Enquanto o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), aplaudia a megaoperação policial no Rio de Janeiro que deixou 121 mortos, sua própria polícia tenta explicar o sumiço de mais de 200 armas que deveriam estar sob custódia do Estado.
Zema manifestou apoio ao governador Cláudio Castro (PL) após o massacre nas favelas do Alemão e da Penha. “Foi uma operação extremamente bem planejada e bem sucedida. Venho aqui para reconhecer este trabalho que as forças de segurança do Rio de Janeiro fizeram, mesmo sem apoio do governo federal, que deveria ter tido”, afirmou o mineiro na noite de 30 de outubro, após reunião entre governadores bolsonaristas.
Enquanto elogiava a ação fluminense, a Polícia Civil de Minas Gerais descobria o desaparecimento de cerca de 220 armas de fogo sob guarda da instituição. A descoberta ocorreu quando um suspeito foi flagrado em Contagem portando um armamento que já havia sido apreendido anteriormente.
A checagem revelou que o mesmo artefato constava como confiscado em outra investigação e deveria estar armazenado na 1ª Delegacia do Barreiro, em Belo Horizonte. A verificação do acervo mostrou que outros armamentos também haviam sumido, muitos deles de baixo calibre e considerados obsoletos.
A servidora Vanessa de Lima Figueiredo foi presa sob suspeita de envolvimento no desvio. De acordo com a investigação, ela teria comprado carros de luxo e feito procedimentos estéticos com o dinheiro proveniente da revenda de armas a facções criminosas.
A defesa afirma que a medida cautelar foi “desproporcional”, alegando que “nada de ilícito foi encontrado durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão”.
“A defesa vai pleitear a liberdade provisória da Vanessa, porque entende não haver qualquer indício concreto no inquérito policial, completamente premeditado, que possa ensejar de fato essa prisão preventiva”, declarou o advogado Lucas Furtado.
Ele acrescentou que “os vídeos não mostram nenhum armamento com a servidora”, apenas imagens dela “entrando e saindo com a própria bolsa, em horários fixos de entrada e saída”.
O caso levou à abertura de uma investigação interna da Corregedoria da Polícia Civil, que, segundo o delegado-geral Rômulo Dias, está em “estágio avançado”. Em vídeo, o dirigente afirmou que “a Polícia Civil reforça seu compromisso com a transparência e responsabilidade e o rigor na apuração dos fatos, reafirmando seu compromisso com a preservação da legalidade e da confiança da sociedade”.
Para o Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol), o episódio é consequência direta da ausência de Centrais de Cadeia de Custódia, estruturas previstas no Pacote Anticrime de 2019 que nunca saíram do papel em Minas.
“Essas armas não deveriam estar armazenadas em delegacias. Até hoje a Polícia Civil não liberou a verba para a construção da central, que ficaria sob responsabilidade do Instituto de Criminalística”, criticou o presidente do sindicato, Wemerson Oliveira.
Nem o governo mineiro nem a Polícia Civil se manifestaram sobre as alegações.
Em nota, o Instituto Sou da Paz classificou o desaparecimento de armas em delegacias como duplamente prejudicial:
“Desperdiça o esforço policial de apreensão dessas armas, no qual são empenhados recursos públicos e muitas vezes expõe policiais a riscos, e ainda fornece armas para a criminalidade vitimizar a população”, destacou a entidade.
Segundo o instituto, armas sem vinculação judicial “não têm nenhum motivo para acúmulo em delegacias” e “devem ser encaminhadas para destruição tão logo tenham laudo pericial realizado”.
A nota defende que o Estado invista “na gestão constante dos depósitos existentes, com acompanhamento dos volumes custodiados, protocolos de acesso controlado e segurança física compatível”.











