O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO), se referiu ao crime ambiental cometido pela mineradora Vale em Brumadinho, que deixou mais de 160 mortos e 155 desaparecidos, apenas como um “incidente” e disse que a empresa está fazendo o possível para minimizar os danos.
“Não tem faltado por parte da empresa neste momento assumir esse compromisso. Parece que desta vez eles reconheceram o erro apesar do incidente”, afirmou.
A declaração foi feita após ele ouvir críticas de deputados federais com quem se reuniu na Cidade Administrativa. O governador disse aos deputados que a Vale tem concedido tudo que é pedido pelos Bombeiros, Polícia Militar e famílias dos atingidos após o desastre.
Logo após, disse que não estava defendendo ninguém, mas “relatando fatos que qualquer um pode ir lá em Brumadinho e checar in loco”.
Ricardo Zema defendeu ainda que os familiares das vítimas do crime da Vale ignorem as ações judiciais de reparação e aceitem os acordos propostos pela mineradora. Segundo Zema, o Ministério Público “tem forçado a Vale a ficar pagando uma bolsa-auxílio”.
“Minha preocupação é que as vítimas sejam ressarcidas o quanto
antes, porque na cabeça de muitas pessoas acaba acontecendo aquilo, eu prefiro
ficar recebendo um salário mínimo por mês do que fazer um acordo e cessar esse
salário mínimo. Mas o Ministério Público tem rumado neste sentido”, disse Zema.
“A Promotoria Pública tem de certa maneira forçado a Vale a ficar pagando uma
bolsa-auxílio, o que parece não fazer sentido, porque se cada família receber
de R$ 1milhão a R$ 2 milhões, teria condição de fazer um investimento e já ia
ajudar a economia local a se recompor”, afirmou.
Entre as propostas do Ministério Público em um Termo de Ajuste Preliminar (TAP) está o pagamento mensal emergencial pela Vale às famílias atingidas pelo rompimento da barragem. A proposta, que foi rejeitada pela Vale e ainda está sob negociação, previa o pagamento de um salário-mínimo por pessoa adulta; meio salário-mínimo por adolescente; um quarto de salário-mínimo por criança; e o valor referente a uma cesta básica por núcleo familiar. Os pagamentos tem o objetivo de garantir a subsistência dessas famílias enquanto não há um acordo definitivo sobre as indenizações.
Zema também procurou isentar o estado de responsabilidade na tragédia, afirmando que coube à Secretaria do Meio Ambiente a concessão de licença, mas que os critérios de exploração e a fiscalização são da Agência Nacional de Mineração.
Na reunião, os deputados federais se dividiram entre os que cobraram punição rigorosa à Vale e os que disseram que é preciso ter cautela para não acabar com a mineração em Minas Gerais. Entre as propostas da bancada está o fim da desoneração das exportações do minério.
“O que aconteceu em Brumadinho é uma questão de cadeia, temos que fazer uma Comissão Parlamentar de Inquérito e exigir cadeia porque foi assassinato”, disse o deputado federal Fábio Ramalho (MDB). O deputado Lincoln Portela (PR) também chamou a Vale de criminosa.
Vítimas da vale lançam gabinete de crise
O rompimento da barragem da Vale em Córrego do Feijão, distrito de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, gerou uma reação da sociedade civil que se organizou para montar um gabinete de crise. Lançado oficialmente nesta quinta-feira (14), esse gabinete é uma articulação de movimentos sociais, pesquisadores e ativistas como forma de contrapor o gabinete oficial montado pelo estado para definir ações relativas à tragédia.
Um dos membros desse comitê, Marcus Vinícius Polignano, que é coordenador do Projeto Manuelzão da UFMG, criticou o governador Romeu Zema, por tratar o desastre como ‘incidente’.
“Quero dizer que o governador está absolutamente equivocado e eu diria que é uma falta de sensibilidade com aqueles que morreram. Absolutamente, e a sociedade tem claro isso, é um crime. Quero dizer ao governador que ele não está sendo sensível com a comoção que isso tem na população. O governador tem o papel de defender a sociedade e não a empresa”, afirma.
O principal objetivo do gabinete criado pela sociedade civil é disponibilizar informações diversas, expor diferentes posicionamentos, dar voz aos atingidos e desenvolver um debate sobre a mineração em Minas Gerais, tudo isso como base para pressionar o poder público a tomar decisões amparadas pela visão da sociedade. Uma das ações será disponibilizar documentos ligados ao rompimento da barragem da Vale e correlatos em uma plataforma na internet, que pode ser acessada pelo site gabinetedasociedade.org.