Regime de Kiev enfiou até na Constituição, em 2019, à revelia da população, o ingresso na Otan
No final de semana passado, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky durante a Conferência de Segurança de Munique acendeu o pavio da confrontação com a Rússia ao exigir – devidamente açulado pela Casa Branca – um “calendário” para a anexação da Ucrânia pela OTAN e ao ameaçar fazer o país obter “status nuclear”, isto é, ter armas nucleares posicionadas contra a Rússia, oito anos após o golpe CIA-neonazis instalar um regime que perseguiu oposicionistas e a população de fala russa e tornou a Ucrânia no país mais pobre da Europa.
Dias antes, também insuflado pelo apoio e armas de Washington, o governo de Zelensky rasgou os acordos de paz de Minsk, consagrados em resolução da ONU, sob o pretexto de serem “muito favoráveis” aos russos e ao se recusar a negociações diretas Kiev-Donbass ali estabelecidas. Isso depois de oito anos de protelações.
O que os acordos faziam eram acabar com a perseguição dos nazistas aos falantes de russo, inscrevendo na constituição a autonomia das regiões historicamente russas e direito ao uso do idioma, mais anistia e eleições. A perseguição à oposição incluiu ainda o fechamento de emissoras e jornais e a proibição do Partido Comunista.
COMEDIANTE
Antes de virar presidente – sob patrocínio de um oligarca, Igor Kolomoysky – Zelensky era comediante e foi nessa condição que foi escalado para estrelar a série “Os Servos do Povo” na rede de tevê do magnata, em que fazia o papel de um ‘destemido’ professor que ‘combatia a corrupção’ e se tornou presidente por acaso.
Veja com que campanha Zelenski chegou ao poder
Na época, Kolomoysky havia rompido com o então presidente Petro Poroshenko, o rei do chocolate, por disputas na divisão do botim, o que envolvia um banco que foi à bancarrota.
Foi assim, diante de todo o cansaço da população com a guerra no Donbass, o agravamento da miséria e desemprego, e a corrupção generalizada – até o filho de Joe Biden, Hunter, tinha uma boquinha, um cargo, no esquema -, que a candidatura de Zelensky acabou emplacando.
Arrumaram um partido de mesmo nome da série, Servos do Povo, e como Zelensky criara nome artístico principalmente nas “regiões” – como lá são chamadas as áreas russas – e era inclusive falante de russo, muita gente viu nele uma possibilidade de sair do pesadelo neonazista que passou a dividir o país.
Um tipo de voto “cacareco”. Era muita a vontade de arranjar um caminho para escapar da crise criada em 2014 pelo golpe neonazista em Kiev uma vez que a outra ‘alternativa’ era a reeleição de Poroshenko.
No entanto, um vídeo de 2015, que mostra o tipo de ‘humor’ de Zelensky, em que ele metralha à queima roupa os parlamentares ucranianos, poderia ter servido de advertência sobre o que viria com seu governo.
CARTILHA NEONAZI
Depois de eleito, e de um cerco ao palácio, Zelensky rapidamente mostrou saber recitar a cartilha dos neonazis, ao mesmo tempo em que se oferecia de corpo e alma para o projeto da Casa Branca da “nova Ucrânia da Otan”.
Aliás, antes de deixar o cargo, seu antecessor, Poroshenko, fez o parlamento ucraniano votar e aprovar a inclusão na constituição, sem consulta à população, da “entrada da Ucrânia na Otan”.
O que, inclusive, violava os Memorandos de Budapeste, sobre a Ucrânia, em que se garantia sua neutralidade.
W. BUSH, O ‘MENTOR’ DA ‘UCRÂNIA DA OTAN’
A propósito, partiu de W. Bush em 2008 a decisão de tornar a Ucrânia ‘membro da Otan’ – e no essencial o golpe de 2014 foi o caminho escolhido por Washington, já sob Obama, para sua perpetração.
Era a exacerbação, pelos EUA, da estúpida política de encurralar a Rússia através da expansão a leste da Otan, violando completamente os compromissos assumidos com a então União Soviética – como provam vários documentos e testemunhas oculares – de não se mover para leste “uma polegada sequer”, feitos durante as negociações para reunificação alemã e na cúpula URSS-EUA em Malta.
Foram nada menos que cinco ondas de expansão, até às fronteiras russas.
Em 2007, o presidente russo Vladimir Putin fez o célebre “discurso de Munique” em que denunciou a expansão e advertiu que esse mundo unipolar centrado no Pentágono e em Wall Street não iria subsistir. Ou seja, a Rússia voltara a dizer “nyet” um ano antes.
“BASTA”
Agora, em dezembro passado, a Rússia passou a dizer “basta” e exigiu dos EUA e da Otan a restauração do princípio da segurança coletiva indivisível na Europa, não anexação da Ucrânia pela Otan e volta dos sistemas de armas da Otan às fronteiras de 1997, ano em que foi assinado acordo entre as duas partes.
Trata-se, como Putin assinalou, de que não fomos nós que instalamos nossos sistemas de armas nas fronteiras dos Estados Unidos, mas os Estados Unidos que já instalaram suas armas à nossa porta. “Não temos como recuar”.
TRUMP DECRETA INSEGURANÇA GERAL
A situação se tornara mais grave porque, sob Trump, os EUA rasgaram o Tratado INF, que proibia que EUA e russos posicionassem mísseis de alcance curto e intermediário capazes de transportar bombas nucleares, e que por décadas evitou uma hecatombe nuclear no teatro europeu.
Sem o Tratado ABM – que proibia a proliferação de mísseis antimísseis, que W. Bush rasgou – e o Tratado INF, virtualmente não existe mais segurança estratégica na Europa no momento, a mais perigosa situação desde os anos 1980.
O que ocorre em paralelo ao desenvolvimento de novos sistemas hipersônicos, pelos quais um míssil nuclear disparado de Kharkov, na Ucrânia, levaria 4-5 minutos para alcançar Moscou, o que tornaria praticamente instantânea a deflagração de uma guerra nuclear.
Nessa situação, a insistência em anexar a Ucrânia à Otan é um sintoma de insanidade.
MARIONETEIROS
Zelensky, por vontade própria, ou por não querer romper com os neonazis, os oligarcas ladrões e os marioneteiros americanos, se recusou à insistente oferta da Rússia por uma solução negociada: preservação da neutralidade da Ucrânia e execução sem mais atrasos da resolução da ONU que consagra os Acordos de Minsk.
Outra questão que depõe contra Zelensky foi que, durante sua campanha a presidente, disse que iria conquistar a paz, o que se provou um tremendo estelionato eleitoral.
Perseverou na tentativa de impor pela força um apartheid à população de origem russa, ou sua saída forçada, de que a colocação no ano passado de metade do exército ucraniano, reforçado pelos batalhões neonazis, era o ensaio.
MASSACRE DE ODESSA
Também continuam impunes os perpetradores do massacre de Odessa, em que, no dia 2 de maio de 2014, manifestantes que faziam um abaixo assinado pela realização de um referendo sobre a autonomia das regiões do leste, foram queimados vivos dentro do prédio de um sindicato, após serem agredidos por uma turba de neonazistas, que atearam fogo ao local e lincharam quem tentou escapar.
ASSISTA AQUI AO VÍDEO DO MASSACRE DE ODESSA
Nas ações de limpeza étnica contra o Donbass, mais de 13 mil pessoas foram mortas e muitas mais feridas.
Outro massacre está na conta dos neonazistas ucranianos e da CIA. Para o sucesso do golpe de fevereiro de 2014, um episódio central foi o uso de franco atiradores, desde prédio sob controle da turba de Maidan, para matar indiscriminadamente os próprios manifestantes e a polícia e culpar o governo. O que serviu para desestabilizar acordo de convivência com a oposição, garantido pela França, Alemanha e Polônia, e sumariamente ignorado.
“QUE A UNIÃO EUROPEIA SE F****”
Ficou marcado na época o vazamento de uma conversa telefônica entre a então subsecretária de Estado Victoria Nulan e o embaixador em Kiev, em que esta famosamente nomeou “Yats” como o “novo primeiro-ministro” e comentou “que a União Europeia se f****”.
Além dos franco-atiradores e das rosquinhas oferecidas (e notas de 100 dólares) aos participantes de Maidan, que são de jurisdição da CIA e Departamento de Estado, também Departamento do Tesouro ajudou no esforço pró-golpe, “convencendo” os oligarcas, sob risco de ‘sanções e confiscos’, a mudarem de lado.
Era o então vice-presidente Joe Biden que diariamente, no auge da crise, falava por telefone com Yanukovich, dizendo para manter a ‘calma’, que tudo vai se ajeitar. Já deposto e sob risco de vida, quando ligou para Biden, ouviu deste que “estava um dia e um dólar atrasado”.