Importação predatória, na contramão do mundo, desleal e ineficaz, afirmam empresários
O governo zerou a alíquota de importação de 11 produtos a pretexto de combater a inflação, que na era Bolsonaro atingiu o maior patamar em 26 anos. Entre os produtos estão o trigo, carne de boi, carne de frango, trigo, farinha de trigo, milho em grão, bolachas e biscoitos. Também foram reduzidas as alíquotas de vergalhões de aço, ácido sulfúrico e um tipo de fungicida de 10,8% para 4%, pelo prazo de até 31 de dezembro de 2022.
Como das outras vezes, as medidas de Bolsonaro de reduzir tarifas não tiveram efeito sobre os preços que continuaram subindo. As medidas só beneficiaram os produtores e emprego no exterior em detrimento da produção e dos trabalhadores brasileiros.
Conforme declarou, ao anunciar as medidas, Marcelo Guaranys, secretário-executivo do Ministério de Paulo Guedes, grande defensor do escancaramento do país aos produtos estrangeiros, “essas medidas não revertem inflação, mas empresários pensam duas vezes antes de aumentar preços”. Uma sutil ameaça aos empresários que enfrentam, além dos insumos em dólar, o aumento nas tarifas de energia, dos combustíveis e dos juros altos, tudo com aval de Bolsonaro.
Em março, o governo Bolsonaro zerou o imposto de importação do etanol e de seis produtos da cesta básica – óleo de soja, café, margarina, macarrão, queijo e açúcar – para tentar conter a inflação. Os preços dispararam e o tradicional cafezinho virou artigo de luxo no Brasil. O café moído teve uma alta acumulada em doze meses até abril de 67,53%! O etanol acumula alta de 42,11%. A inflação (IPCA) acumulada em 12 meses é de 12,13%.
“AMEAÇA AO SETOR LEITEIRO“
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) está pedindo apoio de deputados e senadores ligados ao agronegócio para que atuem junto ao governo federal no sentido de revogar a isenção tarifária para importação do queijo muçarela de fora do Mercosul.
“É uma ameaça ao setor leiteiro diante da crise vivida do momento. O produtor enfrenta custos elevados e a demanda está estagnada. Sem falar na concorrência injusta, inoportuna e desleal que nossos produtores teriam com países de fora do Mercosul que aplicam subsídios pesados”, declarou o assessor técnico da Comissão de Pecuária de Leite da CNA, Guilherme Dias, sobre a retirada da alíquota de 28% da Tarifa Externa Comum (TEC) que prejudica o setor no Brasil.
As novas medidas foram anunciadas na quarta-feira (11) e gerou reação de empresários.
O presidente-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, avaliou que a decisão do governo tende a ter efeito prático nulo no preço dos produtos. Segundo ele, o preço dos itens importados também estão mais caros e avançou, em média, 34% em abril deste ano.
“Se você reduz em 10%, vai reduzir pouco sobre o preço total do produto. Matematicamente, não acontece nada. Ninguém vai importar um produto pela diferença, que é pequena. A inflação tem muito mais força do que essa decisão política”, disse Castro, citando o dólar está cada vez mais caro e os custos, como o frete, também elevados. Esses fatores anulam a redução de tarifas, avalia.
O Instituto Aço Brasil divulgou um comunicado em que afirma que a redução da tarifa de importação do vergalhão para 4% é “inadequada, uma vez que o mercado se encontra plenamente abastecido e o impacto inflacionário do vergalhão é de apenas 0,03 ponto percentual no IPCA”.
“É inadequada, ainda, porque está na contramão da política adotada pelos principais países produtores de aço, que, face ao gigantesco excesso de capacidade instalada no mundo, da ordem de 518 milhões de toneladas, tem adotado medidas de restrição à importação predatória. O Brasil, ao contrário, ao reduzir o imposto de importação facilitará ainda mais o desvio de comércio para o país. O mercado, soberano, responderá pelo impacto da medida”, diz o Instituto Aço Brasil.
Para a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o governo federal precisa encontrar solução para as “altas superiores a 100% do milho e do farelo de soja (que representam 70% dos custos de produção), além de outros insumos como diesel, embalagens de plástico e papelão, entre outros”.
Segundo a entidade, “estas, sim, são as verdadeiras causas das altas dos preços dos produtos e que demandam ações imediatas por parte do Governo”.