005.
A cerimônia oficial de boas-vindas foi realizada no Palácio do Sol Kumsusan, que é o memorial que homenageia o patriarca da libertação e fundador da RPDC, Kim Il Sung, e o continuador da revolução e seu filho, Kim Jong Il, pai de Kim Jong Un. É a primeira vez que a recepção a um líder estrangeiro é realizada em local tão especial para o povo coreano.
Kim disse ao presidente chinês que sua visita é uma oportunidade para demonstrar ao mundo a “permantente e inquebrantável amizade entre a Coreia Popular e a China”, informou a Agência Central de Notícias da Coreia Popular (KCNA) na sexta-feira (21).
LAÇOS DE SANGUE
O presidente Xi disse que sua visita à RPDC tem como objetivo manter a tradicional amizade forjada pela velha geração de líderes dos dois povos e que essa longa e profunda relação “é mais preciosa que o ouro”. “Sob a liderança dos dois partidos, pessoas de ambos os países confiaram, apoiaram e ajudaram umas às outras, quer estivessem lutando conjuntamente contra invasores externos pela independência nacional e libertação, ou durante o curso da revolução e construção socialista”, apontou o presidente chinês.
Xi acrescentou que as relações China-RPDC, guiadas por Kim e ele próprio, “estão em um novo ponto de partida na história, após 70 anos de desenvolvimento glorioso,renovando seu vigor e vitalidade”. Ele pediu que os dois países “intensifiquem a comunicação estratégica, mantenham a excelente tradição de intercâmbios de alto nível, aprofundem as interações interpessoais e a aprendizagem mútua na direção estatal e expandam a cooperação em todos os setores”.
PAZ E ESTABILIDADE
Xi também elogiou que, graças às decisões tomadas por Kim em direção à paz e ao diálogo, bem como aos esforços conjuntos das partes relevantes, esta se tornou “a tendência predominante na península coreana, criando uma oportunidade histórica para uma solução política da questão, o que vem sendo aclamado pela comunidade internacional.” Como Xi lembrou, os dois povos já passaram por muitas agruras e “dão muito valor à paz”.
O presidente chinês manifestou a disposição da China de apoiar o processo de desnuclearização em curso, particularmente quanto à resolução das legítimas preocupações de segurança da Coreia Popular. Também expressou sua expectativa de que a RPDC e os EUA “possam conversar e as negociações obtenham resultados”.
Sobre a questão, o presidente Kim afirmou que a RPDC “aprecia muito o papel importante desempenhado pela China” no processo de resolução do impasse na península coreana. “Continuaremos a nos comunicar e cooperar com a China para fazer novos progressos e manter a paz e a estabilidade na península coreana”.
Kim disse a Xi que no ano passado a Coreia Popular deu muitos passos positivos para evitar tensões, mas que não tiveram uma “resposta positiva do lado relevante” – em referência ao colapso da cúpula de Hanói com os EUA e da negativa de Washington de aceitar redução proporcional das sanções, especialmente às que afetam a população civil. Sem falar, também, do problema da sabotagem descarada, dentro do próprio governo Trump, ao processo de conversações, com declarações, como a de John Bolton, de ‘desnuclearização à moda da Líbia”, que violam abertamente o teor do comunicado conjunto Kim-Trump de Cingapura e o espírito de avanços passo a passo e construção mútua da confiança.
“A RPDC está disposta a ter paciência e, ao mesmo tempo, espera que o lado relevante (os EUA) possa encontrar a RPDC no meio do caminho, para buscar uma solução que corresponda às preocupações razoáveis dos dois lados e promover resultados para o processo de conversações da questão da península”, acrescentou Kim. China e Rússia têm apoiado na ONU a proposta de flexibilização das drásticas sanções em vigor.
Também está em discussão o apoio da China aos esforços da Coreia Popular para avançar seu desenvolvimento econômico, como apontado pelo presidente Kim. Xi anunciou que a China apoiará “resolutamente” Kim a liderar o partido e o povo coreano na implementação de nova estratégia nacional “mais concentrada no crescimento econômico e na conquista de melhores condições para garantir maiores realizações na construção socialista do país”.
A.P.