O Brasil possui 12,3 milhões de jovens de até 29 anos que não estudam e não trabalham, representando a alarmante cifra de 30% das pessoas nessa faixa etária. Os dados são da consultoria IDados, obtidos até a metade de 2021 e superam a população da Bélgica, de 11,56 milhões no último censo.
A situação, que já era ruim para os jovens brasileiros, se agravou com a pandemia de Covid-19, iniciada em 2020. No ano passado, os números recuaram um pouco, devido à retomada gradual das atividades econômicas e das aulas presenciais. O problema é que desde 2012 o número está em crescimento. Naquela época, o número de pessoas nessa condição eram 25% da faixa etária (ou 10 milhões).
Apesar da pífia recuperação, os números continuam acima do nível pré-covid 19, sendo cerca de 800 mil jovens a mais comparada ao primeiro semestre de 2019. Nesse período o grupo de jovens sem emprego e sem estudar representava 27,9%.
Para piorar o quadro, com a crise econômica, muitos desses jovens tiveram que largar os estudos por falta de recursos. Outro agravante é que, com o mercado de trabalho afetado pela crise, os salários, daqueles que conseguem um emprego é menor do que se estivesse em um momento econômico mais auspicioso.
Consequentemente, os mais jovens são os primeiros a serem penalizados, uma vez que têm menos experiência. Além disso, as empresas preferem garantir a permanência dos profissionais especializados.
Outra questão é que a rescisão de contrato dos trabalhadores mais novos representa um custo menor e as empresas, beneficiadas por políticas de desmantelamento das leis trabalhistas, se aproveitam disso na hora de demitir algum funcionário.
Ana Tereza Pires, que coordenou a pesquisa, aponta que, mesmo para os jovens que concluíram os estudos, não há a garantia de que vão conquistar um posto de trabalho. Todos os anos, novos estudantes concluem os estudos, mas nem sempre entram no mercado laboral. Com isso, o número de desempregados e sem estudar entre esse grupo etário só faz aumentar.
Para a pesquisadora, os dados revelam a incapacidade por parte do Estado de um gerenciamento adequado dos investimentos públicos. “Isso representa uma ineficiência enorme para o Estado, já que muitas dessas pessoas tiveram um investimento público por trás”, critica.
Um dos principais motivos para a situação é a estagnação econômica que o Brasil vive. Entre 2017 e 2019, o produto interno bruto (PIB) cresceu numa média de 1,4% ao ano — resultado muito abaixo da capacidade. “Para empregar todos os jovens que entram no mercado de trabalho o Brasil precisaria crescer, pelo menos, 3% ao ano”, observa. “Estamos ficando definitivamente para trás”, diz o presidente da Trevisan Escola de Negócios, Vandyck Silveira.
Para a FGV Social, a elevação do número de jovens afetados por essa realidade representa perda de produtividade e de capital humano no futuro. O Brasil teve na pandemia o maior contingente da história de pessoas até 29 anos sem estudar e sem trabalhar. Mas esse porcentual deve cair pela metade até o final do século, resultado da demografia.