O governo do Zimbábue anunciou o falecimento do ex-presidente e líder da luta pela libertação e independência do país, Robert Mugabe, declarando-o “Herói Nacional”.
O presidente, que o sucedeu, Emmerson Mnangagwa, interrompeu uma viagem à África do Sul, no dia 6, ao saber da morte de Mugabe, que estava em tratamento em um hospital de Singapura.
Antes de sua declaração, o partido Zanu-PF, que governa o país e ao qual Mugabe pertencia, já havia afirmado seu status de “Herói Nacional que conquistou e é merecedor por sua luta e realizações”.
O presidente, em declaração desde o palácio de governo na capital Harare, decretou de luto o país até a chegada do corpo de Mugabe e seu enterro.
“Um veterano patriota e dedicado combatente pan-africano, o comandante Mugabe deixa um legado rico e indelével de adesão tenaz aos princípios dos direitos coletivos da África e dos africanos em geral e, em particular, do povo do Zimbábue ao qual dedicou tudo para ver livre”, declarou o presidente.
Mnangagwa descreveu sua trajetória afirmando que “ele fundiu diferentes fases e mudanças na história de nossa luta nacional e busca da liberdade e independência com a formação de nosso Estado incluindo tragédias, dores e rigores que acompanham esta épica trajetória”.
Lembrou que ele “padeceu 11 anos de encarceramento na prisão colonial ao lado de companheiros de combate, a exemplo do pai do Zimbábue, o falecido Joshua Nkomo, decidido a não se curvar às pressões”.
Mugabe conseguiu escapar da antiga Rodésia em 1974 e do exterior dirigiu a retomada da luta de libertação “superando recuos e reveses”.
Segundo a declaração governamental do Zimbábue, Mugabe liderou a formação da Frente Patriótica “que desenvolveu uma dura luta na região sul da África.
“Um grande professor e mentor, a amargura de longos períodos em prisões e a angústia de uma guerra brutal e amarga não foram capazes de extinguir a humanidade inerente ao comandante Mugabe”, disse ainda o presidente atual.
Para ele, a construção de um Estado multicultural e de conciliação nacional com base na capacidade de entendimento e perdão, contribuiu decisivamente para uma mudança, para uma harmonia multirracial que foi replicada em toda a região e além dela.
Durante seu governo, Mugabe cumpriu as promessas da frente que comandou, entre elas a de devolução das terras assaltadas aos nativos da região que se tornaria o Zimbábue pela colonização europeia. “Por isso ele foi vilificado, desqualificado e punido por aqueles dos quais libertara o país do colonialismo e por sua decisão de afirmar os direitos africanos”.
Somente entre os anos 2.000 a 2.015, no ambicioso programa de Reforma Agrária, distribui terras retomadas de parte das posses de 4.000 descendentes de colonizadores e as distribuiu a 300.000 camponeses e seus familiares.
Foi por isso que a punição a ele, se estendeu ao país com as mais duras sanções econômicas, incluindo um inclemente bloqueio. Medidas que impuseram ao Zimbábue um período de grave dificuldade econômica, incluindo uma elevada taxa inflacionárias.
Lideranças dos mais diversos setores sociais do Zimbábue destacaram a contribuição de Mugabe, assim como o fizeram líderes africanos e de diversas partes do mundo.
Ente eles, destacou-se o general Comandante das Forças de Defesa do Zimbábue, o general Philip Valerio Sibanda, que esteve no comando de um levante que depôs Mugabe.
Naqueles dias de enorme tensão, os sublevados cercaram o palácio presidencial e propuseram ao partido e ao Congresso a sua substituição, uma vez que ele estava cercado de pessoas que cometiam “erros e infrações destrutivas para o país”.
O general liderou uma ação que foi denominada de “Operação pela Restauração da Legalidade” e que determinou o fim do governo de Mugabe, após 37 anos à frente do país, em novembro de 2018.
Foi uma operação que, segundo esclareceu o general, “tinha como alvo pessoas que, em torno do presidente Mugabe cometeram crimes que estavam causando sofrimento social e econômico”.
O comandante Phillip Valerio enfatizou que “os acontecimentos destes dias não devem ser usados para nublar todo o bem que ele fez à Nação” e acrescentou que, em seu nome, as Forças de Defesa do Zimbáabue enviaram uma mensagem de condolências aos familiares de Mugabe na manhã do dia 6.
“Ele deu sua contribuição para a libertação do país e para tirá-lo das mãos dos colonialistas e conduzir esta Nação à nossa independência de hoje”, disse o general.
Entre os dias 15 e 20 de novembro foi negociada a saída de Mugabe do governo sob a mediação da Igreja Católica tendo à frente o padre Fidelis Mukonori. Por seu lado, o parlamento levou a cabo um processo legal de impeachment do presidente que foi interrompido quando ele próprio apresentou sua renúncia, anunciada pelo presidente da Assembleia Nacional, Jacob Mudenda.
A União Africana, hoje sob a presidência do presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi, destacou que “é com imensa tristeza que soubemos da morte do ex-presidente Robert Mugabe. Estamos de luto junto com os familiares deste combatente da liberdade, um pan-africanista dedicado à libertação do Continente e sua integração regional”.
O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, declarou que “os sul-africanos se juntam ao governo e povo do Zimbábue no luto pela passagem do lutador pela liberdade e líder da causa Africana contra o colonialismo”.
A China também se manifestou através do porta-voz do Ministério do Exterior, Geng Shuang: “Estamos profundamente entristecidos por sua passagem e expressamos nossa sincera dor ao povo do Zimbábue, seu governo e familiares. O comandante Mugabe foi um destacado líder e estadista que defendeu a independência de seu país, opondo-se à interferência estrangeira e que promoveu boa cooperação com a China”.
Acadêmicos e estudantes universitários destacaram a dedicação de Mugabe ao desenvolvimento da Educação no Zimbábue.
Entre eles o vice-reitor da Universidade do Zimbábue, professor Paul Mapfumo, que destacou sua “dedicação ao nosso grande sistema educacional do qual somos orgulhosos enquanto nação. Ele foi vital no estabelecimento deste sistema que inclui o crescimento de universidades e a diversificação das disciplinas”.
O especialista em Direito Constitucional, o catedrático Lovemore Madhuku, destacou que a nação deve saudar as boas coisas que Mugabe foi capaz de trazer em seu tempo.
“Meus país são pessoas humildes da região de Chipinge eles não tinham como bancar pela minha educação universitária. Sob a liderança de Robert Mugabe, o governo de um Zimbábue independente pagou pela minha educação universitária. Minha geração se beneficiou de sua visão”.