Presidente ucraniano acompanha e orienta campanha que envolve crimes de sequestro, tortura e assassinato de opositores de acordo com denúncia dos jornalistas Max Blumenthal e Esha Krishnaswamy, do portal Grayzone
Apesar da mídia ocidental glamourizar o presidente ucraniano como ‘um paladino da democracia’ que ‘resiste aos russos’, a realidade, segundo os jornalistas Max Blumenthal e Esha Krishnaswamy, do portal Grayzone, é que ele e seu governo “sancionaram uma campanha de sequestro, tortura e assassinato de legisladores ucranianos locais” a quem acusaram de “colaborar com a Rússia” e de opositores em geral.
“Vários prefeitos e outras autoridades ucranianas foram mortos desde o início da guerra, muitos supostamente por agentes do Estado ucraniano após se envolverem em negociações de redução de escalada com a Rússia”, assinalam os jornalistas do portal. O assassinato do prefeito de Kremina, no Donbass, por neonazistas, foi endossado pelo assessor do Ministério de Assuntos Internos, Anton Geraschenko: “Há um traidor a menos na Ucrânia”.
Volodymyr Strok, prefeito da cidade de Kremina, no lado ucraniano do oblast de Lugansk, foi sequestrado por homens em uniforme militar em 1º de março, segundo sua esposa, e baleado no coração. Dois dias depois, apareceram fotos do corpo visivelmente torturado do prefeito.
Em 7 de março, o prefeito de Gostomel, Yuri Prylipko, foi encontrado assassinado. Prylipko teria entrado em negociações com os militares russos para organizar um corredor humanitário para a evacuação dos moradores de sua cidade.
O prefeito de Kupyansk, no nordeste da Ucrânia, Gennady Matsegora, divulgou um vídeo (abaixo) em 24 de março, apelando ao presidente Zelensky para a libertação de sua filha, que havia sido mantida refém por agentes da SBU.
Depois houve o assassinato de Denis Kireev, membro da equipe de negociação ucraniana, que foi morto a tiros em plena luz do dia em Kiev. Até hoje, onze prefeitos de várias cidades da Ucrânia estão desaparecidos, o que Kiev atribui aos russos, que já desmentiram.
TORTURA E DESAPARECIMENTOS
Segundo o portal, Zelensky explorou ainda mais a atmosfera de guerra para proibir os partidos de oposição e ordenar a prisão de seus principais rivais. “Seus decretos autoritários desencadearam o desaparecimento, tortura e até assassinato de uma série de ativistas de direitos humanos, organizadores comunistas e de esquerda, jornalistas e funcionários do governo, sob acusação de simpatias ‘pró-Rússia’”.
Os serviços secretos ucranianos (SBU) passaram “as últimas semanas enchendo seu vasto arquipélago de masmorras de tortura com dissidentes políticos”, acrescentou Blumenthal, que registrou o treinamento da CIA e estreita coordenação com os paramilitares neonazistas.
EXPURGO SANGRENTO
Para o jornalista, Zelensky vem usando a guerra “como um teatro para decretar um expurgo sangrento de rivais políticos, dissidentes e críticos”. Também as atrocidades sádicas contra prisioneiros de guerra russos, expostas nas mídias sócias, “parecem ter recebido a aprovação dos altos escalões da liderança ucraniana”.
A atual onda de desaparecimentos forçados e tortura radicaliza o que vem acontecendo desde o golpe de Estado, o EuroMaidan, em 2014, cujo regime que implantou “embarcou em um expurgo nacional de elementos políticos considerados pró-russos ou insuficientemente ‘nacionalistas’”, o que foi facilitado pela arbitrária lei de “descomunização”.
“O regime pós-Maidan concentrou sua ira nos ucranianos que defenderam um acordo de paz com separatistas pró-Rússia no leste do país, aqueles que documentaram abusos de direitos humanos pelos militares ucranianos e membros de organizações neonazistas”. Opositores se viram diante da “constante ameaça de violência ultranacionalista, prisão e até assassinato”.
GESTAPO DE ZELENSKY
O SBU, que opera como a gestapo do regime de Kiev, tem servido como o principal executor da campanha de repressão política doméstica. O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados e até mesmo a ONG norte-americana Human Rights Watch acusaram a SBU de torturar sistematicamente oponentes políticos e dissidentes ucranianos com “impunidade quase total”.
Yevhen Karas, o fundador da infame unidade neonazista C14, detalhou a relação próxima que sua gangue e outras facções de extrema direita têm com o SBU. O SBU “informa não apenas a nós, mas também Azov, o Setor Direito e assim por diante”, gabou-se Karas em uma entrevista de 2017.
Quando a guerra eclodiu em fevereiro deste ano, o presidente ucraniano emitiu uma série de decretos formalizando a perseguição aos opositores e a censura. Sob a lei marcial, 11 partidos da oposição foram banidos. Em 12 de abril, Zelensky anunciou a prisão de seu principal adversário político, Viktor Medvedchuk, fundador do segundo maior partido da Ucrânia.
A perseguição aos ativistas intensificou-se. Em 3 de março na cidade de Dnipro, agentes da SBU e neonazistas do Batalhão Azov invadiram a casa de integrantes da organização Livizja (Esquerda) e espancaram Alexander Matjuschenko, que teve várias costelas quebradas, e o prenderam. A esposa dele teve o cabelo cortado com uma faca por um nazista.
JOVENS COMUNISTAS
Dezenas de outros ativistas foram presos por acusações semelhantes em Dnipro. Entre eles, Mikhail e Aleksander Kononovich, membros da ilegal União da Juventude Comunista Leninista da Ucrânia. Também foram capturados o jornalista Yan Taksyur; a ativista de direitos humanos Elena Berezhnaya; Elena Viacheslavova, uma defensora dos direitos humanos cujo pai, Mikhail, foi queimado até a morte durante o ataque de 2 de maio de 2014 contra antifascistas na Casa dos Sindicatos de Odessa; o jornalista independente Yuri Tkachev, todos imputados por “traição”.
Entre os assassinados pelo regime está o proeminente colunista Oles Buzina. Cidadãos ucranianos comuns também vêm sendo submetidos à tortura desde o início da guerra em fevereiro. Conforme vídeos, civis amarrados a postes de luz, muitas vezes com seus genitais expostos ou seus rostos pintados de verde. Atos de humilhação e tortura que têm como alvo todos, desde acusados de simpatizantes russos a ciganos e supostos ladrões.
Vassily Prozorov, um ex-oficial da SBU que se asilou na Rússia após o golpe Euromaidan, detalhou a dependência sistêmica dos serviços de segurança pós-Maidan na tortura para esmagar a oposição política e intimidar cidadãos acusados de ‘simpatizantes russos’.
De acordo com Prozorov, os serviços de segurança ucranianos são diretamente assessorados pela CIA desde 2014. No ano passado, Zelensky nomeou o notório, Oleksander Poklad – cujo apelido é ‘O Estrangulador’-, para liderar a divisão de contra-inteligência da SBU.
Enquanto a mídia ocidental fez alarde sobre supostos abusos russos dos direitos humanos, soldados ucranianos e contas de mídia social pró-ucranianas exibiram orgulhosamente crimes de guerra sádicos, desde execuções em campo até a tortura de soldados russos em cativeiro.
SADISMO E COVARDIA
Em março deste ano, um canal pró-ucraniano do Telegram chamado White Lives Matter divulgou um vídeo de um soldado ucraniano ligando para a noiva de um prisioneiro de guerra russo, visto abaixo, e provocando-a com promessas de castrar o prisioneiro.
Talvez a imagem mais horrível que apareceu nas redes sociais nas últimas semanas seja a foto de um soldado russo torturado que teve um de seus olhos arrancado antes de ser morto. O post que acompanhava estava legendado, “procurando nazistas”, registrou The Grayzone.
Um vídeo também surgiu em abril mostrando soldados ucranianos atirando em prisioneiros de guerra russos indefesos nas pernas fora da cidade de Kharkov. Outro vídeo, publicado por soldados da Legião Georgiana, apoiados pelos ucranianos e pelos EUA, mostrou os combatentes realizando execuções de campo de prisioneiros russos feridos perto de uma vila nos arredores de Kiev.
Mamula Mamulashvili, comandante da Legião Georgiana, que participou das execuções de prisioneiros de guerra russos feridos, se gabou em abril de que sua unidade comete crimes de guerra: “Sim, às vezes amarramos suas mãos e pés. Falo pela Legião da Geórgia, nunca faremos prisioneiros soldados russos. Nenhum deles será feito prisioneiro”.