É 1º de Maio. Todos os holofotes estão voltados para as lideranças sindicais e para os trabalhadores. Tem uma faixa grande logo na entrada: “Viva o 1º de maio unitário. Democracia, salário, emprego e renda”. Aí, sim, hein? A faixa é bonita, quase feliz.
Pelas palavras de ordem da faixa, os trabalhadores têm aspirações permanentes e atemporais.
Que país é esse? Pela faixa, pode ser rico ou pobre, continental ou pequeno.
Em que época vive? Pela faixa, pode ser qualquer uma, pré-capitalista, da revolução industrial, dos monopólios do imperialismo ou das economias subjugadas e subdesenvolvidas. Os trabalhadores que comemoram o seu dia. Estão nas periferias e nas fábricas, na agricultura ou na informalidade? Não importa. Não importa se vai permanecer tudo como está. O que interessa é fugir da dura realidade, aparentar unidade, com música ao vivo e capricho na plasticidade.
Mas o país há pouco e, por pouco, derrotou nas eleições o fascismo (que permanece como uma grave ameaça). Em quatro anos, o bolsonarismo arrasou a economia. Metade da população se sub-alimenta, trinta e três milhões passam fome. Os trabalhadores formais perderam seus direitos, não conseguem mais se aposentar e os salários são corroídos pela inflação. Os sindicatos estão praticamente proibidos de arrecadar para sua sobrevivência. Esvaziaram a negociação coletiva. O sistema público de saúde está desmantelado, a educação pública é uma lástima. Nas comunidades miseráveis, onde já não existe Estado, são dominadas pelas milícias e pelo tráfico. Uma situação dramática e insuportável. Desmataram as florestas, poluíram os rios. A indústria foi dizimada e o país voltou a ser exportador de minérios e produtos agrícolas e importador de produtos industrializados.
O pensamento predominante, completamente desarrazoado, quase religioso, é a ideia de que os banqueiros, os cartéis, os governos imperialistas e toda corja da humanidade vai financiar e investir no desenvolvimento econômico. Em compensação, basta o país fazer “o dever de casa” direitinho que as comissões “tripartite” (trabalhadores, empresários e governo) vão resolver os problemas de emprego e dos direitos.
Assim, transferiram trilhões de reais nos últimos 20 anos do Tesouro Nacional para o cartel financeiro no pagamento de juros escorchantes que o próprio Banco Central, após consultar os credores, estabeleceu.
Do jeito que está a coisa, ou o país se desenvolve com base no investimento público, da indústria nacional e do fortalecimento do mercado interno, rompe com esse garrote ou volta o Coisa Ruim. Ninguém no país quer voltar a ter um fascista indigente no governo. Isso, hoje, é o sentimento de quase todo mundo. Os trabalhadores e também a grande maioria dos empresários consideram o Coisa Ruim inaceitável
Há uma esperança, uma expectativa do povo, que pode sair do sufoco. A comemoração do 1º de maio é uma grande oportunidade do movimento sindical divulgar, discutir e fortalecer a saída dessa encruzilhada. De soldar uma corrente tão poderosa quanto a Frente Nacional pela Democracia, que venceu o Bolsonaro, agora, contra os juros absurdos que atrofiam o desenvolvimento, a geração de empregos e a retomada do investimento público. O 1º de Maio é um momento especial para denunciar a rapinagem dos banqueiros, para conclamar pela libertação do Brasil. É isso ou é a barbárie”.
CARLOS PEREIRA