
Declarações afrontam gravemente a memória dos mineiros que, historicamente, lutaram pela independência do Brasil e a soberania nacional
Romeu Zema, do partido Novo, atual inquilino do Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro – palco de várias lutas libertárias – não escondeu seu vira-latismo e defendeu as sanções tresloucadas do governo Trump, dos EUA, contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, por intermédio da Lei Magnitsky.
“Eu acho que está muito claro que o ministro Alexandre de Moraes tem excedido, ele tem de certa maneira desconsiderado a Constituição, e isso a cada ação dele fica mais nítido. Então, é realmente muito preocupante nós estarmos vendo o STF, que deveria ser o guardião da nossa Constituição, estar literalmente rasgando a mesma”, afirmou o sacripanta, desconhecendo que as decisões do magistrado foram amparadas na Constituição e respaldadas pela maioria dos ministros da Suprema Corte.
“Em algumas ações ele é vítima, ele é autor, ele é testemunha, e isso é totalmente incorreto. Qualquer pessoa que nem precisa ser advogado compreende que isso não está correto. E os juristas, os constitucionalistas já estão se levantando, e os ministros do Supremo a mesma coisa. E eu espero que ele comece a rever essa posição extrema dele”.
Que juristas, que constitucionalistas? Ah, sim, aqueles atrelados ao bolsonarismo golpista.
Prosseguiu o capacho da Casa Branca:
“O Supremo, temos de lembrar, boa parte dele hoje tem funcionado para uma finalidade: perseguir a oposição, perseguir os políticos que têm se oposto ao atual governo. O que é muito ruim. E as medidas que foram tomadas pelos EUA estão corretas. Estamos aqui nos aproximando cada vez mais do que aconteça numa Venezuela, infelizmente. Então, muito triste, condeno totalmente essa postura do ministro e espero que haja uma reavaliação, uma adequação àquilo que está muito claro na Constituição”.
Na ânsia obsessiva de agradar os bolsonaristas, Zema já se tornou um deles, fervoroso na defesa da pauta golpista, portanto, sem autoridade para falar em perseguição à oposição. Alias, sobre isso, os golpistas, sim, perseguiram o ministro Moraes, a ponto de terem organizado um plano para matá-lo, como também o presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin, algo que eles próprios confessaram, embora tentando minimizar o fato para tentarem se safar da cadeia.
Quanto a isso – o plano de assassinar Lula, Alckmin e Moraes, Zema não disse uma só palavra. Conveniência eleitoral, medo de se descolar dos lunáticos bolsonaristas ou um misto disso tudo?
Seja lá o que for, uma afronta a todos mineiros ilustres que lutaram pela independência do Brasil e deram a sua vida para defender a soberania nacional, algo, obviamente, que sequer tangencia as preocupações do atual governador de Minas Gerais, um vira-lata confesso e escrachado.
O QUE ACONTECEU
A decisão de aplicar sanções com base na Lei Magnitsky foi publicada na semana passada pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Departamento do Tesouro (OFAC).
De acordo com o governo Trump, todos os bens do ministro nos EUA foram bloqueados. A sanção também se estende às empresas com eventual vínculo com Moraes. Outra restrição é que cidadãos americanos não podem fazer eventuais negócios com o magistrado. Decisões inócuas, pois, o próprio ministro já fez questão de informar que não se enquadra em nenhuma dessas medidas.
Quanto ao cancelamento de visto para viajar aos EUA, parece também não ter incomodado muito o ministro, visto que, nas palavras de seu colega Flávio Dino, “existem lugares mais aprazíveis para serem visitados”.
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que a sanção é uma resposta à suposta “caça às bruxas” encabeçada pelo ministro. Bessent citou nominalmente Jair Bolsonaro (PL), alvo da ação penal no Supremo por tentativa de golpe de Estado em 2022.
“Alexandre de Moraes assumiu para si o papel de juiz e júri em uma caça às bruxas ilegal contra cidadãos e empresas dos Estados Unidos e do Brasil”, disse Bessent, ignorando deliberadamente que as decisões de Moraes foram confirmadas, quando necessário, pelo colegiado da 1ª Turma ou pelo próprio pleno do STF.
“Moraes é responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos e processos judicializados com motivação política — inclusive contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. A ação de hoje deixa claro que o Tesouro continuará responsabilizando aqueles que ameaçam os interesses dos EUA e as liberdades de nossos cidadãos”, afirma o comunicado.
“Interesses dos EUA”? “Liberdades de nossos cidadãos”?
Que “interesses” são esses, senão aqueles já confessos pelas nossas terras raras e minerais críticos, riquezas que abocanharam, por exemplo, na Ucrânia, cujo governo neonazista vendeu sua alma ao diabo para manter o apoio militar no confronto com a Rússia.
Que “liberdade” é essa, senão a das megacorporações digitais que financiaram a campanha bilionária de Trump, sobre as quais não aceitam qualquer regramento nacional para que possam continuar sendo um território livre às práticas mais deletérias contra a sociedade brasileira e seus cidadãos.
Bem, a mediocridade de Zema já era bem conhecida por outros lamentáveis episódios da política nacional, mas a sua condição de sabujo da Casa Branca agora ficou mais saliente do que nunca.