Zelensky volta de Washington sem os mísseis Tomahawk

Trump nega pedido de Zelensky por armas de ataque à Rússia no encontro na Casa Branca (Vídeo de India News)

O chefe do regime de Kiev, Volodymyr Zelensky, voltou sem os mísseis Tomahawk de Washington, onde se reuniu com o presidente Donald Trump na sexta-feira (17), que vinha insistentemente clamando para ataques profundos à Rússia.

Na véspera, reunião por telefone entre Trump e o presidente russo Vladimir Putin decidira pela realização de uma nova cúpula entre os dois, agora em Budapeste, capital da Hungria, nas próximas semanas.

Como Putin explicara a Trump, os mísseis de cruzeiro Tomahawks não alterariam o curso da derrota do regime de Kiev, mas levariam a uma escalada entre Moscou e Washington e à destruição da retomada das relações bilaterais, inclusive porque, para serem disparados, precisam de pessoal norte-americano in loco.

E, como já divulgara o ex-presidente Dmitry Medvedev, como o míssil existe tanto na versão convencional, como nuclear, não dá para adivinhar o que está chegando. E pelo seu alcance, 2.500 km, colocaria na mira Moscou, São Petersburgo e centros de defesa estratégica nuclear russa, com todas as suas implicações.

Antes do telefonema, Trump vinha dando certas asas às “reivindicações” de Zelensky, insufladas pelos vassalos europeus da Otan.

A mudança de tom de Trump foi registrada pelos principais jornais dos EUA.  “Trump recua da sugestão de míssil Tomahawk após reunião com Zelensky”, registrou The New York Times, acrescentando que o ucraniano “pressionou por novas armas para combater a Rússia, mas Trump expressou apreensão.”

O Wall Street Journal, que conclamara “Dê à Ucrânia os Tomahawks, Sr. Presidente”, teve de dizer em título que “Trump diz que prefere acabar com a guerra do que enviar Tomahawks para a Ucrânia”.

“Ao receber Zelensky, Trump muda seu tom sobre mísseis de longo alcance”, carimbou o Washington Post que, mais tarde, optou por dar ênfase a um “armistício já nas linhas de batalha”.

“Trump rejeita dar mísseis Tomahawk a Zelensky em reunião tensa”, disse o portal Axios, citando duas fontes do encontro – “pelo menos não agora”.

“Zelensky esperava deixar Washington com compromissos sobre novas armas para a Ucrânia, mas encontrou Trump em um estado de espírito totalmente diferente. Trump deixou claro que sua prioridade agora é a diplomacia, e que ele considera que fornecer Tomahawks poderia minar isso, segundo as fontes”.

Sobre o fornecimento de Tomahawks, a revista Newsweek acrescentou outra preocupação: “as necessidades da defesa dos EUA”. “Nós também precisamos de Tomahawks para os Estados Unidos da América. Temos um monte deles, mas precisamos deles. Não podemos esgotá-los, eles são muito vitais”, disse Trump.

A publicação citou, ainda, o comentário de Medvedev de que tal movimento “terminaria mal para todos” e “danificaria severamente” as relações EUA-Rússia.

A agência britânica de notícias Reuters pontuou que “em conversas com Zelensky, Trump parece fazer uma pausa em novos apoios”, observando que o líder de Kiev foi à Casa Branca em busca de armas mas o presidente norte-americano “parece mais empenhado em intermediar um acordo de paz do que atualizar o arsenal da Ucrânia”.

COLETIVA ANTECIPA

A entrevista coletiva dada por Trump e Zelensky antecipou o que estaria sobre a mesa. “Vamos falar sobre Tomahawks, e preferimos que eles não precisem de Tomahawks. Preferimos que a guerra acabe”, disse o presidente norte-americano em resposta aos jornalistas.

“Eles são uma arma muito poderosa, mas também muito perigosa. E isso pode significar uma grande escalada. Pode significar que muitas coisas ruins podem acontecer. Os Tomahawks são um grande problema”, acrescentou o presidente dos EUA.

Ele chegou a comentar que tal decisão “não só agravará a situação, mas também levará os Estados Unidos a um confronto direto com a Rússia”, o que deve ser evitado, no relato da emissora do Catar OSN .

RUMO A BUDAPESTE

Sobre a escolha da Hungria para a próxima cúpula com Putin, Trump respondeu “porque amamos Viktor Orban – ele é um bom líder, ele tem um país seguro”. Analistas observaram que o local tem um significado simbólico, já que Budapeste foi onde o acordo de 1994 sobre a soberania e neutralidade da Ucrânia foi assinado.

Trump descreveu a conversa por telefone de duas e meia horas com Putin como “muito produtiva”, enquanto o lado russo a considerou “muito substantiva e ao mesmo tempo extremamente franca”.

Segundo o assessor Yury Ushakov, Putin se congratulou com Trump por seus bem-sucedidos esforços para mediar o cessar-fogo em Gaza e enfatizou que Moscou busca “uma resolução pacífica e político-diplomática” do conflito.

O presidente russo reiterou que as tropas russas mantinham a “iniciativa estratégica” em todas as seções da linha de frente e que Moscou estava “respondendo apropriadamente” aos ataques ucranianos a alvos civis.

Putin disse ainda que, embora a potencial entrega de Tomahawks “não mudaria a situação no campo de batalha”, ela minaria “severamente” as perspectivas de um acordo pacífico, bem como as relações bilaterais Rússia-EUA.

As preparações para Budapeste incluem um telefonema entre os respectivos chefes da diplomacia, Sergey Lavrov e Marco Rubio. O ministro das Relações Exteriores Péter Szijjártó afirmou que a Hungria está pronta para garantir um “ambiente calmo e seguro”.

O ESTILOSO ZELENSKY

Como de outras vezes, Trump não foi propriamente muito gentil com Zelensky.  “Você está com uma ótima aparência, estiloso”, ele saudou a Zelensky, que vestia um terno preto sem gravata, e tivera de aguardar por meia hora por causa de um importante compromisso do chefe da Casa Branca, com o cantor italiano Andrea Bocelli.

Sobre o projeto de um túnel entre a Rússia e os Estados Unidos no estreito de Bering, mencionado pelo representante especial russo, Kirill Dmitriev, Trump se virou para Zelensky e perguntou: “O que o senhor acha disso, senhor presidente?” O sorriso amarelo de Zelensky levou Trump a observar “acho que você não gosta dessa ideia”.

Segundo a mídia, Zelensky ofereceu aos EUA a capacidade de armazenamento de gás da Ucrânia para uso do cartel norte-americano do GNL (gás natural liquefeito), favorecendo o lado americano no já bastante esfolado mercado europeu de energia. Também ofertou a tecnologia de drones, em troca dos Tomahawks. Na véspera, ele chegou a se reunir com o secretário de Energia, Chris Wright e com representantes da Lockheed e da Raytheon.

IR ÀS CAUSAS PROFUNDAS

A Rússia tem insistido que, para uma solução duradoura, é preciso ir às razões de fundo: a expansão da Otan para leste e a perseguição à minoria de falantes russos, inclusive ao uso do próprio idioma e à religião ortodoxa, bem como o respeito à vontade das populações que se levantaram contra o golpe neonazista de 2014, já manifestado em referendos. E a restauração na Europa do princípio da segurança indivisível, fim da russofobia e da carreira armamentista ensaiada por países que têm se notabilizado pela sabujice e falta de autonomia.

Quanto a isso, é interessante o comentário de um leitor do Zero Hedge sobre o provável estado real das coisas em relação a Washington e à Europa no contexto da crise na Ucrânia.

“O mito da ‘democracia versus autocracia’ morreu nas trincheiras da Ucrânia. O que o substituiu é muito mais sombrio: a desconstrução projetada da própria Europa. A energia russa barata foi cortada (por meio da sabotagem do Nord Stream), não para ajudar a Ucrânia a vencer – mas para quebrar a espinha econômica da Europa. Os estoques de armas foram drenados para um buraco negro, e agora o continente fica dependente de armas superfaturadas dos EUA, impotente para forjar sua própria paz.

A expansão oriental da OTAN nunca foi sobre defesa – foi sobre desestabilizar a Rússia e prender a Europa no status de vassalo. Agora, enquanto a Ucrânia sangra, o Império sorri: o verdadeiro alvo nunca foi Moscou, mas Bruxelas, Berlim e Paris. Isso não é um erro. É uma demolição controlada”.

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