Na manhã desta sexta-feira o ex-presidente da África do Sul, Jacob Zuma, compareceu ao Supremo Tribunal de Durban para responder por atos de corrupção. Apesar de ser acusado por centenas de delitos, os mais variados, o processo ao qual atende agora é o de irregularidades cometidas através de contato de compra de armas para o país.
A apoiadores que compareceram ao local, Zuma se dirigiu no idioma zulu para dizer que “é inocente até prova em contrário”.
Dizendo-se vítima de uma “conspiração política”, Zuma afirmou ainda que “a verdade virá à tona”.
Zuma está sendo processado por suspeitas envolvendo um contrato para aquisição de armas firmado nos anos 1990, quando ainda era vice-presidente.
Ele disse ainda a apoiadores do lado de fora do tribunal de Durban que seus adversários estão contando mentiras e que o Judiciário acredita que ele não tem direitos.
Os advogados de Zuma pediram mais tempo para organizar a defesa do ex-presidente e o presidente da Alta Corte de Durban, Themba Sishi, acatou o pedido da defesa e marcou nova audiência para 8 de junho.
Zuma está envolvido em crimes que resultaram em nada menos de 783 processos onde é acusado de corrupção. Quando exercia o cargo de presidente do país, conseguiu paralisar os processos nos tribunais, mas – de acordo com as denúncias – aprofundou a prevaricação.
Relações espúrias com uma família de empresários que imigraram, vindos da Índia, e se estabeleceram na África do Sul em 2007, a família Gupta, geraram uma simbiose de distribuição de riqueza e de luxo de Zuma para os Gupta e vice-versa que escandalizou os sul-africanos.
“CAPTURA DO ESTADO”
A África do Sul, após os anos de luta capitaneados por Nelson Mandela contra o apartheid, estava diante de um processo que foi denominado de “captura do Estado” por interesses dos monopólios e empresas privadas.
Um dos casos de corrupção que mais chocou os sul-africanos está relacionado à utilização de dinheiro público para financiar obras em uma de suas casas particulares.
A “Captura do Estado” foi o título de um relatório publicado ano passado pela promotora de justiça, Thuli Madonsela. De acordo com o documento, as benesses dadas por Zuma às empresas da família Gupta, desviaram dos cofres públicos entre 150 e 200 bilhões de rands (9 a 12 bilhões de euros).
Diversas empresas ligadas aos Gupta receberam concessões e contratos públicos, sobretudo no setor de mineração. São laços tão próximos, que os famíliares dos indianos ganharam o apelido de “Zuptas”.
Tudo isso levou as bases do Congresso Nacional Africano a questionarem sua liderança e a elegerem um outro líder histórico da luta contra o apartheid, Cyril Ramaphosa, para presidir o CNA.
A pressão sobre Zuma se elevou e ele renunciou à Presidência permitindo a posse de Cyril, que foi eleito ao cargo pelo parlamento do país até a realização das próximas eleições.
Os processos estão sendo retomados desde o final do ano passado. Em andamento já vão 16 processos por corrupção, fraude e lavagem de dinheiro.
NATHANIEL BRAIA