Único governador do partido “Novo”, empresário sempre discursou por um Estado mínimo e o mais alinhado com o liberalismo
O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), anunciou uma proposta para elevar em quase 300% o seu próprio salário, assim como do vice-governador e dos secretários de Estado.
Na quarta-feira, o PL nº 415/2023 foi apresentado na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, propondo um reajuste com base na inflação acumulada desde 2007. A Mesa da Assembleia assina o projeto. A proposta determina um aumento progressivo ao longo dos próximos 3 anos para os integrantes do alto escalão do governo de Minas. Se aprovado, o PL garante um aumento de 258% nos vencimentos do governador já a partir de 1º de abril deste ano.
“A proposta visa a uma recomposição das perdas decorrentes da inflação acumulada no período, considerando-se o fato de que os valores atualmente pagos estão em vigor desde janeiro de 2007”, diz o texto do projeto.
Segundo o portal de transparência do governo do Estado, o salário de Zema é de R$ 10.500. O PL determina vencimentos de R$ 37.589,96 a partir de 1º de abril; R$ 39.717,69 em fevereiro de 2024; e R$ 41.845,49 em fevereiro de 2025.
O vice-governador Mateus Simões recebe hoje R$ 11.558,33 e pode chegar a R$ 37.660,94 até 2025. Os 12 secretários de Estado têm uma remuneração de R$ 11.648,46 e podem receber R$ 34.774,64 no mesmo período.
A proposta também inclui os secretários adjuntos de Estado, cuja remuneração pode atingir R$ 31.297,18 em 2025.
Os deputados estaduais de oposição questionaram nesta terça-feira (28) o reajuste proposto pelo governador Romeu Zema.
“A gente entende que o salário do governador de fato deveria passar por algum reajuste porque R$ 10 mil é o salário dos prefeitos das menores cidades de Minas, mas é muito importante dizer que é no mínimo imoral o que o governador propõe enquanto faz um discurso de que o estado está falido. Ele próprio está fazendo propaganda do Regime de Recuperação Fiscal (RRF) […] Então, o estado tem dificuldade para atender os servidores, mas não para atender o governador?”, questionou a deputada Lohanna (PV), vice-líder do bloco de oposição, Democracia e Luta.
“O meu posicionamento em relação ao PL 415/2023 de reajuste em quase 300% do salário do governador Romeu Zema é contrária. É muita incoerência um governador que não cansa de dizer que Minas Gerais não tem condições financeiras para pagar o piso da educação, os reajustes dos servidores da saúde e da segurança, para realizar obras nas rodovias, entre outras coisas importantes para Minas Gerais, querer que a Assembleia aprove um absurdo desses. Nós do bloco de oposição votaremos não e vamos dialogar com os outros deputados, inclusive os da base governista, pela rejeição do projeto”, declarou a deputada Leninha (PT), vice-presidente da ALMG.
O projeto vai ser apreciado pelas comissões de Constituição e Justiça e Fiscalização Financeira e Orçamentária. Na sequência, caso não passe por outros grupos, o PL segue para ser apreciado em Plenário pelos demais deputados estaduais.
Eleito ao governo pela 1ª vez em 2018, Zema sempre discursou por um Estado mínimo e o mais alinhado com o liberalismo possível. Reeleito em 2022, inclusive se comprometeu a doar todo seu salário como chefe do Executivo estadual desde o início do seu 1º mandato.
Segundo Zema afirmou no Twitter, o reajuste ajuda o governo a manter as pessoas mais competentes no governo e não perder seus funcionários para a iniciativa privada. O que não justifica um reajuste de 300%.
Na internet, a critica à demagogia de Zema é ampla. Um leitor do ‘Estado de Minas’, lembrou que, em abril de 2022, Zema recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar a recomposição salarial de 14% dos servidores da segurança pública e saúde, e 33,24% da educação. “Para o professor não pode e recorre ao STF, para você pode? Me poupe!”, criticou.
Outra leitora ironizou o governador, falando que ele precisa ir com ‘calma’. “Vai com calma, Zeminha! 300%? O dos professores vai aumentar 300% também ou eles só vão ficar com aumento de migalha?”, indagou.
Para o Sindicato único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE), a proposta deixa explícitas as contradições do governo estadual. “É uma liquidação total o que está acontecendo em Minas Gerais, um desmonte completo da educação como direito. Uma grande vergonha”, criticou a coordenadora-geral do sindicato, Denise Romano.