Parlamentar prestou depoimento à PF, na tarde desta terça-feira (14). Walter Delgatti Neto afirmou que a deputada federal o contratou para invadir sistemas da Justiça
Na tarde desta terça-feira (14), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) negou, em depoimento à PF (Polícia Federal), ter contratado o chamado hacker de Araraquara, Walter Delgatti Neto, para inserir dados falsos no sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Um historinha inacreditável e cheias de contradições.
No depoimento, que durou por pouco mais de 2 horas, a deputada federal bolsonarista alegou que repassou dinheiro ao investigado para que ele trabalhasse na construção de site para ela.
Na saída, a parlamentar afirmou que, quando o contratou inicialmente, não sabia que Delgatti era o autor do vazamento das conversas do ex-juiz Sergio Moro e de procuradores da Operação Lava Jato.
Delgatti Neto disse aos investigadores que a deputada o teria contratado para fraudar as urnas eletrônicas e inserir mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no sistema do CNJ.
“Quando eu conheci, não sabia que era hacker. Nem ligava ele com a pessoa que ele é, o Vermelho”, disse, referindo-se a apelido de Delgatti.
“Quando o contratei para as redes sociais, na verdade, ele mandou uma proposta para mim dizendo que precisava trabalhar, cobrou R$ 10 mil nessa proposta para poder ligar as redes sociais ao site”.
Mesmo dizendo que não o conhecia, a deputada confirmou o encontro de Delgatti com Bolsonaro intermediado por ela.
A deputada reforçou o encontro a jornalistas na porta da PF, em Brasília, ao fim da oitiva.
“Afirmo que houve o encontro com Bolsonaro, pois ele [hacker] disse que poderia provar que as urnas não eram confiáveis. Nesse encontro, o Bolsonaro pergunta para ele se a urna é confiável e o Walter diz que não”, disse a parlamentar.
Ela disse que no encontro Delgatti informou que “se houvesse testes de integridade feitos no dia da eleição, com urnas aleatórias, seria a melhor forma de verificar se a urna é confiável ou não”.
EXPLICAÇÕES SOBRE DEPÓSITOS
Inicialmente, a investigação apontou que o hacker teria recebido R$ 13 mil, pagos por assessores de Carla Zambelli. A deputada alegou que repassou R$ 3 mil referente a serviços para o site dela.
Segundo a parlamentar, a PF comprovou que o restante — R$ 10,5 mil — depositado na conta dele não saíram de contas ligadas a ela.
“Foi esclarecido que houve pagamento de R$ 3 mil, em novembro, por meio da empresa de mídia que eu contratei e subcontratou o Walter para poder mexer no site na época que eu fiquei sem rede social’, disse a deputada.
“Ele não entregou o serviço. Já o pagamento de R$ 10.500 feito pelo Renan [assessor] foi uma transação de uísque entre eles que tem todas as comprovações. Confio nas pessoas, por isso confiei nele e o contratei para realizar os serviços de site”, acrescentou após sair da oitiva na PF.
Em agosto, o gabinete na Câmara dos Deputados e o apartamento funcional que a deputada ocupa, na capital federal, foram alvos de busca e apreensão por parte da PF. Foram cumpridos ainda mandados contra alguns dos assessores dela e de prisão preventiva contra Delgatti Netto.
HACKER DA ‘VAZA-JATO’
Walter Delgatti Neto afirmou aos investigadores que Carla Zambelli pediu para que ele invadisse as urnas eletrônicas, além da conta de e-mail e telefone do ministro Alexandre de Moraes.
O hacker também informou à PF, que se encontrou com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em agosto de 2022, por intermediação da deputada federal. Ele relatou que o ex-chefe do Executivo questionou se era possível invadir o sistema de votação do TSE.
EIS OS FATOS
Delgatti apontou que a deputada teria atuado no plano para tentar invadir as urnas eletrônicas usadas nas eleições de 2022. Em outras versões, aliados de Zambelli alegam que foi Delgatti quem procurou a deputada e Bolsonaro.
No dia do depoimento, Zambelli respondeu e afirmou que terá a “inocência provada” e chamou Delgatti de “mentiroso contumaz”.
Em agosto deste ano, a PF deflagrou a Operação 3FA contra Zambelli e Walter Delgatti, que foi preso na ocasião. O objetivo da operação foi esclarecer a atuação de indivíduos na invasão aos sistemas do CNJ e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no BNMP (Banco Nacional de Mandados de Prisão).
De acordo com a PF, os crimes ocorreram em 4 e 6 de janeiro deste ano. Nas datas, foram inseridos no sistema do CNJ e de outros tribunais brasileiros 11 alvarás de soltura de presos e mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes.
M. V.